Há dias que nos damos conta de que estamos como folhas secas soltas em meio a um impetuoso vendaval. Parece que nada do que falamos ou fazemos é levado a sério, pois ninguém se interessa se estamos bem ou não. Normalmente, as pessoas tendem a mostrar indiferença quando o assunto não é com elas, passam por nós e, quando muito, reparam nos nossos olhos vermelhos pela noite em claro.
Precisamos compartilhar o que sentimos, o que queremos, mas sem perder de vista o que desejamos para um futuro próximo, o que queremos, de fato, viver daqui para frente. Às vezes, o sentimento de solidão e abandono é tão grande que queremos que as pessoas se importem, pelo menos um pouquinho, com aquele mal-estar passageiro que sentimos dias antes, mas elas, infelizmente, dificilmente vão se importar.
Agimos, muitas vezes, como uma criança que nos mostra um machucadinho bem pequeno para ganhar nosso cuidado e nosso afeto, mas, diferente de uma criança, o que estamos apresentando aos outros são mostras de um isolamento que é, por consequência, agravado pelas feridas causadas nos momentos de dor que tivemos de viver. Embora todo esse quadro ser perceptível a olho nu, as pessoas, geralmente, pouco se importam se estamos ou não em desvantagem ou, simplesmente, sensibilizados por algo que acaba de nos acontecer.
Como folhas secas jogadas ao ar numa tarde de verão, carregadas para lugares incertos e desconhecidos por nós, assim nos sentimos ao ver o pouco caso que nossas dores causam em pessoas com quem temos contato diariamente. Muitas vezes, queremos apenas que elas deem um olhar de compaixão, falem algo como “se cuide, viu?”, mas inúmeras vezes somos surpreendidos pela apatia e pelo desdém que tomam conta de toda uma vida.
Como resposta a tudo isso, aprendemos muito rapidamente com essas pessoas e passamos a agir como elas, perpetuando um círculo de grosserias, indelicadezas e insensibilidades. Agindo assim, estamos, novamente, nos deixando levar a lugares que nem sempre queremos ir. Deixamos que os estímulos externos governem sobre nós e, em vez de assumirmos o controle real de nossas vidas, simplesmente vamos deixando os anos se passar, levando com eles todo o nosso vigor e disposição de, pelo menos, tentar alterar o curso dessa história.
Ora, não somos folhas secas e, como seres capazes de reassumir a autoria de nossa história que é escrita dia a dia, temos de reagir, nem que para isso tenhamos que enfrentar assuntos um pouco desconfortáveis para nós. Reassumir a autoria envolve muito mais do que possamos perceber num primeiro toque, num primeiro momento. Envolve repensar os momentos que agimos por impulso, os momentos que perdemos a educação diante de algum fato, os momentos que, sim, estávamos errados na mensagem que acabou sendo entendida incorretamente por alguém, sobre a qual não esboçamos nenhuma atitude.
Envolve também, por consequência, entendermos que, de um modo ou de outro, também falhamos a respeito de algo ou alguém, e em vez de nos entendermos como vítimas, termos consciência de que também é nosso papel irmos em busca do que queremos conquistar.
Essa conquista, por sua vez, não é palpável no começo, mas, à medida que o tempo vai passando, ela será evidenciada nos pequenos gestos de outras pessoas, estas que são prêmios incalculáveis da nossa vitória sobre a indiferença e o pouco caso.
Conquistar pessoas é maior, mais nobre e mais feliz do que se pode, com palavras, mensurar. Por isso, vale a pena tentar mais uma vez.
Mesmo em meio aos mais fortes e impetuosos ventos, é imprescindível que estejamos conscientes de que nossa jornada é composta por momentos que parecem fugir ao nosso controle, mas não se esqueça que é você que deve estar sempre na direção, escolhendo o percurso que deseja seguir e, muito mais do que isso, escolhendo se quer ou não ter a companhia das pessoas, as quais podem ser conquistadas, dia a dia, por você.
Reflita, decida-se, recupere o tempo perdido sob o comando de ventanias que levaram você a lugares, hoje, incompreendidos.
*Erika de Souza Bueno é coordenadora pedagógica do Planeta Educação e Editora do Portal Planeta Educação. Professora e consultora de Língua Portuguesa e Espanhol pela Universidade Metodista de São Paulo.