As três homônimas ficam em três diferentes estados: Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná
O Brasil é um país de uma enorme dimensão territorial, isto é fato inquestionável. Trata-se de uma nação cuja área é muito maior do que vários dos mais famosos países europeus, como França, Itália, Espanha, Alemanha e Portugal. Isto só para citar alguns exemplos. Sendo assim, não é difícil encontrar no espaço territorial brasileiro lugares e cidades com nomes semelhantes ou iguais. Esta é a situação que ocorre com a conhecida Cantagalo, cidade localizada no interior do estado do Rio de Janeiro. O nome desse fato é homonímia, e é algo como se fossem irmãos gêmeos, mas apenas em suas respectivas designações, uma vez que apenas os nomes são iguais.
Para se ter uma ideia, há três cidades denominadas Cantagalo aqui, no Brasil. Dentre elas a mais antiga é a Cantagalo do estado do Rio de Janeiro, sendo também a que tem população maior do que a das outras. Sem demérito para as outras duas, a Cantagalo do Rio de Janeiro tem mais história, é maior em tamanho e dá mais gostinho estar por aqui, até porque ela está cercada por outras cidades que, não somente estão próximas, mas que, de uma forma ou de outra, participam positivamente de um mesmo cenário, este que é chamado de Região Centro-Norte Fluminense.
Embora os dados populacionais não estejam totalmente atualizados, eles refletem algo bem próximo da realidade e, junto com outros pequenos itens, dão para entender as fáceis diferenças entre essas três cidades, as quais colocam a nossa Cantagalo como inconfundível no que diz respeito às outras:
Município/UF População Emancipação
Cantagalo-RJ 19.759 1814
Cantagalo-PR 13.452 1982
Cantagalo-MG 4.464 1995
E o nome Cantagalo?
Eis um assunto com histórias diferentes para cada Cantagalo. O fato é que, “pequeno ou grande, assim ou assado, o galo canta”. Cada município denominado Cantagalo tem sua história baseada em informações populares para explicar a razão do seu nome. Isto é o que acontece com a Cantagalo paranaense, cuja crença regional afirma que o nome origina-se de um antigo pouso de tropeiros que, nas madrugadas de inverno, ouvia a cantiga uníssona do galo. Mas esta não é a única, há quem diga que o nome veio do fato dos tropeiros cantarem uma melodia chamada ‘Cantiga de Galo’.
A Cantagalo mineira tem uma história diferente, a de que, por volta de 1900, falecera por lá um tropeiro muito alegre e querido por todos, e que ele tinha o apelido de Cantagalo, surgindo daí o nome do lugar.
Para o caso da Cantagalo do Rio de Janeiro, tudo começa em 1767, na elaboração de uma carta geográfica que envolve a região em que hoje se encontra a cidade. Por quase todo o século XVIII, por determinação de cartas régias, a região estava fechada aos europeus com o que se pretendia evitar o contrabando de metais preciosos vindos das Minas Gerais. Mas isto não bastou para que um garimpeiro chamado Manoel Henriques (Mão de Luva) invadisse o território com o objetivo de garimpar ouro sem recolher a quinta parte à Coroa (o imposto).
Mas as autoridades de então não gostaram da atuação dele, de modo que fizeram expedições para capturá-lo, e foi somente na segunda, realizada em 1786, que isto foi possível. Foi a partir dessas expedições ordenadas pelas autoridades coloniais que surgiram documentações dando referência ao sítio conquistado como ‘Córrego do Canta Gallo do descoberto Macacu’, mas sem dar explicações para tal nome.
Mas sempre há alguém com determinação para ir mais adiante, bem como aqueles que, de uma forma ou de outra, sabem da versão que melhor se encaixa. Esta é a que envolve o mineralogista inglês John Mawe, que, em 1809, visitava a região, tendo colhido dos habitantes a versão de que as tropas invasoras, cansadas e desorientadas por infrutíferas buscas, ouvem o canto de um galo, o que os levou à paliçada defendida pelos contraventores.
O café passou por Cantagalo-RJ
No começo de 1814, a busca incessante pelo ouro em terras da região que hoje é Minas Gerais e também de não poucos espaços de terras fluminenses, enfraqueceu não só as buscas, mas, também, o trânsito daqueles tropeiros que eram comumente vistos de um lugar para outro. Isto exige daquelas localidades, que até então se serviam do ouro, pensar noutras formas de sobrevivência. A agricultura foi o primeiro passo, tendo Cantagalo (RJ) investido na lavoura do café por cerca de sete décadas do século XIX, chegando a ser o maior produtor cafeeiro do estado durante essa fase. Atualmente, aqui encontra-se um reconhecido parque cimenteiro do país, o que contribui de forma significativa na economia municipal.
Será que há mais “cantagalos” ainda?
E, para quem pensa que este assunto se encerrou, há um leve engano, pois existem outros quatro lugares chamados de Cantagalo, esses todos situados no estado do Rio de Janeiro. Não são municípios, mas cada um tem sua importância, bem situados e com suas respectivas populações. O primeiro faz parte de um conhecido município turístico fluminense: Rio das Ostras. Ele está dentro do contexto Circuito Eco Rural, onde estão reunidos campo, montanhas, lagos e um “jeito de roça” capaz de encantar a todos, e isto bem pertinho da cidade. É o Cantagalo de Rio das Ostras.
O segundo ponto, também chamado de Cantagalo, tem sua base territorial marcada pela presença de morros, sendo uma localidade dentro da cidade de Niterói, onde habitam mais de oito mil pessoas. Infelizmente, sua ocupação desordenada já atinge até o alto morro chamado de Cantagalo.
O terceiro lugar chamado de Cantagalo está situado em Ipanema, em plena cidade do Rio de Janeiro. Apesar de sua localização, é uma conhecida favela com uma população elevada, tendo a seu lado duas outras que estão localizadas em Copacabana: Pavão e Pavãozinho. Cantagalo é tão famosa que é nome de uma das estações do Metrô, aquela em que fica mais próxima das ruas Miguel Lemos e Xavier da Silveira (em Copacabana), também oferecendo acesso às entradas da comunidade do Cantagalo e das outras duas.
Um lado bom desse espaço carioca conhecido como Cantagalo é a visão que se pode ter lá de cima, algo como sendo de 360º, em que se pode ver o oceano, a Ponta do Arpoador, Ipanema, Leblon, a Pedra da Gávea, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Parque Nacional da Tijuca, o Corcovado, Copacabana e o Pão de Açúcar.
E não é só isso, em Três Rios (RJ), famosa por possuir atrativos turísticos, existe a Capela Nossa Senhora da Piedade, construída no século XIX, localizada no bairro do Cantagalo. Ela é considerada o marco da fundação da cidade de Três Rios. Ali existe uma réplica da imagem “La Pietá”, de Michelangelo.
Destaques
E não é nada demais lembrar o que muitos talvez saibam, que a Cantagalo daqui tem nomes que se destacaram no cenário nacional, como foi o caso de Euclides da Cunha (1866), engenheiro, intelectual, e que ficou conhecido como escritor, tendo uma de suas obras – ‘Os Sertões’ – revelado não somente o seu talento literário, mas, também, como sociólogo. Ele nascera no então conhecido Arraial de Santa Rita do Rio Negro, hoje denominado Euclidelândia, em sua homenagem.
Outro cantagalense que muito orgulha a cidade é Rodolpho Albino, nascido em 1889, que tornou-se importante farmacêutico e pesquisador, tendo seu nome motivo de muitas homenagens, inclusive em Macuco, em que uma das escolas tem o nome dele.