“A dispersão dos colonos de Nova Friburgo”, por Célio Erthal Rocha

Rui Erthal, professor da Universidade Federal Fluminense, acaba de lançar A Colonização Suíça e Alemã em Nova Friburgo: a dispersão espacial da Gleba Rural (Edições Cândido), em concorrido evento na Academia Friburguense de Letras, naquela cidade serrana. Trata-se de primorosa obra de pesquisa, que vem se juntar à importante “A Gênese de Nova Friburgo” do historiador suíço Martin Nicoulin, complementando-a com diversos fatos e minuciosos dados históricos.

O livro acompanha a saga dos colonos suíços que, depois de penosa viagem pelo Oceano Atlântico (com cerca de 10% de mortes de seus integrantes) e sacrificada viagem por ínvias picadas do Rio à Fazenda do Morro Queimado (Nova Friburgo) — como assevera Rui — se depararam com o grave problema da hospedagem na nova terra. De fato, o governo construiu 100 casas simples como objetivo de abrigar provisoriamente as 100 famílias contratadas. Assim, se esperava um contingente de no máximo 800 pessoas. No entanto, chegaram à colônia mais de 1.600 pessoas, mais do que o dobro do esperado, que acabaram amontoados nas pequenas moradias, facilitando a promiscuidade e a propagação de doenças, adquiridas na Holanda, antes da viagem, e também na travessia do Atlântico. O número excessivo de colonos resultou de manobra de Gachet e Brémond, comissários da empresa na Suíça, que objetivavam elevar os seus lucros, pois ganhavam por número de pessoas embarcadas.

Para cultivo da terra, os colonos encontraram na região clima semelhante ao europeu. Entretanto, se depararam com vários obstáculos com relação ao domínio da natureza na área, dotada de árvores altas e frondosas, sendo algumas resistentes ao corte, além da presença constante de animais selvagens. Passado o período da dispersão, pois muitos abandonaram seus lotes primitivos por serem improdutivos e por sua péssima localização, a colônia só atingiria estabilidade e alcançar seus objetivos como produtora de alimentos na década de 1830, com os colonos já estabelecidos nas regiões limítrofes. Diz o autor: “Se a pioneira colônia não atingiu seus objetivos como era esperado, os seus desdobramentos foram fundamentais para o desenvolvimento econômico, social e cultural de Nova Friburgo e da Região Serrana Fluminense”.

Descendente de suíços (Wermelinger e Rimes) e alemães (Eller e Erthal) que se engajaram na colônia de Nova Friburgo, e de lusos (Azevedo Machado e Silveira Dias), Rui Erthal aduziu na contracapa que desde menino ouvia relatos cativantes sobre a história de seu núcleo familiar, fato que despertou seu interesse pela origem de Nova Friburgo, inclusive elegendo esta colônia como objeto de sua tese de doutorado, no campo da Geografia Histórica, focalizando com mais abrangência e intensidade a dispersão dos colonos da gleba rural a eles destinada. É gratificante para o autor recordar que o patriarca de sua família, o imigrante João Erthal (ferreiro na Alemanha), desembarcou no Rio de Janeiro em 1826, casando-se quatro anos depois com Catarina Wermelinger, integrante da colônia helvética. O casamento foi oficiado pelo padre Jacob Joye, capelão suíço da colônia, sepultado na Igreja Matriz de São José do Ribeirão, 2º Distrito de Bom Jardim, onde viveu seus últimos anos. Da união entre João e Catarina resultaram 11 filhos, que formaram numerosa descendência.

A obra representa indiscutível contribuição para esclarecer pontos importantes da colonização suíça e alemã, com exaustivo e minucioso estudo e pesquisa profunda do palpitante tema, em suas 285 páginas, que se lê com o maior interesse. Por sua utilidade histórica e cultural, deve constar das bibliotecas dos municípios fluminenses e em particular os do centro-norte de nosso estado. Aqui fica o apelo aos prefeitos, presidentes das Câmaras de Vereadores e professores das escolas da região.

A colônia de Nova Friburgo, implementada em 1819 – 20 pela visão patriótica e amor a nosso país de D. João VI, foi de suma importância, pois foi a primeira de origem europeia concretizada no Brasil.

O livro de Rui Erthal, por seu rico conteúdo e valor histórico, é daqueles para se guardar e a ele voltar constantemente.

 

Célio Erthal Rocha é jornalista e membro da Academia Fluminense de Letras (erthalrocha@gmail.com)
Célio Erthal Rocha é jornalista e membro da Academia Fluminense de Letras (erthalrocha@gmail.com)

 

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