Ex-deputado estadual e empresário usaram rede de laranjas para ocultar recebimento e pagamento de vantagens de mais de R$ 18 milhões
O Ministério Público Federal (MPF) ofereceu nova denúncia contra o empresário Mario Peixoto e o ex-deputado estadual Paulo Melo por crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Além deles, foram denunciados Arthur Soares, Vinícius Peixoto, Alessandro de Araújo Duarte, Marcos Guilherme Rodrigues Borges, Iury Melo, Eduardo Pinto Veiga, Fábio Cardoso do Nascimento e Aguido Henrique Almeida da Costa, que atuaram para ajudar a ocultar os pagamentos e origem dos valores.
De acordo com a denúncia, que parte das investigações das operações Cadeia Velha, Quinto do Ouro e Favorito, Mário Peixoto e Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, compraram, em 2015, um apartamento para Paulo Melo em Miami, no valor de US$ 1 milhão, utilizando uma offshore de Peixoto para ocultar o pagamento e a verdadeira propriedade do imóvel. Arthur Soares é foragido e foi denunciado pela participação na compra de votos para que o Rio de Janeiro sediasse a Olimpíada de 2016. Pela persistência na prática de crimes, o MPF pediu em cota a decretação de nova prisão preventiva do empresário. O mandado já foi expedido pela Justiça Federal e será solicitada cooperação internacional com os EUA para cumprimento, bem como a inclusão do nome do empresário na difusão vermelha da Interpol.
Um esquema semelhante foi usado em 2014 para compra da Fazenda Alvorada, no Pará. A aquisição, no valor de R$ 11,2 milhões, foi realizada pela MV Gestão e Consultoria de Ativos Empresariais e Participações Ltda., de Mário Peixoto. Na época da compra, a MV e a Vento Sul Empreendimentos Imobiliários Eireli, de Paulo Melo, se tornaram sócias da MM Agropecuária. Anotações encontradas em busca e apreensão realizada na casa de Fábio Cardoso, operador financeiro de Paulo Melo, comprovam que o real proprietário da fazenda é o ex-deputado, cujos negócios se misturam com os de Mário Peixoto.
As investigações também revelaram que Mário Peixoto e Paulo Melo realizaram uma série de transações fictícias de compra e venda de gado para ocultar o pagamento de vantagens indevidas de R$ 1,5 milhão. As transações partiram da empresa Mauá Agropecuárias Reunidas Ltda, de Paulo Melo, diretamente para Mário Peixoto ou empresas ligadas a ele, como a Atrio-Rio Service Tecnologia e Serviços Ltda.
“Com efeito, as investigações conduzidas pelo Polícia Federal, Ministério Público Federal e Receita Federal demonstraram uma complexa e sofisticada rede de lavagem de capitais, onde dezenas de interpostas pessoas se revezavam à frente de pessoas jurídicas com o intuito de ocultar a figura do capo da organização criminosa: Mário Peixoto”, afirmam na denúncia os procuradores da República que integram a força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro. Vinícius Peixoto, filho de Mário Peixoto, é uma das pessoas que atuavam na lavagem de ativos, e estava em prisão domiciliar devido a suspeita de covid-19. Com a denúncia e passado o período de recuperação, o MPF pediu a decretação da prisão preventiva e o mandado foi cumprido nesta segunda-feira (22).
Esta é a segunda denúncia apresentada pelo MPF a partir da operação Favorito. Na semana passada, Mário Peixoto foi denunciado por lavagem de dinheiro, pertinência a organização criminosa e obstrução à investigação ao operar um esquema que desviou meio bilhão de reais da saúde no Rio de Janeiro por meio de desvios de recursos de contratos do estado com organizações sociais.