Influenciar opiniões não significa, necessariamente, interferir no discernimento alheio, nem levar alguém a modificar o conteúdo de conceitos previamente estabelecidos por força do seu juízo de valores.
*Roberto Vassalo
Convencionou-se, desde há muito, que os meios de comunicação e todos os agentes neles envolvidos, a saber, os que têm constante exposição pública, como colunistas de jornais e revistas, apresentadores e comentaristas de TV, artistas, etc., são formadores de opinião. Certo? Não, errado.
À luz de uma análise mais apurada, isenta, sensata e judiciosa, tal não existe. De fato, todo mundo tem sua opinião, a despeito da pouca ou muita erudição, e esta basta-se a si mesma.
Ora, com o advento dos modernos instrumentos tecnológicos, como a internet, os celulares, tablets, etc., as pessoas passaram a se comunicar mais; e a comunicação, hoje, devido a esses brinquedinhos eletrônicos, é instantânea, e o mais importante, globalizada. Daí esse progresso espantoso ter contribuído substancialmente para encurtar distâncias e civilizar as pessoas, inclusive as que vivem em lugares remotos, como os índios, a título de exemplo.
Por outro lado, toda opinião é formada a partir da informação, e as decisões são tomadas a partir delas. Com base nessa massa de informações estruturadas sob a forma de opinião pessoal, os indivíduos planejam e decidem seus rumos e caminhos.
Nesse processo, os impropriamente chamado formadores de opinião não têm nenhuma influência. Obviamente, o tipo de informação influi na qualidade da opinião.
Já com a informação didática, a coisa muda completamente de figura. Seja esse conhecimento científico, tecnológico ou outro, indiscutivelmente agrega valor à opinião de quem a recebe.
Quando alguém da mídia assina um artigo ou redige um editorial sobre este ou aquele assunto, geralmente focado na conjuntura atual, está apenas transmitindo o seu ponto de vista ou do órgão que representa.
Quem lê, ouve ou assiste, apenas concorda ou discorda, não há meio termo. Dessa concordância ou discordância, o que pode surgir é uma discussão, estendendo o ponto de vista já existente sobre o referido tema, aprimorando-o ou desvirtuando-o.
Entretanto, ao anunciarem que o papel da mídia é o da imparcialidade, e que o jornalista deve se abster de emitir opinião, na verdade, estão caindo em contradição, porque, se a imparcialidade existe de fato – o que não acredito – esta pressupõe total ausência de opinião. Mesmo deixando por conta do consumidor cultural a tarefa de tirar suas próprias conclusões, a mídia, tácita e explicitamente proclama que não pretende formar a opinião de ninguém. Até porque, conforme foi dito, opinião é uma questão puramente pessoal, não de massa.
Contudo, deve ficar claro que o impulso ou compulsão pelo consumo deste ou daquele produto acha-se fora deste contexto.
A prova de que todos já saem às ruas com a opinião própria, é observado nas pesquisas eleitorais de intenção de voto. O curioso é: a média dos que não souberam ou não responderam, em termos percentuais, é a mínima possível; tão irrisória que não dá nem para afirmar que eles tinham ou não opinião a respeito! Mas o desinteresse por determinado assunto, absolutamente não significa, e muito menos deixa claro que o entrevistado é alguém completamente destituído de opinião sobre temas diferentes.
Em contrapartida, faz parte do sensacionalismo da imprensa dar ênfase somente à banda ruim dos fatos, numa sádica e frenética tentativa de captar audiência ou atrair leitores, e, assim, satisfazer os interesses dos anunciantes.
Com isso, a mídia acaba transmitindo a falsa impressão e “formando o conceito” de que o mundo é feito unicamente de acontecimentos negativos, e que, nessa massificação perniciosa, não há lugar para mais nada, muito menos para o lado bom das coisas, que por ser corriqueiro não desperta interesse e, portanto, dispensa relevância.
*Roberto Vassallo é graduado em administração pública e de empresas na Ebape-FGV-Rio. Jornalista e consultor em marketing. Blog: robertovassallojornalista.blogspot.com.br.