“Caminhódromo”

Ultimamente, venho focalizando, um pouco insistentemente, através do JORNAL DA REGIÃO, a conveniência e mesmo a necessidade de se criar, em Cantagalo e Cordeiro, um Conselho Intermunicipal de Administração Integrada, capaz de facilitar e acelerar, da forma mais econômica, a solução de vários problemas administrativos comuns e pendentes, entre esses dois municípios.

Não sei se por mera coincidência ou motivados pelos meus artigos no JR, vários cidadãos cantagalenses parecem estar se antecipando em participar paralelamente dessa ideia, mesmo antes de as autoridades municipais cantagalenses haverem definido seu posicionamento em relação à questão.

Refiro-me ao fato de que muitos cantagalenses que, por necessidade e por prazer, estão, agora, se dirigindo a Cordeiro, para caminhar em torno da matinha situada ao lado do Parque de Exposições, lugar, por sinal, muito agradável e apropriado para isso, além de totalmente seguro. As pessoas que caminham diariamente fazem-no não apenas porque isso lhes proporciona satisfação, mas, sobretudo, atendendo a ordens médicas.

Lamentavelmente, contudo, e em contraste com quase todos os outros municípios que a circundam, Cantagalo não dispõe de um lugar plano, calmo, sombreado, agradável e seguro para se caminhar. Muitas pessoas usam, para isso, a Avenida Djalma Beda Coube, cuja calçada é estreita e exígua – e por isso perigosa, sobretudo para os experientes, além do inconveniente da grande poluição em decorrência do tráfego contínuo de ônibus, carros e caminhões.

As outras alternativas de que dispõe Cantagalo são, todas elas, incovenientes, por serem muito arriscadas para pedestres, como, também, impróprias, devido ao acentuado desnível de suas subidas e descidas. É necessário que seja levada em consideração a necessidade de um certo conforto (sombra) e total segurança, para a tranquilidade dos experientes e mulheres grávidas. 

Quis a natureza que Cantagalo fosse beneficiada com um local que pode ser destinado a essa finalidade – construção de um “caminhódromo” – já que possui todos os requisitos acima citados. Refiro-me ao antigo leito da estrada de ferro Leopoldina, abandonado após a desativação da empresa, há cerca de 54 anos. O trecho que poderia ser recuperado e urbanizado com esse propósito é aquele compreendido entre a fábrica de papel e a antiga parada de Aldeia, antigamente usada para a exportação de leite do município.

Não haverá necessidade de asfaltar, bastará recobrir todo o antigo leito da via férrea com saibro fino, muito bem compactado; recuperar as cercas laterais, que, provavelmente, ainda existam, e recolocar os dormentes que foram roubados de uma pequena ponte de ferro desativada. Bom será, também, um dispositivo para impedir o uso de bicicletas. A aquisição do terreno poderá ser feita através de desapropriação, já que se trata de uma utilidade pública municipal.

Já faz alguns anos que as autoridades municipais de Cantagalo vêm postergando ou deixando de implantar algumas medidas de grande significado para o município, embora de baixo custo. Se assim continuarmos, daqui a poucos anos os cantagalenses poderão cantar: “o tempo passou na janela e só Cantagalo não viu.”

 Aguardamos, ansiosamente, a inauguração do nosso “caminhódromo!”

*Erly Bon Cosendey é professor de pediatria aposentado pela UFRJ.

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