A manifestação que resultou na morte de um profissional da imprensa brasileira, o cinegrafista Santiago Andrade, foi enaltecida pelas mídias nacional e mundial. Porém, se fosse um policial e não um cinegrafista que tivesse falecido no episódio, esta não teria a repercussão que teve. O policial faz parte de um grupo de risco e o cinegrafista, não.
O caso Santiago nos trouxe à lembrança Tim Lopes, repórter da Globo, que também foi brutalmente assassinado e que teve uma repercussão ainda maior. Esses dois fatos nos mostram o poder da mídia, o quarto poder, que, quando atingido, mostra a sua força: o tanto de imagens de várias câmeras, de vários ângulos; o tanto de entrevistas com delegado de polícia, peritos e familiares da vítima; o tanto de cobrança das autoridades e, se você não formos cuidadosos, nos fazem odiar o oprimido e amar o opressor.
Concordamos que o ato praticado pelos manifestantes presos é reprovável e nefasto, porém, o povo não pode aceitar esta pressão midiática e, inclusive, governamental, ao ponto de acreditar que toda manifestação é violenta e, por este motivo, deveriam ser proibidas. Como diz o ditado, toda generalização é burra, de modo que, dentre os manifestantes, existirão tanto os idealistas pacíficos quanto os violentos. Assim como dentre os policiais também existirão os violentos ou corruptos e os soldados honrados da guerra diária contra a criminalidade.
Nossos governantes, afundados em escândalos em ano de eleições, concedem o aumento em R$ 0,30 em algum serviço público utilizado em grande escala pelas classes menos favorecidas. Sabem o que vai dar nisso? Manifestações! Ninguém mais vai se lembrar dos escândalos políticos e ainda elegerão um mártir como pano de fundo. Não que a vida do cinegrafista não tenha nenhum valor, pelo contrário, a vida de todos tem valor.
As manifestações são importantes, são uma expressão social de um povo que sofre, que procura mudar algo muito errado em nossa política. Os manifestantes, porém, têm consciência de que os protestos pacíficos ou medidas meramente formais acabam sendo, na maioria das vezes, aniquilados e amortizados pelo sistema corrupto orgânico, que envolve todas as esferas de poder.
*Plínio Teixeira de Araújo é servidor da Prefeitura de Cordeiro.