Vídeo complica defesa de Dermeval

Gravação foi revelada pela revista Época

A Prefeitura de Nova Friburgo havia recebido R$ 10 milhões do Governo Federal para ações emergenciais e, com parte desses recursos, contratou uma empresa para eliminar as ratazanas e outras pragas. Os roedores, porém, continuariam a disseminar infecções, porque os R$ 400 mil pagos à dedetizadora foram desviados em saques na boca do caixa, entre março e junho de 2011. Por sorte, havia uma espécie de “ratoeira” na agência do Banco do Brasil onde as transações ocorreram. As câmeras de segurança filmaram tudo.

As gravações foram requisitadas, ainda em 2011, pela Procuradoria da República, que, dois anos depois da tragédia, ainda investiga os desvios das verbas. Muito da roubalheira já veio à tona, mas as filmagens permaneciam inéditas até agora. As imagens foram apresentadas à Justiça Federal no mês passado, como peça da denúncia criminal contra um grupo de 20 pessoas envolvidas na fraude. A revista Época obteve, com exclusividade, os vídeos, que mostram dois empresários, donos da dedetizadora, entrando no banco, andando de um lado para outro, esperando atendimento e, finalmente, enchendo uma mochila e envelopes com maços e maços de dinheiro. Os dois estavam acompanhados ora do principal assessor do gabinete da Prefeitura, ora de um amigo de longa data do então prefeito, Dermeval Barboza Moreira Neto (eleito pelo PMDB e hoje no PTdoB).

– As imagens são muito eloquentes. Era muito dinheiro, um monte, que botavam numa espécie de saco sem parar. É algo muito chocante, se pensarmos nas carências do país e no que a população de Nova Friburgo sofria naquele momento – disse o procurador regional da República Rogério Soares do Nascimento. Do total de R$ 10 milhões que Nova Friburgo recebeu do Ministério da Integração Nacional, R$ 3 milhões foram desviados sob o comando do então prefeito, Dermeval Barboza Moreira Neto, acusa o procurador Nascimento. Além dos saques, as garfadas ocorreram por meio de fraudes nas licitações, em pagamentos por serviços não prestados e superfaturamento nos preços em vários tipos de obra: da limpeza das ruas à reconstrução de prédios públicos.

O esquema que culminou nos saques começou a ser tramado um dia depois de a tragédia ocorrer. Ainda havia pessoas à espera de socorro, em 13 de janeiro de 2011, quando o empresário Adão de Paula e seu filho Alan Cardeck Miranda de Paula, respectivamente dono e gerente da empresa Cheinara Dedetilar Imunização, procuraram o então prefeito e ofereceram seus serviços. A contratação foi fraudulenta, com a apresentação de orçamentos falsos em nome de uma empresa que não participava da concorrência. Além do mais, a Cheinara não tinha licença ambiental para operar e sua sede não foi localizada no endereço informado à Prefeitura. Adão de Paula não era uma figura desconhecida do prefeito, pois trabalhara na clínica de repouso Santa Lúcia, da qual Dermeval é sócio cotista. O empresário também não estava longe da política. Na época, ele presidia, com seu filho Alan Cardeck, o diretório municipal do partido nanico PSDC.

Em vez de fazer transferências eletrônicas para pagar a empresa de dedetização, como seria o normal na administração pública, o prefeito Dermeval emitiu cheques em valores altos para que fossem descontados no banco. Segundo a Procuradoria, foi uma forma de desviar os recursos, pois fica difícil rastrear a destinação final de dinheiro vivo. Dois meses após a contratação da Cheinara, começaram os saques na conta da Prefeitura. Às 13 horas e 11 minutos do dia 18 de março de 2011, quando a cidade ainda vivia clima de luto, Adão de Paula entrou no Banco do Brasil. As imagens mostram, a seu lado, Allan Ferreira, amigo do prefeito e filho do gerente de gabinete da Prefeitura, Iran Ferreira. No vídeo, Adão e Allan passam pelos caixas e conversam alguns instantes num canto, antes de se sentarem nas poltronas no centro da agência. Um minuto depois, Alan Cardeck, filho de Adão, se reúne aos dois, trazendo uma mochila preta nas costas.

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