Dos R$ 106 milhões repassados, R$ 32 milhões não foram liberados e podem ser perdidos
Dois anos após a maior tragédia climática da história do Brasil, causada pelas fortes chuvas que atingiram a Região Serrana, no verão de 2011, matando mais de 900 pessoas e deixando sete mil desabrigados e desalojados, 165 pessoas ainda continuam desaparecidas. As informações foram divulgadas pela Agência Brasil.
Os dados constam da página do Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid), do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), responsável pela localização de pessoas desaparecidas em todo o estado do Rio de Janeiro.
As informações do Plid indicam que foi comunicado ao MP o desaparecimento de 653 pessoas nas principais cidades da Região Serrana após a madrugada do dia 12 de janeiro de 2011. A maioria de Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis, as mais atingidas pela tromba d’água que caiu na região naquela madrugada. Das 653 notificações de desaparecimento, 165 ainda constam da página do Plid como “comunicações em aberto”, ou seja, as notificações de desaparecimento continuam sem solução.
Os dados indicam que 340 pessoas foram localizadas com vida e que 151 resultaram em óbitos, cujos corpos foram encontrados e sepultados. Em entrevista à Agência Brasil, um dos responsáveis pelo Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos, Pedro Borges Mourão, garantiu que o Ministério Público estadual manterá os processos em aberto e que continuará empenhado em localizar os desaparecidos.
Na avaliação de Pedro Borges, o Plid está deixando um legado de informações que, certamente, servirá para trabalhos no futuro. “Os dados da serra envolvem números muito dinâmicos, que mudam a todo instante, daí a atualização automática que é feita pelo próprio sistema”, afirma Borges.
Ele enfatizou que o Plid recebeu, inicialmente, mais de duas mil comunicações, que resultaram na consolidação das 653 efetivamente catalogadas.
O programa tem um banco de dados com cerca de seis mil registros de notificações, dos quais mais de cinco mil são relativas a desaparecimentos, mais de 1,3 mil cadáveres sem identificação e 800 casos já solucionados.
Obras andam devagar, avaliam especialistas
Nos dois anos após a tragédia, quase nada foi feito para recuperar os locais atingidas e diminuir os danos de uma nova catástrofe, na avaliação de especialistas. Em meio à temporada de chuvas, que se estende até março, a recomendação é investir em abrigos e sistemas de alerta.
Após o temporal, o Governo Federal repassou R$ 106 milhões para obras de reconstrução. Pouco mais da metade foi liberada e R$ 47 milhões permanecem empenhados, segundo dados do Ministério da Integração Nacional. Para não perder R$ 32 milhões, o Governo do Estado pretende prorrogar um convênio que termina em março.
Segundo o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, intervenções deveriam ter sido feitas antes do período de chuvas neste verão, que começou em dezembro, como contenção de encostas, dragagem de rios e monitoramento da bacia hidrográfica, para controlar enchentes e diminuir a força das enxurradas. “Até plantio de grama em alguns lugares seria uma medida importante e muito barata”, disse Agostinho.
No relatório, de um ano atrás, o Crea-RJ também sugeria um sistema de monitoramento de dados climáticos e meteorológicos que permitisse ações mais rápidas da Defesa Civil e o consequente menor impacto dos problemas causados pelas chuvas sobre os moradores.
Especialista em situações de risco, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Moacyr Duarte cobra uma divulgação mais rápida dos sistemas hidrológicos e meteorológicos nas áreas de risco nos municípios.
– No manejo de uma pequena cidade, precisamos saber onde a chuva vai se formar e vai cair para concentrar atenção. Isso está melhorando, mas não é suficiente – explica o professor.