Artigo – Nova Friburgo: da Colônia ao estrelato, por Celso Frauches

Nova Friburgo
Nova Friburgo

Nova Friburgo surge no cenário da antiga Província do Rio de Janeiro mediante decreto de D. João VI, ao criar a Colônia Nova Friburgo, na Fazenda do Morro Queimado, em território de Cantagalo, em 1818. A Colônia fora criada para receber duzentas famílias do Cantão de Fribourg, Suíça.

Evento de comemoração dos 200 anos da imigração suíça a Nova Friburgo, que aconteceu em 2019
Evento de comemoração dos 200 anos da imigração suíça a Nova Friburgo, que aconteceu em 2019

Segundo Martin Nicoulin, em A gênese de Nova Friburgo – Emigração e Colonização Suíça no Brasil (Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1995, p. 34/35), “penúria e fome grassaram na Suíça entre 1816/1817, especialmente, no Cantão de Fribourg, onde o aumento do custo de vida provocou a fome. A consequência dessa situação desastrosa não se fez esperar. Milhares de suíços desertaram a pátria que não conseguia lhes oferecer, apesar do esforço, o pão de cada dia”.

Sébastien-Nicolas Gachet, como emissário do governo de Fribourg, veio ao Brasil com a missão de propor a D. João VI a vinda de uma leva de emigrantes suíços para o Brasil. Chegou ao Rio de Janeiro em outubro de 1817.

O Tratado da Colonização foi firmado por D. João VI e o representante de Fribourg. Esse documento diplomático prevê a condições para o nascimento de uma cidade, no distrito de Cantagalo, na Província do Rio de Janeiro que “Sua Majestade, por um efeito de sua bondade, dá-lhe o nome de Nova Friburgo”.

Celso Frauches
Celso Frauches

Nicoulin registra em seu livro que Nova Friburgo não foi fundada “por suíços livres, mas ao contrário, por aqueles que a sociedade helvética não queria assimilar. Não é à liberdade, mas a uma operação policial que Nova Friburgo deve sua existência” (p. 59). Alguns protestantes são admitidos para a nova colônia, contrariando o tratado que somente previa “católicos apostólicos romanos” (p. 93).

Assim nasceu Nova Friburgo, a metrópole da nossa região, dos moradores em Cantagalo, Macuco, Cordeiro, Duas Barras, Bom Jardim.

O patriarca de minha família – Jean Abram Frauche, registrado como João Abrom Frauche – era um dos imigrantes suíços, com dezessete anos de idade e sem profissão. Um daqueles que “a sociedade helvética não queria assimilar”. Migrou para Cantagalo, em 1821, onde se casou com a também imigrante, Anne Marie Lugon-Moulin, conforme relata Henrique Bon, médico, pesquisador e escritor cantagalense, no seu enciclopédico livro “Imigrantes – A saga de primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da independência” (Nova Friburgo, RJ: Imagem Virtual, 2004, p. 449).

Nas décadas de 40 e 50, Nova Friburgo exercia enorme fascínio para os habitantes de Bom Jardim, Cantagalo, Duas Barras e Cordeiro, entre outros municípios da região. Nasci em Cantagalo, no longínquo ano de 1936, e, como todo jovem, tinha Friburgo, como nós chamávamos Nova Friburgo, como a nossa metrópole, onde podíamos assistir a um bom filme, a peças de teatro e boas partidas de futebol pelo campeonato regional, com o Friburgo, o Esperança e o Serrano, os principais. Cantagalo participava, com o Cantagalo EC e o Flamenguinho FC, este o meu time, embora fosse torcedor do Fluminense. Isso nos tempos do futebol amador. Após a profissionalização, o encanto acabou.

Registros da época exaltaram o time de Nova Friburgo: melhor “sparring” para a seleção brasileira
Registros da época exaltaram o time de Nova Friburgo: melhor “sparring” para a seleção brasileira

Em 1946, minha mãe, Telva, teve que fazer uma cirurgia da vesícula, em Nova Friburgo, penso que com o médico Mário Sertã ou outro profissional por ele indicado. Nessa época, morávamos no distrito de São Sebastião do Paraíba, em Cantagalo. Quando meu pai, Henrique, foi buscá-la eu o acompanhei, então com dez anos. Antes de retornarmos, fomos assistir a uma apresentação do cantor Vicente Celestino, à época, fazendo sucesso com Mia Gioconda, por causa dos temas gerados pela 2ª guerra mundial, O Ébrio, O Luar do Sertão e outras canções.

Em 1954, a seleção brasileira de futebol fez alguns treinos em Nova Friburgo, no aniversário da cidade, com a seleção de Nova Friburgo. Eu fiquei esses dias em nossa “metrópole”. Penso que foram três partidas e a seleção friburguense chegou a vencer uma delas.

Nova Friburgo, de uma simples colônia, transformou-se em nossa metrópole. Um extraordinário centro turístico, comercial, industrial e de serviços, com instituições de ensino superior (IES), movimentos culturais e sociais de relevo em nossa região. A “capital” do Centro-Norte Fluminense. E Cantagalo? Ah, isso é assunto para outro artigo.

Celso da Costa Frauches é professor, escritor, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor especialista em legislação

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