Atleta de Duas Barras, Arouca sofre racismo em São Paulo

Jogador divulga nota e diz que “já passou”

A palavra macaco pode ser ouvida claramente por quem assistia o jogo Mogi Mirim 2×5 Santos, no estádio ou em casa, pela televisão, pelo Campeonato Paulista, no último dia 6 de março. E as palavras foram claramente direcionadas ao jogador Arouca, negro. Consciência? Infelizmente, não é para onde os indícios apontam. O meio-campista, nascido em Duas Barras, em resposta, reafirmou seu orgulho pela cor em vídeo divulgado pelo clube na internet.

Esta semana, o atleta bibarrense encerrou o caso ao afirmar que “isso já passou”. O caso, porém, está sendo analisado pelo procurador-geral do Tribunal de Justiça Desportiva, Antônio Carlos Mecchia. Existe a possibilidade de multa, jogos com portões fechados, perda de pontos e até eliminação para o Mogi Mirim, dono do estádio Romildão. Antes, porém, Arouca já havia até divulgado nota oficial por meio de sua assessoria de imprensa em repúdio à atitude, atribuída a três torcedores do time do interior paulista por radialistas presentes.

O jogador chegou a receber apoio de vários atletas e até da presidente Dilma Rousseff, por meio do perfil no Twitter. Em seu comunicado, o futebolista lamenta o fato e lembrou outros casos recentes no futebol, uma com o jogador Tinga, do Internacional, e com um juiz no Rio Grande do Sul. Confira, abaixo, a nota de Arouca na íntegra:

“Na saída do jogo desta quinta-feira, contra o Mogi Mirim, fui alvo de insultos racistas de um torcedor do time adversário. É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse tipo de coisa hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem muito a evoluir e a crescer, que não estamos nem perto de um mundo que viva a harmonia entre as pessoas e todas as suas diferenças. 

Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros. Não ouvi os gritos de ‘macaco’ que alguns repórteres disseram ouvir, mas, caso tenha realmente acontecido, é ainda mais triste.

Eu sei muito bem de onde venho e de toda a minha luta para chegar aonde cheguei. Por isso, sentir na pele o que aconteceu comigo hoje – logo depois do que fizeram com o Tinga outro dia e também do caso do juiz no Rio Grande do Sul – me deixa muito decepcionado. Acabou com a alegria pela boa atuação do nosso time, pelo belo gol que fiz, ou seja, pelo que deveria ser a essência do esporte.

O futebol é um espelho da nossa realidade, e isso não se resume apenas a xingamentos racistas. Continuam matando e morrendo por torcerem por um time diferente do outro. Espero, sinceramente, que casos como esse sejam severamente punidos, pois, enquanto isso não acontecer, nada vai mudar. A impunidade e a conivência das autoridades com as pessoas que fazem esse tipo de coisa são tão graves quanto os próprios atos em si. Somente discursos e promessas não resolvem a falta de educação e de humanidade de alguns.”

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