Com a morte de Edmo Rodrigues Lutterbach, em 26 de setembro último, Cantagalo perdeu um dos seus mais ilustres filhos. Nascido na Fazenda Mont Vernon, do avô Alexandre Rodrigues, em 12 de outubro de 1931, e tendo vivido toda a infância e adolescência na Fazenda da Saudade (berço de Euclides da Cunha), ele veio ao mundo para desfraldar duas grandes bandeiras: a da genialidade do notável conterrâneo e a da grandeza de Cantagalo.
Relativamente ao primeiro aspecto, podemos dizer, com José Cândido de Carvalho, que ele “nasceu para escrever sobre Euclides da Cunha, como Paganini para tocar violino”. Talvez, pelo fato de haver formado a personalidade respirando os mesmos ares e contemplando os mesmos horizontes que o garoto Euclides vivenciou nos três primeiros anos de vida, Edmo deixou-se levar por uma profunda admiração pelo grande escritor. Cedo, já havia até lido suas obras principais, em que pese o estilo grandiloquente e um tanto rebarbativo do autor de ‘Os Sertões’. E, depois de adulto, já acadêmico de Direito, veio a se projetar como um dos maiores euclidianistas do seu tempo. Passou a fazer conferências sobre o tema nos mais diversos meios culturais do País, bem como a escrever artigos e impor-se como profundo conhecedor do assunto, inclusive levando a empresa de cimento Mauá a erguer um monumento ao famoso estilista na Fazenda da Saudade, hoje propriedade dela (Mauá).
Reunindo três de suas principais conferências (“Euclides da Cunha e os 80 anos de Os Sertões”, “Euclides, cérebro cantagalense”, “Euclides, enfim, no chão em que nasceu”) num livro que bem pode ser apontado como relicário do seu pensamento, deu-lhe o sugestivo nome de “Eternidade de Euclides da Cunha”.
Quanto ao segundo aspecto, ou seja, sua paixão por Cantagalo, ele a demonstrou sobejamente ao longo de toda a vida. Primeiro, ajudando a fundar o Grêmio dos Amigos de Cantagalo, em Niterói, integrando sua primeira diretoria na condição de bibliotecário; segundo, proclamando, orgulhosamente, a sua condição de cantagalense, onde quer que se apresentasse; terceiro, exaltando as glórias de Cantagalo e os nomes de grandes vultos que a cidade produziu; quarto, fundando uma Academia de Letras na própria terra que o viu nascer; e quinto, conduzindo, com acerto e brilhantismo invulgar, na condição de seu presidente quase honorário, a Academia Fluminense de Letras, onde todos o sabiam cantagalense confesso.
Agora, que ele partiu dessa vida e sua voz eloquente se calou para sempre, e sabido que a morte – como ele mesmo disse certa feita – “elimina o corpo mas não extermina o homem”, resta-nos o consolo de ter privado de sua profícua amizade e de poder dar prosseguimento à sua obra, proclamando a perenidade do seu nome nos anais da nossa história, assim como ele próprio apregoou, em alto e bom som, a eternidade do grande Euclides no cenário nacional.
*Clélio Erthal é desembargador federal aposentado, pesquisador e escritor. Autor de livros sobre a história dos municípios de Cantagalo e Bom Jardim.