“70 Anos”, por Dr Júlio Carvalho

Plataforma P-55. Foto: Agência Petrobras

 

Dedico o artigo de hoje às jovens gerações do nosso país que não conheceram as gloriosas lutas pelo petróleo no Brasil; lutas que determinaram manifestações populares, prisões e mortes de alguns brasileiros.

Até que apareçam novas formas de energia, o petróleo é a grande força propulsora do desenvolvimento. Apesar da poluição do meio ambiente e de todos os males que possa causar aos seres humanos, ele é a razão do enriquecimento dos países árabes que são os maiores exportadores mundiais do chamado ouro negro.

Durante muitos anos, o Brasil foi um país iminentemente agrícola, passando pelos períodos do pau-brasil, cana-de-açúcar e café, que gerou os famosos Barões do Café, cujas riquezas se alicerçaram na exploração dos infelizes escravos africanos.

Sentindo que o mundo evoluía tecnicamente com a industrialização, alguns brasileiros iniciaram campanhas visando pesquisa e exploração do petróleo em terras brasileiras.

Em 1931, Monteiro Lobato, escritor brasileiro que se destacou tanto na literatura para adultos como na infantil, criou a Companhia Petróleos do Brasil, como meio de divulgar em solo brasileiro a necessidade do desenvolvimento do Brasil no campo da indústria e da modernização.

Em maio de 1940, Monteiro Lobato escreveu duas cartas, uma ao presidente Getúlio Vargas, que dirigia o Brasil como ditador no período do Estado Novo; outra, ao general Góes Monteiro, chefe das Forças Armadas. Em ambas, criticava a atitude desinteressada do ditador em relação ao petróleo, que criava leis impedindo a exploração do subsolo brasileiro, dificultando, com isso, a exploração do petróleo nacional. Como consequência, Monteiro Lobato foi preso pelo regime ditatorial de Vargas.

Em 1946, o general Eurico Dutra, como presidente do Brasil, criou o Estatuto do Petróleo, lei que alegava o país não possuir recursos disponíveis para pesquisa e exploração do petróleo. A lei gerou fortes manifestações de repúdio dos nacionalistas e do povo brasileiro nas grandes cidades, nascendo a campanha O Petróleo é Nosso, com passeatas, discursos, artigos em jornais, etc. A repressão policial foi grande, com muitos presos e alguns mortos. Como resultado da pressão popular, o congresso brasileiro arquivou o Estatuto do Petróleo, tão nocivo aos interesses nacionais. Valeu a luta popular!

Nesse ponto, não posso deixar de narrar o episódio ocorrido com um ilustre cantagalense. O maestro Joaquim Naegele, nascido em Euclidelândia, residia na cidade do Rio de Janeiro, no bairro do Meier. Comunista convicto, participou ativamente da campanha O Petróleo é Nosso e acabou sendo preso. Na prisão, passou a compor alguns dobrados em papéis que embrulhavam os pães recebidos. Mais tarde, quando o presidente Dutra assinou o contrato comprando os primeiros petroleiros para transporte do petróleo brasileiro, fez questão de levar uma banda de música que executou, defronte o Palácio do Catete, sede do governo federal, o dobrado Ouro Negro, composto durante o seu período na prisão.

Esse dobrado é de difícil execução pelos clarinetistas. Certa vez, levei meu pai à festa de Boa Sorte, na parte da tarde e pedi ao maestro Joaquim Naegele que regesse esse dobrado para meu pai, já doente, ouvi-lo. Resposta do maestro: “Não posso, só trouxe a Banda Campesina de aprendizes, eles não conseguirão executá-lo”.

O maestro Joaquim Naegele era uma figura extraordinária!

Em 1950, Getúlio Vargas é eleito presidente do Brasil. As pressões populares continuavam a favor das pesquisas e explorações do nosso petróleo por parte dos nacionalistas; por outro lado, as grandes petrolíferas mundiais andavam de olho nessa importante substancia energética.

Finalmente, no dia 3 de outubro de 1953, Getúlio Vargas assinou a lei 2004 criando a Petrobrás, empresa estatal, com monopólio do petróleo brasileiro (pesquisa, exploração, refino e distribuição).

Hoje, a Petrobras é a maior empresa energética do Brasil e uma das maiores do mundo, estando presente em 19 países da América, África, Ásia e Europa.

A primeira refinaria de petróleo brasileiro foi construída em 1961, no município fluminense de Duque de Caxias, estando, até hoje, em pleno funcionamento.

Em 1971 foi criada a Petrobras Distribuidora, responsável pela distribuição do petróleo em todo território nacional.

Em 1974, foi descoberta a Bacia de Campos (RJ), sendo uma das maiores produtoras de petróleo do mundo.

Em 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso, foi quebrado o monopólio estatal da Petrobrás, que passou a ser uma empresa de capital misto, possuindo o governo brasileiro 51% das ações da empresa. Esse mesmo presidente, com seu neoliberalismo, privatizou a Companhia Siderúrgica Nacional (Volta Redonda) e Companhia Vale do Rio Doce.

Em 2007, no governo do Presidente Lula, foi descoberto o denominado pré-sal, gigantesca reserva de petróleo e gás natural em águas profundas, localizada nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. São três bacias petrolíferas: Espírito Santo, Campos e Santos, cujas reservas estão situadas em grande profundidade, algumas abaixo de 7.000 metros. Atualmente, o pré-sal produz 1,5 milhão de barris de petróleo ao dia, colocando nosso país entre os maiores produtores de petróleo do mundo, tendo o Brasil a melhor tecnologia na exploração do petróleo no mar.

A exploração do petróleo nos mares é feita através das plataformas; diversas delas construídas no Brasil, sob encomenda dos governos de espírito nacionalista, como meio de estimular a indústria naval, aumentando a oportunidade de trabalho nos estaleiros brasileiros.

Tenho guardado, como joia de inestimável valor, uma miniatura de um barril cheio de petróleo extraído do pré-sal. Lembrança de um engenheiro cantagalense que estava presente na ocasião.

Além da tecnologia de ponta usada em seus trabalhos e gerar milhares de empregos, a Petrobrás é uma extraordinária fonte de renda para seus acionistas, sendo sua receita líquida no segundo semestre de 2023 de R$ 28,8 bilhões. Portanto, ela deverá sempre ser orgulho daqueles que realmente amam o Brasil.

Petrobras, 70 anos, nossa energia é o Brasil!

 

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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