Por Hugo Moreno
Nesta semana, rememoram-se os 10 anos da catástrofe natural de 2011, a Maior Tragédia Climática da História do Brasil. O evento descortinou as mazelas de uma cidade em crise e inaugurou o período histórico em curso.
A instalação do polo têxtil de capital alemão (1911) constituiu fato histórico do período industrial, perdurante no século XX. À época, tinha-se a Alemanha como o berço da 2ª Revolução Industrial, marcada pelo uso intensivo da tecnologia a partir da energia elétrica, altos índices de produtividade e rígidas disciplina e educação para o trabalho.
A decadência do ciclo do café na porção oriental do Vale do Paraíba (Cantagalo-RJ) fez regressar a demanda por canais de transporte de cargas. Área de sociabilidade da aristocracia rural centro-fluminense, Nova Friburgo era atendida por modal moldado pela mais avançada Engenharia Ferroviária do mundo, a britânica.
A vantagem competitiva auferida pela logística de alta capacidade foi fator preponderante para o estabelecimento das indústrias têxteis. No bojo do parágrafo antepenúltimo, o modelo de Capitalismo Organizado do regime de Berlim pressupunha zonas de expansão para o excedente financeiro, com o fito de produção de bens. A América do Sul mantinha condições favoráveis à pretensa plataforma de exportações por conta do baixo custo do trabalho e da inexistência de mercado de consumo formatado.
O advento das duas grandes guerras reacomodou a correlação internacional de forças. A prevalência das exportações era, progressivamente, suplantada pelo modelo de substituição de importações, consolidado como política econômica pelo governo de Getúlio Vargas (1930-1945). A proteção ao trabalho e a normatização das relações de emprego hão de ser compreendidas como medidas macroeconômicas de consolidação do mercado interno de consumo.
A diversificação do parque industrial local apresentou relação direta com a expansão da indústria nacional da segunda metade do século passado. A criação da CSN (1942) erigiu a estrutura necessária para o desenvolvimento do setor metalúrgico, posto que o inflacionamento dos preços das commodities ao longo da II Guerra Mundial (1939-1945) e as operações de sabotagem perpetradas III Reich nas rotas marítimas de comércio internacional denotavam contingências para a execução da atividade no Hemisfério Sul.
As primeiras plantas metal-mecânicas friburguenses foram beneficiárias diretas do polo do ABC Paulista, da urbanização crescente do país e do crescimento da construção civil. Em termos microeconômicos, trata-se de produção de bens de equipamentos, com uso intensivo de tecnologia e alta especialização de recursos humanos. Neste contexto, data-se do período a construção das grandes unidades de instituições de ensino profissionalizante na cidade.
Ocorre que a baixa do protecionismo, seguida da abertura da economia brasileira ao comércio internacional, tal qual empreendida por Fernando Collor de Mello em 1990, acarretou rearranjo das forças produtivas, dando início à crise friburguense. Fechamento de fábricas, fuga de capitais e desemprego em massa foram as características de um período de queda vertiginosa da renda per capita e da massa salarial e escalada de violência.
Exemplificativamente, em 1995, a taxa de homicídios de Nova Friburgo foi superior às médias estadual e nacional, sendo maior do que as observadas por capitais nordestinas como Fortaleza/CE e Teresina/PI. Para fins de rigor analítico, fatores de natureza microeconômica, assim como o Federalismo emendado de 1891 e a malfadada Guerra Fiscal, preponderaram sobre o processo histórico ora em curso.
Os sucessivos governos municipais foram ineptos na formulação de uma agenda. A cidade permaneceu à deriva de disputas oligárquicas de forças políticas em declínio, interesses eleitoreiros da Frente Popular e das conexões criminosas de governos estaduais notadamente corruptos.
À luz da Teoria da História, a tragédia climática de 2011 deve ser concebida como o fato histórico deflagrador do período contemporâneo. A correta intelecção do processo eleitoral de 2020 aponta para a ruptura com o status quo e as estruturas formais de poder ora instaladas. A retenção de reservas de demanda, a incapacidade de respostas por parte dos sucessivos governos, o sucateamento dos serviços públicos e a corrupção strictu sensu, potencializados pela aguda crise friburguense que se arrasta há três décadas, fulminaram as oligarquias tradicionais, o caudilhismo e o populismo. A geração de 2011 alcançou o poder.
A narrativa da “Ética na Política” e o discurso anti-corrupção e anti-sistema são fins sem meios, uma concepção dialética do maquiavelismo. A formatação e, sobretudo, a execução de uma agenda positiva para a cidade são imperativos categóricos da mensagem direcionada pela população no derradeiro processo eleitoral. Honestidade é um dever de todas as pessoas, não apenas uma virtude. Nova Friburgo precisa de atitude e, principalmente, de ação.
Hugo Moreno
Trabalhador Bancário e Professor
Pós Graduado em História Antiga e Medieval pelo ISB-RJ
Graduado em História pela Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia
Pesquisador de História Política e Social de Nova Friburgo