Auxílio emergencial vira “Dinheiro do Bolsonaro” no interior brasileiro

Bolsonaro e Paulo Guedes
Bolsonaro e Paulo Guedes

Desde o dia 29 de maio de 2020, os trabalhadores brasileiros maiores de 18 anos, sem carteira assinada, autônomos, microempreendedores individuais, desempregados ou contribuintes individuais da Previdência, por exemplo, passaram a receber o Auxílio Emergencial de R$ 600, disponibilizado pelo Governo Federal. O objetivo do benefício é ajudar essa parcela da população a enfrentar os impactos oriundos da pandemia do novo coronavírus.

Um fato curioso em relação a isso foi o surgimento de um “apelido” para o auxílio. No interior do país, uma expressão se tornou popular quando as pessoas passam a chamar esse repasse de “Dinheiro do Bolsonaro”. Se é em filas de bancos, em pequenas mercearias, nas calçadas, não importa, os cidadãos passaram a dizer que o “Dinheiro do Bolsonaro” está contribuindo para o pagamento de contas e compras dos principais mantimentos.

É o caso da lavradora Olinda Barros Vieira, de 38 anos, moradora do município maranhense de Campestre do Maranhão, cidade com população estimada de 14.374 habitantes. “Aqui na minha casa moram sete pessoas e já tem dois meses que eu recebo o auxílio do Bolsonaro. Está me ajudando muito nesse momento de crise. Se não fosse esse benefício eu não saberia nem o que fazer”, afirma.

Essa relação da figura de Bolsonaro com o pagamento do Auxílio Emergencial não é um fato que deve passar desapercebido. Pelo menos é o que acredita o cientista político Paulo Kramer. Na avaliação dele, essa associação representa um fator importante para a figura do político, pois, sua imagem estará sempre atrelada a um programa de transferência de renda que, querendo ou não, foi efetivado em um momento histórico do Brasil em que a população, de fato, precisou desse dinheiro.

Isso é um fator de fidelização do eleitor mais pobre beneficiário desse auxílio em relação ao governo que presta esse tipo de ajuda. Dizem os analistas de opinião pública que foi um fator muito importante na explicação da relativa estabilização na avaliação do presidente que, levando em conta outros eventos da política, perdeu muito apoio de setores que haviam votado nele, mas que o longo do ano passado e sobretudo depois da pandemia, passaram a se afastar dele”, aponta Kramer.

O mesmo ocorre, segundo Paulo Kramer, com a ligação que o Bolsa Família tem com o ex-presidente Lula. Qual brasileiro não associa o nome do programa ao discurso do petista? Para o especialista, isso pode fazer parte do jogo político, mas fato é que programas sociais são marcantes e os reconhecidos responsáveis por eles pode eternizar sua imagem por longas datas, graças ao elo que a população, até mesmo de forma inconsciente, se fez criar.

Enquanto o Brasil for um país marcado por esse extremo nível de desigualdade, tanto regional quanto social, infelizmente vai ser assim. Foi assim com o Bolsa Escola, do governo Fernando Henrique, depois o Bolsa Família, do governo Lula, e agora aquilo que o povo está chamando de dinheiro do Bolsonaro”, pontua Kramer.

O pensamento do professor de Ciências Sociais e Políticas do Ibmec, Ricardo Caichiolo, diverge em partes do que acredita Kramer. Na opinião do educador, é prematuro afirmar que haverá uma ligação entre o Auxílio Emergencial e a figura do presidente Jair Bolsonaro.

Há pouco tempo para que haja essa vinculação. Se fizermos uma comparação com o Bolsa Família, isso se deveu ao fato de ter transcorrido dois governos do ex-presidente Lula e sempre havendo debates e posicionamentos na mídia, que fizeram com que houvesse essa conexão bastante forte entre o chamado Bolsa Família e o ex-presidente Lula”, avalia Caichiolo.

Com relação ao governo Bolsonaro, ainda é bastante recente a questão do auxílio emergencial. Então, há de observar se, de fato, essa associação irá acontecer e perdurar”, completa professor de Ciências Sociais e Políticas do Ibmec.

 

Distribuição do auxílio pelo Brasil
Distribuição do auxílio pelo Brasil

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