Até empresas de energia elétrica ajudam a apontar que número pode estar errado
A maior tragédia climática da história do Brasil, ocorrida na Região Serrana, em 11 de janeiro de 2011 pode ter feito muito mais vítimas fatais do que dizem os números oficiais, que tratam de 905 mortes e de 191 desaparecidos.
Tanto moradores das áreas afetadas, completamente leigos e que só sabem o que vivicenciaram por anos a fio, quanto especialistas concordam que os números oficiais das chuvas daquele negro 12 de janeiro de 2011 não batem. Dados geográficos e populacionais da região mostram que o estrago ceifou bem mais vidas. São perdas documentadas e não documentadas. “Apenas por observação de campo, é possível saber que se perderam muito mais pessoas do que o noticiado”, garante Ana Luíza Coelho, coordenadora do Laboratório de Geohidroecologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que há 40 anos se dedica a estudos de encostas no Brasil.
Um exemplo apontado é o de Campo Grande, distrito de Teresópolis. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na localidade moravam 1.256 pessoas, distribuídas em cerca de 350 casas. Após a tragédia, somente 64 moradias ficaram de pé. O resto foi esmagado por toneladas de pedras e lama, que deslizaram dos morros ao redor.
– Não pode ter tido apenas 142 mortos aqui – afirma Altanir de Souza Rocha, funcionário da Defesa Civil do município de Teresópolis, que trabalhou na tragédia. Moradores da Região Serrana, protagonistas do desastre, são unânimes ao duvidar das listas divulgadas na época. Segundo eles, “morto não faz cadastro e famílias inteiras que morreram não vão ser contadas nunca”.
Outro número que sustenta esta suspeita vem das concessionárias de energia elétrica. André Moragas, diretor de comunicação da Ampla, que atende Teresópolis, Petrópolis e Sumidouro, disse que 8.844 medidores de energia desapareceram na noite de 12 de janeiro de 2011 e os clientes jamais voltaram a contatar a empresa. Em Nova Friburgo, o diretor da Energisa, Marcelo Vinhaes Monteiro, também confirma o desaparecimento de clientes.
Foram 887 unidades consumidoras que deixaram de existir, cujos clientes não voltaram mais. Outras duas mil foram desligadas por solicitação do próprio cliente ou por estarem interditadas pela Defesa Civil. Para Moacyr Duarte, especialista em gerenciamento de riscos, planejamento e catástrofes, o evento na Região Serrana em janeiro de 2011 se assemelhou a um terremoto de grande magnitude ou a um tsunami, pois bairros inteiros foram varridos do mapa por uma grande quantidade de água, que também removeu os corpos de lugar.