Nós gostaríamos de dissertar sobre todas as águas, todos os rios e córregos que correm no município de Cantagalo, mas, para que, se, no fim, falaríamos sobre o já morto Córrego São Pedro, afluente do, também já morto, Córrego Lavrinhas. Culpa nossa, dos assassinos que somos, o pior dos assassinos, quando matamos aquilo que nos dá vida. Jamais nos poderemos esquecer aquelas águas tão cheias de vida, tão límpidas do São Pedro, que nos servia a todos, que corta todo o Centro da cidade de Cantagalo. E, hoje, é um esgoto a céu aberto, tão imundo, podre, fétido. O mesmo acontece com o Lavrinhas. Transmissores de doenças, de epidemias, de dengue, dos doentes que nos tornamos.
Hoje, fala-se muito, redige-se muito que a queima de resíduos tóxicos pelas fábricas de cimento é a causa de alguns dos males que nos afligem. Não duvidamos, mas queríamos que esse mesmo médico e ambientalistas brigassem também pela despoluição das águas desses córregos. Vamos saneá-las, vamos colher amostras dos gases próximos àqueles córregos, pois aquelas águas, mesmo que poucas, também evaporam e jogam na atmosfera aqueles resíduos podres que correm em seu leito. Vamos examinar os moradores que por ali residem. Vamos analisar os custos do nosso descaso para conosco mesmos.
A política é a ciência das relações humanas e, dessa forma, as dificuldades podem ser sanadas em prol da saúde pública, que é muito mais que doar remédios, ambulâncias; muito mais que um consultório médico ou mesmo um hospital; é saneamento, é ver nossos rios e córregos piscosos, é o prazer de se respirar um ar puro; é aí que mora a saúde e esta não tem preço, temos de cuidar desse nosso universo, que é este pedacinho de terra que, se saneado, seria o melhor lugar do mundo, mas como está…
Sabemos que este não é um problema apenas do município de Cantagalo, é praticamente da maioria dos municípios brasileiros, mas só que, neste nosso município, o córrego que recebe os esgotos tem o seu espelho d’água em, aproximadamente, três metros de largura por uns dez centímetros de profundidade e, durante as estiagens, que é o momento, reduz, pela metade. É muito pouco em função da quantidade de esgoto que é despejada em seu leito.
A água só é vida quando pura, quando potável. Do jeito que está naqueles córregos, preferível não. Se não há uma política favorável ao saneamento, então vamos capear, se bem que, boa parte do São Pedro já se encontra capeado pelas construções irregulares. Vamos manilhar, vamos tratar aqueles córregos como eles realmente são: esgoto a céu aberto. O que não tem remédio, remediado está. Vamos esconder de nossa paisagem aquela vergonha.
Artigos iguais a este nós já escrevemos muitos, mas é sempre bom retomar os escritos, esquecemos de tudo muito facilmente.
*Plínio Teixeira de Araújo é servidor da Prefeitura de Cordeiro.