A beleza e a qualidade dos trabalhos realizados pelo artista plástico carmense Luciano Huguenin têm recebido elogios e reconhecimento na região. Nesta entrevista, Luciano fala um pouco de sua trajetória.
JORNAL DA REGIÃO (JR) – Desde quando pinta, e como descobriu este dom?
Luciano Huguenin (LH) – Na realidade, acho que não existe dom, e sim uma pequena predisposição para determinada área. O resultado é conquistado com muito treino e determinação. A ideia de dom sugere que fomos agraciados por uma varinha mágica, gerando um conformismo na maioria das pessoas. Isto é, a pessoa fala que não possui dom para determinada atividade, que não foi beneficiada na infância por um poder sobrenatural, e nunca tenta aprender uma área artística ou esportiva. Eu desenho e pinto desde criança, e fui aprimorando com cursos e treinamento durante toda a vida. Até hoje, estou me desenvolvendo, sendo 1% de inspiração e 99% de transpiração.
JR – Quais os tipos de pintura faz?
LH – Faço também desenhos sobre tela e parede, utilizando lápis crayon e pastel seco. Pinto florais, paisagens, marinhas, cenas internas, naturezas-mortas e figuras humanas em geral, como rostos e caricaturas. Faço pinturas sacras em igrejas com técnica de óleo sobre parede, onde fiz muitos trabalhos em paróquias em Além Paraíba (MG), igreja de Jamapará (Sapucaia-RJ), paróquia de Carmo-RJ e paróquia de Cataguases (MG). Faço também pintura texturizada em massa acrílica usando técnica impressionista.
JR – Qual foi a maior tela que já pintou, e a mais cara?
LH – A maior tela foi o quadro da Santa Ceia, com dois metros de comprimento, realizado em óleo sobre tela. Já em outras superfícies, fiz a pintura sacra de São José, no teto da Paróquia de Além Paraíba, com cinco metros de comprimento por três metros de largura. Com relação a preços dos trabalhos individuais, não lembro mais, porque cobro pelo conjunto das obras quando pinto igrejas. Geralmente, os trabalhos mais caros são as pinturas sacras, por serem maiores, difícil acesso (andaimes) e mais complexos, ficando entre R$ 3 mil e R$ 5 mil.
JR – Quem são seus clientes?
LH – São as igrejas católicas da região, prefeituras e público em geral. A maioria dos quadros é feita sob encomenda, onde muitos professores e turistas gostam dos quadros históricos de Carmo antigo.
JR – Na arte, quem são seus artistas preferidos?
LH – Sendo meu trabalho acadêmico clássico, todos nós, artistas, nos espelhamos nos eternos renascentistas, como Rafael, Leonardo da Vinci, Michelangelo e Caravagio. Saindo do renascimento, admiro muito o pintor excepcional Carl Bloch, um dinamarquês do século XIX com uma técnica primorosa para pintar quadros de Cristo, fazendo parte da ilustração de muitas bíblias católicas. Em nossa época atual, o espanhol Julio Puentes é primoroso para retratar pessoas em desenho a pastel seco. Também admiro o peruano Boris Vallejo em suas pinturas de surrealismo fantástico com técnica realista. No Brasil, temos Nelves como hiperrealista no desenho a lápis grafite. E não posso deixar de citar meu amigo carmense José Fajardo, nascido na Ilha dos Pombos (Light), um dos maiores hiperrealistas do Brasil, que já ilustrou muitas revistas, livros e pintou dezenas de quadros com super apurada técnica do óleo sobre tela. Ele já fez exposição no Salão Nobre do Congresso Nacional, em Brasília. Fajardo trabalha atualmente no Rio de Janeiro.
JR – Você acha que tem sua arte reconhecida em Carmo?
LH – Em Carmo, sim, onde o público sempre prestigia minhas exposições e adquire meus trabalhos. Também já ganhei o primeiro lugar no II Salão de Artes Plásticas de Cordeiro, um concurso realizado com participantes de toda região. Já recebi homenagem do bispo de Leopoldina (MG), Dom Eudes Campos, pelo conjunto da obra sacra realizada nas paróquias de Minas Gerais. Mas ainda falta muito para ser reconhecida no Brasil todo. No momento atual, é muito difícil um reconhecimento para as artes plásticas, onde o artista precisa de um grande empresário, críticos ou um bom marchand para jogá-lo no mercado. É necessário estar no meio. Também o mercado atual prioriza mais a expressão contemporânea de arte, como instalações, isso sem falar nas outras linguagens no mundo da arte, como web design, desenhos animados, vídeos para publicidade, charges, cartoons, quadrinhos, etc. O artista plástico do interior fica tentando descobrir seu espaço, tentando mexer também com essas outras formas de arte.
JR – Qual a sua análise sobre a cultura no município de Carmo?
LH – A cidade de Carmo viveu seu ápice cultural com a vinda da roteirista da Rede Globo Anamaria Nunes, que morou na cidade entre 1993 e 2001. Ela trouxe toda a bagagem cultural do Rio de Janeiro para a nossa terra, formando toda uma geração de novos artistas, em todas as áreas. O grupo cultural de Anamaria Nunes é todo de jovens aspirantes à arte, e também todos os artistas mais velhos. Juntos, nós criamos o Galpão das Artes, um espaço cultural alternativo que oferecia teatro e shows todo final de semana, exposições de arte, oficinas de dança, artes plásticas, curso de dramaturgia, aulas de música, biblioteca e sala de cinema. Paralelamente, existiam ações culturais em outros locais, como musical no Campo do Carmense Atlético Clube e peça teatral no Carmo Country Clube. Também tínhamos um jornal chamado ‘Ultra-Violeta’ para divulgação de nossos projetos e debate sobre a política municipal.
Temos grandes nomes em nosso município (Carmo), como Dito Cruz, Alessandro Curty, Danilo Camargo, Daniele Bastos e Paulo César Perrut no teatro. Como agentes culturais, temos Orleni Torres e Joelson como melhores elaboradores de projetos. Na música, temos o eterno Egberto Gismonti, mesmo sendo genial, não é muito conhecido pelo grande público pelo hermetismo de sua música clássica. Sempre temos muitas bandas sendo formadas por adolescentes, mesclados com músicos mais experientes. Na contação de estórias e projetos para incentivo à leitura, temos a Cristina Goulart, que faz um excelente trabalho com as crianças. Na dança, nossa maior estrela é o bailarino Ronni Maciel, trabalhando atualmente na Alemanha. Com projetos de danças para crianças, temos Jorginho Tatagiba. Em dança contemporânea, temos o carmense Sandro Soares, que atua na Região Serrana. No saxofone, Wendel Carvalhaes é nosso melhor instrumentista. No violão e composição, temos Lucília Huguenin e Marcos Dias como grandes talentos nas cordas. Na guitarra, o maior virtuoso é o Joílson Gomes, sendo que também o adolescente Matheus Huguenin está em grande ascensão.
No grafite em muros, temos David, que também faz tatuagens. O artesanato sempre expõe seus trabalhos numa loja na praça, O ‘Espaço dos Artesãos’, patrocinado pela Prefeitura de Carmo. Na arte contemporânea, temos a artista plástica Lê Borges, que faz expressionismo abstrato, a denominada “action painting”. Enfim, Carmo é um celeiro de artistas que sempre lutam para mostrarem seus trabalho.