Jornal de Cantagalo editado no fim do Império foi apreendido na República

O trabalho do jornalista Álvaro Lutterback, que fez um levantamento em semanários do município, num recorte temporal compreendido entre os anos de 1850 a 1900, por ter visto, nesse período, um manancial de informações que poderiam retratar os costumes, os modos de viver e de fazer política, numa época em que a região desfrutava do apogeu das lavouras de café.

Lutterback iniciou as suas pesquisas em dezembro de 2010 com a consulta em materiais impressos visando a elaboração de um projeto que atendesse às exigências do Edital 009, da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, cujo conteúdo abordava a ‘Memória da Imprensa Fluminense’. O objetivo era incentivar o levantamento, a investigação e a produção de trabalhos originais sobre os periódicos publicados no estado do Rio de Janeiro.

Sob o título  ‘O Conservador x Voto Livre: a imprensa que fez história em Cantagalo’, a pesquisa foi realizada no Rio de Janeiro e em Cantagalo. “Foram mais de 40 idas à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, outras tantas à Biblioteca Municipal de Cantagalo, inúmeras visitas a diferentes fazendas da região, além de entrevistas com pesquisadores e historiadores”, relata o jornalista Álvaro Lutterback.

A região de Cantagalo, nessa época estudada, tinha uma grande importância no contexto econômico do Império. Em 1860, havia mais de 200 propriedades fazendeiras no local, sendo quase a totalidade cafeeiras, fazendo com que o eixo gravitacional da produção fluminense de café se deslocasse do setor ocidental da bacia do Paraíba (onde se destacava Vila de Vassouras), para o setor oriental, no qual Cantagalo era responsável por mais de 60% da colheita de café, gerando riqueza, luxo, além de belas fazendas e intenso tráfico de escravos.

Neste sentido, os periódicos que pelo município circularam, nesses 50 anos, testemunharam e registraram a dinâmica de uma região num momento marcado pelo fim da escravidão e pela proclamação da República.

O esforço do pesquisador  forma um amplo painel e comprova o papel que a imprensa constitui como fonte privilegiada para o estudo da história, pois, com base em seus registros, vestígios e fontes, expõe momentos do glamour e da crise, da abundância e da escassez de um período, nos quais assuntos relevantes, como o tráfico e a escravidão, foram discutidos na arena pública.

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