João Bôsco*
Em meados do ano de 1986, numa pequena sala do prédio comercial onde encontra-se hoje a agência do Bradesco de Cantagalo, atendendo ao convite do então agente de pessoal da Fábrica de Cimento Rio Negro, Célio Figueiredo, estávamos, em um pequeno grupo de profissionais de áreas e faixas etárias diferentes, a discutir a criação de um jornal que, na opinião daquele que nos arregimentou, deveria abarcar não somente o âmbito das questões municipais, mas espelhar fatos atinentes a todos os municípios vizinhos. Discussões acaloradas se sucederam e, no vazio gerado pela inexistência de um órgão de imprensa local, naquela pequena sala, no Centro da cidade, começava-se a compor as feições do periódico que seria lançado semanas depois com a denominação de JORNAL DA REGIÃO.
Seguindo a tradição da imprensa local, que remonta à década de 1830, com ‘O Tangedor’ e ‘O Aristarco’, era consensual entre os presentes àquele primeiro encontro a ideia de que os fatos políticos deveriam figurar com destaque e imparcialidade no novo jornal. Em nosso país, à época, vicejavam os primeiros tempos da redemocratização, a Assembleia Nacional Constituinte mobilizava as atenções de uma nação esperançosa de que a nova Carta Magna pudesse passar a limpo um país arruinado economicamente e recém saído do regime autoritário. Assim sendo, a capa do primeiro número do JR, de 3 de outubro de 1986, trazia como manchete principal: “Você sabe o que é Constituinte?”.
Desde aquela primeira “reunião de pauta” mergulhada nas brumas do passado, até os dias atuais, 30 anos se passaram, mas a tônica original do JR continua vigente. Em edições publicadas até então, os fatos políticos sempre tiveram e têm lugar de destaque. Em suas páginas figuraram os resultados dos pleitos que marcaram a ascensão e queda de grupos e líderes políticos locais, o dia a dia das administrações municipais, as discussões legislativas nos vários níveis da federação, os entraves e possíveis soluções para engendrar novos ciclos de desenvolvimento regional, os atos administrativos das prefeituras, entre tantos outros acontecimentos de extrema importância na dinâmica do poder regional.
Outra temática que adquiriu grande presença nas páginas do JR nessas três décadas foi o debate histórico. Um dos pontos altos desse debate ocorreu nos anos de 2003 e 2004, quando instituiu-se o processo de revisão da data de referência para a contagem da idade de Cantagalo, devolvendo ao município o título de unidade administrativa mais antiga da região. Contundentes e esclarecedores artigos do Dr. Henrique Bon, do desembargador Clélio Erthal e matérias sobre as ações pedagógicas empreendidas pelo professor Gerson Tavares do Carmo ganharam, com frequência, as páginas do JR e lançaram luz sobre essa então nebulosa questão, engendrando acalorado debate no município, o que culminou na publicação, em 11 de dezembro de 2004, nas páginas deste periódico, do Decreto nº 1.661/2004, que fixava como data magna do município o “9 de março de 1814”.
Por fim, a sociedade cantagalense sempre se viu nas páginas deste órgão de imprensa. A coluna atualmente denominada ‘Atos & Fatos’ teve como precursora a ‘Sociais, etc…’, do nosso saudoso Geraldo Nóbrega, que, na já citada primeira edição do JR, em meio aos registros de aniversários, nascimentos e enlaces matrimoniais, produziu uma bucólica nota: “Com a chegada da primavera, a sociedade cantagalense viveu dias de grande euforia.”
Vida longa ao JR! Que a euforia presente em Cantagalo à época do seu surgimento, captada pela sensibilidade do seu primeiro colunista social, continue sendo a tônica que impulsiona toda a equipe de redação daquele que é, sem dúvida, o mais conceituado veículo de comunicação do Centro-Norte Fluminense.
*João Bôsco de Paula Bon Cardoso é professor de sociologia e geografia, coordenador de Patrimônio Cultural do Projeto Fazenda São Clemente e Coordenador do Centro de Memória, Pesquisa e Documentação de Cantagalo.