Historiador de fama mundial, Américo Castro nasceu e morou em Cantagalo

Historiador de fama mundial, Américo Castro nasceu e morou em Cantagalo
Historiador de fama mundial, Américo Castro nasceu e morou em Cantagalo

Pesquisador espanhol publica novos dados sobre a desconhecida biografia cantagalense de Américo Castro

Pablo González Velasco é um antropólogo espanhol, especializado em Gilberto Freyre, e acaba de publicar um artigo na Revista Estudios Brasileños da Universidade de Salamanca, intitulado “Saudades de Cantagalo. Nuevos datos sobre la desconocida biografía brasileña de Américo Castro”.

Em sua pesquisa, Pablo González afirma que o historiador de fama mundial Américo Castro nasceu e morou na rua Mão de Luva, em Cantagalo. Nessa entrevista, Pablo González publica novos dados sobre a desconhecida biografia do cantagalense Américo Castro.

Por que se interessou pela vida de Américo Castro em Cantagalo?

A amizade do pernambucano Gilberto Freyre com o hispanobrasileiro nascido em Cantagalo, Américo Castro, estimulou minha curiosidade para pesquisar a infância cantagalense do filólogo e historiador universalmente conhecido. Tinha lido cartas de Américo Castro na Casa de Recife do mestre de Apipucos. Os dados biográficos que existiam dos discípulos de Castro eram contraditórios e confusos. Valia a pena pesquisar porque trata-se de uma ponte de união entre Espanha e Brasil. Castro foi um pioneiro de uma elaboração da história da Península Ibérica com fontes literárias, dando valor aos grupos tradicionalmente excluídos como os judeus e os mouriscos. A família Castro vinha de Granada e voltou ao mesmo lugar.

Como foi feita a pesquisa?

Pablo González Velasco é o antropólogo e pesquisador espanhol que publicou novos dados sobre a desconhecida biografia cantagalense de Américo Castro
Pablo González Velasco é o antropólogo e pesquisador espanhol que publicou novos dados sobre a desconhecida biografia cantagalense de Américo Castro

Foi feita através de fontes locais em Cantagalo, especialmente no Acervo Edmo Rodrigues Lutterbach, e a hemeroteca digital brasileira. Wesley da Silva Gonçalves, historiador e coordenador local do Centro de Memória, Pesquisa e Documentação de Cantagalo, teve uma participação decisiva.

Exatamente quais foram os achados?

A pesquisa aborda diferentes aspectos: a localização da casa onde nasceu, a situação da família, as atividades da sua visita em 1946, suas impressões de Cantagalo, os reconhecimentos post-mortem e as “saudades” que ele expressou em carta a seus amigos brasileiros. Sem pretender questionar, em termos gerais, as interpretações de seus discípulos, é possível realizar novas análises biográficas complementares, enfatizando sua infância brasileira (lusófona) e sua capacidade de entender a pluralidade étnica.

Quanto tempo morou a família Castro em Cantagalo e onde nasceu Américo?

Aproximadamente 14 anos, no final do século XIX. Eles eram “negociantes” e tinham o Bazar Hespanhol, onde também moravam. Aí nasceu Américo Castro no dia 4 de maio de 1885. Estava na Rua Mão de Luva, 22. Como aconteceram várias mudanças de nome de rua, acreditamos que ficava a 22 metros da esquina das ruas Barão de Cantagalo e Maestro Joaquim Antônio Naegele, em sentido oposto à Praza João XXIII. Sabemos que o pai António de Castro Pérez tinha muita participação na vida social da cidade, e a mãe, Carmen Quezada Gálvez, passou em Cantagalo os mais felizes anos da sua vida. Ela presenciou a visita do imperador Dom Pedro II.

Mais de 40 anos depois de ter saído, Castro visitou Cantagalo. Como foi aquele reencontro com os seus conterrâneos?

