Bom Jardim completou, no último dia 5, 128 anos de fundação, ocorrida em 1893, sob as bênçãos da sua padroeira, Nossa Senhora da Conceição.
O município de Bom Jardim tem suas origens em terras de Cantagalo, minha terra natal, e de Nova Friburgo. Antes, todavia, também o território do município de Nova Friburgo integrava a área política e geográfica de Cantagalo. Nova Friburgo foi desmembrado de Cantagalo para abrigar os imigrantes suíços, ao final da segunda década do século 19. A data de sua fundação, contudo, é 16 de maio de 1818, quando D. João VI assinou o decreto que ratifica o Tratado de Colonização com o Cantão de Fribourg (alemão). Os imigrantes começaram a chegar em dezembro de 1819.
Os suíços, atraídos para essa aventura, não encontraram, nas áreas que lhes foram destinadas, ambiente favorável para desenvolverem suas atividades. Grande parte migrou à vila de Cantagalo, em especial para a região de São Sebastião do Paraíba, para o cultivo de café. Posteriormente, “à procura de novas terras, irão participar da valorização de vários municípios dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo”, como assinala Martin Nicoulin na apresentação do livro Imigrantes – A saga do primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da independência, de autoria do médico, pesquisador e escritor cantagalense, Henrique Bon (Nova Friburgo, RJ: Imagem Virtual, 2004). Bom Jardim foi um dos destinos dessa migração dos colonos suíços.
Bom Jardim e Cantagalo foram altamente beneficiados com essa migração de suíços e, posteriormente, alemães que contribuíram para o desenvolvimento dessas regiões. A esses empreendedores do início do século 19 muito devem esses e outros municípios fluminenses e capixabas.
Distante de Nova Friburgo poucos quilômetros, Bom Jardim recebeu em seu solo imigrantes suíços insatisfeitos com as condições de vida na Colônia de Nova Friburgo. Os Ballonecker, Bercot, Bohrer, Brust, Emerich, Erthal, Heckert, Marchon, Marfurt, Miller, Monnerat, Shott, entre outros, e seus descendentes, ao lado de descendentes de imigrantes franceses, libaneses e portugueses, estão intimamente ligados à história e ao seu desenvolvimento socioeconômico. Bom Jardim chegou a ser governado por um descendente da imigração suíço-alemã: Edmo Erthal.
Lendo o livro da conterrânea (cantagalense) Dulce Tardin Erthal (ERTHAL, Dulce Tardin. Aventuras e desventuras de uma família gruérien ‒ Os Tardin (Bom Jardim, RJ: 2ª ed. rev. e ampl.) ‒ fico sabendo das origens da família Tardin, desde o Cantão de Vaud, de onde também veio o patriarca de minha família – Jean Abram Frauche –, rebatizado no Brasil por João Abrom Frauche.
Com a sua alma de pesquisadora e de artista, no Conselho Municipal de Cultura ou na Academia Bonjardinense de Ciências, Letras e Artes ou em outras atividades, Dulce Tardin Erthal tem sua vida umbilicalmente ligada a Bom Jardim, onde construiu uma família com o seu esposo, Celso Tardin Erthal, também descendente de suíços e com extraordinária folha de serviços prestados a Bom Jardim e a sua gente.
As crianças e os jovens de Bom Jardim, em suas escolas de educação infantil e do ensino fundamental, devem ter a exata noção da saga dos suíços que contribuíram e que ainda contribuem, por seus descendentes, para o desenvolvimento socioeconômico dessa progressista comuna serrana fluminense. Essa saga deve ser presente em diversos componentes curriculares das escolas municipais, partindo do local para o nacional, como forma de enriquecer o aprendizado desses educandos, ao tempo em que mantém viva essa história de sonhos e de bravura.
Todos os descendentes dos imigrantes suíços de 1818/1820, que vivem em Bom Jardim ou que ali nasceram, naturalmente, devem celebrar a vitória da coragem, aliada à fé, à perseverança, ao trabalho e à esperança de seus bravos antepassados, que contribuíram para o progresso desse importante município fluminense.
Celso Alves Frauches é professor, escritor, pesquisador e já foi secretário Municipal na Prefeitura de Cantagalo.