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A disputa pelas fábricas de cimento começou cedo
Um dos programas de grande audiência na televisão brasileira, nos anos 60 e 70, foi o de Amaral Neto. A produção do “Programa Amaral Neto, o repórter” esteve fazendo matérias na região, no ano de 1968, sobre o que seria, no futuro, o terceiro maior Polo Cimenteiro do Brasil. Um fato interessante e curioso é contado por Carlos Élio Maciel Teixeira, que era funcionário da Prefeitura de Cantagalo, e hoje é fiscal aposentado, mas já ocupou cargo de chefe de gabinete do então prefeito Wilder Sebastião de Paula.
Durante uma viagem do prefeito de Cantagalo, João Carlos Burguês de Abreu, ao Rio de Janeiro, Carlos Élio Maciel Teixeira representou o prefeito junto a reportagem da Rede Globo de Televisão, que iria produzir o programa na região. Segundo Carlinhos Maciel, quando chegou ao encontro programado com a equipe de produção da Rede Globo, já estava o então prefeito de Cordeiro, Wagner Vieitas, que afirmara ao repórter Amaral Neto de que o município cordeirense daria isenção de impostos para implantação da fábrica de cimento. Mas Carlinhos Maciel teria rebatido tal afirmação de que isto poderia ser estudado pela Prefeitura de Cantagalo, a única com esta autoridade, pois a fábrica seria construída em terras cantagalenses.
Isso veio a se confirmar quando uma lei, aprovada na Câmara Municipal de Cantagalo e sancionada pelo prefeito João Carlos Burguês de Abreu, deu isenção de impostos durante dois anos, no caso o Imposto Sobre Serviços (ISS) para as empresas construtoras dos empreendimentos. Esta isenção só valeu para a construção da Fábrica de Cimento Alvorada.
Outro fato interessante marcou o início da implantação da primeira fábrica de cimento na região. Se tivesse tido outro rumo, talvez alguns milhares de reais o município de Cantagalo não teria gasto para defender os impostos das indústrias.
Durante uma licença do então prefeito de Cantagalo, João Carlos Burguês de Abreu, assumiu a chefia do Executivo, o vice-prefeito Djalma Beda Coube, durante 30 dias. Pressionado por alguns amigos e políticos, o prefeito em exercício procurou o empresário Severino Pereira da Silva, proprietário do Grupo Paraíso, que estava determinado em construir a fábrica de cimento em Cantagalo para pedir que a indústria se instalasse na Fazenda dos Tanquinhos, dentro do distrito de Euclidelândia. Os argumentos usados eram de que o local até então definido estaria próximo à divisa de municípios, imaginando que no futuro poderia haver uma disputa pelos impostos gerados pela indústria cimenteira.
O empresário pernambucano concordou com o pedido, mas impondo que a Prefeitura de Cantagalo arcasse com os custos de um novo projeto. O prefeito em exercício, Djalma Beda Coube, concordou com estes gastos que, aliás, eram de pouco valor. Mas, quando o prefeito João Carlos Burguês de Abreu reassumiu o cargo, não concordou com a mudança, e inclusive chamou atenção dos interessados, alegando que o local até então definido era o melhor, pois iria beneficiar outros municípios da região, não prevendo que no futuro, esta decisão viria a fazer com que as futuras autoridades municipais gastassem fortunas para defender o território cantagalense.
Com isso, a Fábrica de Cimento Alvorada, do Grupo Paraíso, foi construída próxima a divisa entre os municípios de Cantagalo e Cordeiro. Algumas pessoas chegam a afirmar que a portaria da fábrica está em território cordeirense, hoje emancipado, dentro do município de Macuco.