Ele foi convidado pela Universidade do Rio de Janeiro para dar umas conferências, mas estava com vontade de ver Cantagalo. Castro falou o seguinte para o jornal carioca A Noite no dia 4 de julho de 1946: “Fui lá pelo desejo de conhecer minha cidade natal. Venho encantado com ela. Uma pequena e deliciosa cidade de ruas largas e limpas, bem traçada, singela, mas cheia de vida. Ali as coisas se tocam de um ar civilizado. A própria cadeia parece um hotel. Há pessoas de boa cultura. Tive surpresas até no domínio da filosofia. As moças de lá não são apenas bonitas e amáveis, mas cultas e interessadas pelos problemas de ordem geral. Gostei de conversar com elas. A cidade apesar da pequena população que possui, desfruta de uma vida intensa. É um curioso exemplo de municipalismo, mas tem também características intelectuais de um grande centro. Não sou estranho as fases críticas por que passou Cantagalo; tenho, por isso, a impressão de que renasce nesta hora. Suas fazendas de gado e café reconquistam uma economia seriamente ameaçada. Dão-lhe, porém, o lastro econômico para estimular a nova fase que atravessa. É curioso recordar o palácio que lá deixou o barão de Nova Friburgo. Seu atual proprietário, filho de quem o havia adquirido, está tentando restaurar o palácio em suas linhas tradicionais, removendo para lá o mobiliário disperso e restabelecendo o ambiente, no que contribui para a restauração de um monumento. Mas não é apenas isso: esse moço é um espírito moderno e empreendedor, e está transformando a fazenda numa fazenda moderna, à maneira dos homens de visão larga, consagrando suas energias à terra, com amor e cultura. Pelo que vê, venho encantado de Cantagalo. Foi para mim uma alegria testemunhar a sua vitalidade e o surpreendente aspecto de civilização que oferece, apesar de seus poucos recursos. Um belo exemplo, enfim, de cidade interior!”.

Américo tinha saudades de Cantagalo?

Tinha. Assim o expressou a várias cartas com seus amigos brasileiros, em particular com o cantagalense Edmo Rodrigues Lutterbach, que foi quem divulgou a vida e obra de Américo em Cantagalo. Inclusive Edmo disse que Cantagalo não esqueceria jamais.

O que recomenda para Cantagalo recuperar a memória deste filho pródigo?

Seria interessante que os estudantes de Cantagalo conheçam, por exemplo, o livro de Américo “Iberoamérica: su historia y su cultura”, onde fala também do Brasil, ou “La realidad histórica de España”, onde fala da história da miscigenação cultural dos cristãos, dos judeus e dos mouros na Península Ibérica. Como propõe Wesley da Silva Gonçalves, com meu apoio e do vereador João Bôsco, poderia se criar o dia da imigração espanhola em Cantagalo, com uma homenagem inicial, com algum elemento material, como uma placa, para imortalizar a memória de dom Américo. Sobre as possíveis efemérides a comemorar, além do nascimento (acabou de fazer seu 135 aniversário), temos no dia 30 de junho de 2021 (1946) os 75 anos da visita de Américo Castro a Cantagalo. Com certeza, teriam o apoio do Instituto Cervantes do Rio de Janeiro e de outras autoridades espanholas.

Um comentário

  1. José Fernández Tejada

    Oi amigo de Cantagalo. Sou um cativado pelo pensamento de X. Zubiri, que nasce em 1998 e morre em 1983. No estudo deste filósofo ímpar, tenho recorrido a dados pessoais para que se entenda melhor seu amadurecimento intelectual. E um deles é que sua mulher Carmen, . se casou com Zubiri, que se conheceram na Alemanha nos anos 1930, o pai meio exilado, dava aulas em Berlin. Pois bem, este senhora é filha de Américo Castro. Faz tempo tenho colocando nos dados biográficos de Zubiri, que o pai dela nasceu em Cantagalo. Muito me tem ajudado teu escrito no JORNAL DA REGIÃO. e O CONTINUAREI USANDO. Acabo de abrir um blog : zubiribrasil.wordpress.com

    Estou feliz de poder fazer este contato com os moradores e pesquisadores de Cantagalo.

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