“7 de Setembro (duzentos anos)”, por Dr Júlio Carvalho

Quando estudei História do Brasil, há muitos anos, tive a impressão que a independência do Brasil ocorrera de modo tranquilo, limitando-se ao histórico grito do Ipiranga pelo nosso jovem imperador Pedro I, ao regressar de uma amorosa viagem a Santos; imortalizado no belo quadro de Pedro Américo.

Atualmente, consultando algumas fontes, observei que ela não foi tão romântica e tão pacífica, havendo combates e derramamento de sangue em vários pontos do solo brasileiro; calcula-se que ela foi mais violenta do que a independência das nações da América espanhola, com a morte de cerca de 3.000 pessoas entre portugueses e brasileiros, com batalhas em terra e nos mares.

Naquela ano de 1822, a província Cisplatina (hoje Uruguai) estava ocupada por tropas do reino de Portugal, tropas que eram formadas por brasileiros e portugueses; estes, não aceitando nossa independência, se rebelaram; resultando em batalhas, que terminaram com a vitória dos nossos patrícios.

Os choques militares maiores ocorreram nas províncias do nordeste e norte brasileiros.

Na Bahia, o comando militar estava entregue ao General Madeira, português que não aceitou nossa independência, rebelando-se contra as decisões de D. Pedro I. Os brasileiros se concentraram no recôncavo baiano, onde havia a produção de gêneros alimentícios, sitiaram por terra a cidade de Salvador, e, com reforços vindo do Rio de Janeiro e de outras regiões, bateram os portugueses, que se retiraram para Lisboa perseguidos por navios comandados pelo almirante Cochrane (lorde inglês contratado para lutar pelo Brasil).

Na Bahia, formou-se batalhão de voluntários, conhecidos como Periquitos, pois predominava em seus uniformes a cor verde acentuada; entre os voluntários ficou famosa Maria Quitéria, símbolo da participação feminina nas lutas pela independência.

Portugal chegou a enviar um reforço militar com 2.500 soldados, todavia o cerco por terra e por mar obrigou as tropas portuguesas a se entregarem.
Os soldados portugueses invadiram o Convento da Lapa e mataram a Madre Superiora Joana Angélica, que tentava impedir a invasão. A freira passou a ser o símbolo do sacrifício feminino pela nossa independência.

No cerco marítimo de Salvador, o almirante Cochrane aprisionou cinco embarcações lusitanas que foram incorporadas a nossa marinha.
O capitão João Taylor, comandante da fragata Niterói, perseguiu a esquadra portuguesa através do Atlântico, aprisionando 19 navios, também incorporados a marinha brasileira.

As lutas na Bahia terminaram em 2 de julho de 1823, considerada pelos baianos o dia da independência.

Na província do Piauí, houve também resistência a independência, com lutas entre portugueses e brasileiros, que terminaram com a derrota dos lusitanos.

No Maranhão, as elites rurais se rebelaram contra a independência, eram mais ligadas a Lisboa por laços sanguíneos e comerciais do que ao Rio de Janeiro. Os jovens ricos do Maranhão estudavam em Portugal, enquanto o comércio de São Luís era dominado por portugueses.

O interior da província nordestina aderiu à independência enquanto a capital permanecia fiel a Portugal. A esquadra comandada pelo almirante Cochrane, simulando reforços vindos de Portugal, desembarcou em São Luís, prendeu as autoridades portuguesas e conquistou a capital. No interior, os brasileiros triunfaram na cidade de Caxias.

A última província a ser incorporada ao Brasil independente foi a do Grão-Pará. Naquela província, os poderosos estavam ligados a Portugal, não aceitando a independência nacional. A esquadra brasileira ameaçando bombardear a capital da província desembarcou em Belém.

Com o desembarque, o comandante John Grenfell, para manter a ordem, determinou o fuzilamento de diversas pessoas e aprisionou cerca de trezentas no porão do navio São José Diligente, com as escotilhas fechadas, onde vieram a morrer por asfixia. Só no final de agosto de 1823, a província do Grão-Pará foi pacificada e incorporada ao Brasil independente.

Apesar das derrotas militares, somente em 29 de agosto de 1825 Portugal reconheceu a independência do Brasil.

O 7 de setembro foi o coroamento do descontentamento dos brasileiros com as medidas de Portugal que deram origem a alguns movimentos de protestos em alguns pontos do Brasil.

Em 1720, em Vila Rica, a revolta contra as casas de fundição e o quinto do ouro, que terminou com a execução de Felipe dos Santos e o exílio de outros.

Em 1789, a Inconfidência Mineira, resultando na execução e esquartejamento de Tiradentes (hoje, Patrono Cívico do Brasil), e o exílio de outros organizadores do movimento de Minas Gerais.

Em 1798, a Revolta dos Alfaiates na Bahia, em que foram enforcados os mais pobres, três alfaiates negros, enquanto os demais receberam penas menores ou foram absolvidos, eram ricos e brancos. A injustiça no Brasil vem de longa data!

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

Em 1812, a Revolução Pernambucana, que desejava criar uma república democrática no Brasil. Alguns consideram que esse movimento pernambucano foi o embrião do nosso 7 de Setembro.

A data nacional pertence e deve ser comemorada por todos os brasileiros, em respeito à memória de todos que derramaram o sangue por um Brasil independente. Não pertence a partidos políticos ou a candidatos, sendo patrimônio da nacionalidade, PERTENCE AO BRASIL E A TODOS OS BRASILEIROS!

Em cada 7 de Setembro, é necessário voltar o pensamento para o futuro e buscar soluções para nossos problemas que envergonham o Brasil: alto desemprego, falta de saneamento básico para grande parte da população, carência de habitações e de alimentação, destruição de nossas florestas, preconceito racial, feminicídio e tantos outros.

QUE DEUS NOS PROTEJA!

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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