Seja dormindo ou acordado, é sempre bom sonhar, desde que os sonhos sejam alegres e otimistas e as pessoas que compartilhem deles também contribuam para a sua materialização. Esta noite, sonhei com a Zilda. Não sei, mas talvez seja porque penso muito nela e – não nego – gosto muito dela também. Refiro-me não à senhora Zilda Estorani Guzzo, digna ex-esposa do saudoso Nilo Guzzo, mas à sua homônima, a Praça Zilda Estorani Guzzo, que, apesar de seu grande potencial, com sua modéstia, finge não dar atenção à indiferença com que é tratada pela administração pública.
Como ia dizendo, sonhei com a Zilda. Todo o seu potencial de beleza havia sido aproveitado e ressaltado. Ela deixara de ser uma simples passagem de pedestres para se tornar um pequeno santuário ecológico marcado pela beleza de suas flores. Sua saída para a Rua Francisco Eugênio Vieira havia sido fechada provisoriamente. Em todo o comprimento de sua calçada haviam sido plantadas 150 palmeiras rubras, cujos coquinhos vermelhos atraíam grande quantidade de pássaros canoros, como bem-te-vis, sabiás, sanhaços, saíras, tucanos e outros, que, com seus cânticos maviosos, pareciam agradecer ao senhor prefeito a gentileza de sua lembrança. Todo o entorno da praça havia sido cercado por uma artística cerca de tela, com 1,5m de altura, deixando apenas um único portão de entrada e saída. Quem entrasse na praça seria para apreciá-la, curti-la. Havia sido assim promovida, de simples caminho, a um aconchegante local, onde as mães podiam levar seus filhos para brincar com segurança, sem o incômodo de cães e gatos ou de pessoas inconvenientes; um local onde os experientes poderiam ler tranquilos seu jornal e seus livros. Músicas populares e clássicas, suaves e melodiosas, eram ouvidas continuamente. Todas as quadras da praça eram ajardinadas e floridas. Podiam-se apreciar canteiros floridos com amor-perfeitos, gazãnias, cravinas, margaridas; mas, entre todas destacavam-se os canteiros de roseiras variadas, todas elas procedentes da Roselândia, que encantavam pelo seu colorido e sua leve flagrância, que atraíam beija-flores e borboletas. O chafariz, atualmente desativado, fora recuperado e transformado em uma fonte luminosa, nos moldes da existente no Hotel Guanabara, em São Lourenço (MG). Só havia um único portão bem trabalhado, para entrada e saída, o que impossibilitava a retirada de plantas ou flores. O funcionamento era das 8h às 21h. A vigilância era efetuada por guardas-mirim, até às 18 horas: dois no portão e três no interior – identificando os nomes das plantas e das flores, para quem o desejasse. A partir das 18 horas, a vigilância ficava a cargo dos guardas municipais.
Ao sair da praça, às 21 horas , eu não conseguia deixar de apreciar a fonte luminosa. Ao acordar, só me restava a esperança de que um dia o sonho se realize.
*Erly Bon Cosendey é professor aposentado de pediatria da UFRJ.
E-mail erlycosendey@gmail.com