Superthal e Caravana da Coca-Cola fazem noite mágica em Bom Jardim
Foto de capa: O tanque do Exército chega aos três poderes da República.
De 1963 a 1966, residi em Cantagalo para exercer o cargo de secretário da Prefeitura. Para colaborar com o Colégio Cenecista, o professor Ewandro do Valle Moreira me pediu que fosse o secretário do referido educandário, para ele assumir o cargo de diretor. Ewandro era meu amigo e não podia recusar-lhe o convite. Eu já vinha de uma experiência como secretário do Colégio Lara Vilela, em Niterói, mantido pela Assembleia Legislativa. Era um trabalho compatível com o da Prefeitura.
Pouco tempo depois, em 1965, convidou-me para professor de uma nova disciplina do curso ginasial, a Organização Social e Política Brasileira (OSPB), criada pelo governo militar. Eu tinha o curso Científico, mas o Ewandro, com meu currículo, conseguiu autorização do Ministério da Educação para que eu pudesse reger a disciplina. Ainda não havia livros sobre o assunto. Fiz uma apostila, que foi aprovada pela Diretoria do Colégio, e iniciei minhas atividades. Creio que atingia a 3ª ou 4ª série do ginasial, não me lembro bem. Os que estudaram o curso ginasial, nessa época e séries, no Colégio Cenecista, devem ter sido meus alunos.
Eu era simpatizante do Brizola e do Jango. Não era e nem nunca fui um comunista, mas por causa dessa minha preferência particular, creio, no dia seguinte ao golpe, devo ter exagerado na defesa da democracia. Uma “dedo duro” me denunciou como comunista, mas não cheguei a ser preso, primeiro fui avaliado e, depois, arquivada a denúncia. Nem todos tiveram essa sorte! Em Cantagalo eu era bem conhecido. Não tinha perfil para uma luta armada. Abandonei a esquerda. Como consequência, tornei-me um homem de direita, posição que pretendo manter até que a morte nos separe. É como um casamento.
Em 31 de março de 1964, governava o Brasil João Belchior Marques Goulart, conhecido popularmente como Jango, advogado, político e fazendeiro gaúcho, um digno representante da burguesia, mas populista, como seu mestre, Getúlio Vargas. Ele serviu como o 24.º presidente do Brasil de 1961 a 1964. Antes disso, também ocupou o cargo de 14.º vice-presidente do Brasil de 1956 a 1961, durante os governos dos presidentes Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros.
Jango foi eleito vice-presidente, com apoio de Getúlio Vargas, com mais votos que o próprio presidente JK, tornando-se o primeiro político brasileiro a ser reeleito para um segundo mandato consecutivo de um mesmo cargo, na esfera do Poder Executivo, no caso, a Vice-Presidência da República. Sua família tinha ascendência açoriana, e ele era filho de Vicente Goulart, um estancieiro do Rio Grande do Sul com grande influência na região, o que ajudou Jango a entrar para a política.
Seu governo populista estava criando problemas na hierarquia das forças armadas, incomodando também a Igreja Católica e a sociedade civil. Em 13 de março de 1964, Jango defendeu as reformas que pretendia fazer em um comício na Central do Brasil, no Rio, diante de 200 mil pessoas. Setores conservadores consideraram as propostas “comunizantes”.
Em 19 de março de 1964, em resposta ao comício na Central do Brasil, setores conservadores e entidades cívicas e religiosas convocaram a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo. O protesto reuniu cerca de 500 mil pessoas, mobilizadas contra a “ameaça comunista” no Brasil. Vários governadores participaram do ato: Magalhães Pinto (MG), Carlos Lacerda (GB), Adhemar de Barros (SP), José Sarney (MA) e outros menos votados. Miguel Arraes, que era governador de Pernambuco, foi o único que publicamente declarou-se contra o movimento e a favor de Jango. Mas Carlos Lacerda e Adhemar de Barros, mais tarde, romperam com os governos militares.
Consumado o golpe civil-militar, o presidente João Goulart foi destituído e exilado para o Uruguai, onde era fazendeiro, e o deputado Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu temporariamente o poder. Posteriormente, o Congresso Nacional elegeu “democraticamente”, como Presidente, o General Humberto de Alencar Castelo Branco, um dos principais líderes militares do evento, que resultou no fim da Quarta República Brasileira (1946–1964) e no início da Ditadura Militar Brasileira (1964–1985).
Castelo Branco prometeu voltar ao regime democrático assim que limpasse a estrutura arcaica dos poderes Executivo e Judiciário, fato que levou à cassação dos direitos político de milhares de brasileiros, instalando-se paralelamente, por subalternos desequilibrados emocionalmente, um período negro de torturas e, em seguida, guerrilhas urbanas e rurais.
Castelo Branco morreu logo depois, em um suspeito acidente aéreo. A seguir, instalaram-se os “anos de chumbo” da ditadura ou movimento civil-militar.
E foram anos doloridos – SNI, delações, suspeitas, prisões, exílio, milagre econômico, troca de prisioneiro por embaixadores; foi ditadura, não foi; foi movimento, não foi; ufanismo, “eu te amo, meu Brasil”, grandes obras, perseguições, UNE, morte de estudante… 20 anos de muitas lutas!
Em 28 de agosto de 1979, Figueiredo assinou a Lei da Anistia, que perdoou todos que, entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou tiveram seus direitos políticos suspensos.
Os eventos “Diretas Já” tomaram conta do Brasil, fato que levou ao poder militar o general Figueredo, que afirmou: “Eu prendo e arrebento” quem for contra a volta dos civis ao poder, restabelecendo-se a república democrática brasileira. E junto com Aldir Blanc e João Bosco, na voz de Elis Regina, cantávamos: Meu Brasil / Que sonha com a volta do irmão do Henfil / Com tanta gente que partiu / Num rabo de foguete…
Eleito primeiro presidente civil depois de duas décadas de regime militar, o ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves faleceu sem tomar posse. Com fortes dores abdominais, Tancredo foi internado no dia anterior à posse, deixando o Brasil inteiro preocupado. Diversas teorias da conspiração foram criadas em virtude desse fato. Com a morte de Tancredo, quem acabou assumindo a Presidência da República foi o vice-presidente José Sarney. Daí em diante a democracia brasileira é “relativa”, como afirmou um populista recentemente. Coisas do Brasil…
31 de março não é uma data para se comemorar, mas refletir sobre os acontecimentos de 1964, para que não voltem a acontecer nunca mais, sejamos de direita ou de esquerda, em nossa democracia, relativa ou não. Mas o Brasil é surpreendente e desafiante e estamos sempre a interrogar-nos: afinal, QUE PAÍS É ESSE!!!???