O sistema

Quanto à repercussão que a condenação dos “mensaleiros” teve, neste momento gostaria de destacar o que pouco está sendo debatido: a disparidade da justiça entre ricos e pobres no Brasil. O sistema penal tem uma clientela bem definida: pessoas de menor potencial aquisitivo, vindos das comunidades carentes. O que acontece é que temos um sistema que escolheu essa camada da população para agir, principalmente pela sua fragilidade, já que não detém poder econômico e político para influenciar nas “regras do jogo”.

Quando dizemos o sistema, devemos entender “sistema” na forma literal da palavra, já que a Justiça é formada por juízes, policiais, advogados, políticos, promotores, serventuários e, até mesmo, os legisladores, quando escolhem as condutas que são crimes e as formas de penalização. Engano pensar que aquelas autoridades agem de maneira diferente quando cuidam do caso de um rico ou de um pobre. Na verdade, o sistema atua como se tivesse vida própria, como se fosse uma força sobrenatural a agir.

Isto pode ser comprovado de forma nítida quando vemos o caso dos “mensaleiros”. Quantos recursos tiveram direito antes de serem efetivamente presos? Por acaso, vimos um mensaleiro ser algemado? Mas é este mesmo sistema, que falamos a pouco, que escolhe para quem a lei serve. Este sistema que causa a desigualdade, em que milhares de criminosos de colarinho branco estão soltos, agindo e influenciando em todas as camadas do poder, e vez ou outra, para dar uma sensação de “ordem”, alguns são escolhidos para serem condenados, para que nós, povo, possamos achar que está tudo muito bem, quando na verdade não está.

É preciso que haja mudanças, mas esta não acontecerá de cima para baixo. É preciso que cada um de nós mude nossa própria forma de ver o mundo. Enquanto virmos um cidadão na rua e desconfiarmos de seu caráter tão somente por sua cor, por sua roupa ou pelo lugar de onde vive, seremos um agente do sistema, contribuindo para a perpetuidade da injustiça, da corrupção e da desigualdade.

Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em autosacrifício, então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.

*Plínio Teixeira de Araújo é servidor da Prefeitura de Cordeiro.

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