A escravidão

Não é apenas o câncer, esta enfermidade que corrói e deforma o corpo e que aterroriza o homem, o mal de que tem padecido o sofrido povo. Há uma enfermidade ainda maior, é um câncer que atenta contra todos os princípios da civilização, é o maior crime contra a humanidade, uma afronta à liberdade do indivíduo e da coletividade e que ainda perdura através dos séculos: a escravidão.

Vivemos no século das grandes conquistas, quando o homem sente a necessidade de evadir-se de um mundo que se demonstra desgastado, poluído, hostil à vida humana. Habitamos um mundo dividido, cheio de contradições brutais, uma terra com países que gastam bilhões para ganhar uma corrida à velocidade da luz, para chegar a outros planetas. Formamos parte de uma sociedade que investe montanhas de dinheiro em propagandas e liberdades próprias e exclusivistas, e não conseguimos exterminar totalmente a vergonha universal da escravidão.

A escravidão, vergonhoso crime contra a dignidade humana, foi uma instituição comum, base de todos os povos da antiguidade, e que continua sendo praticada, ainda hoje, principalmente nos países primitivos, que, amiúde, reclamam liberdade e independência.

O capitalismo é um desses males que escraviza o homem e a sociedade onde vive. Tudo que é inventado, tudo aquilo que é criado, acaba se tornando um recurso econômico nas mãos dos empresários que os transformam em mercadorias. O próprio trabalho vira mercadoria.

O mercado põe continuamente em crise os hábitos e os valores tradicionais, arrasta os jovens para fora de suas cidades para torná-los migrantes proletários, abala a solidariedade da família e desagrega o casal. Cria cidades nas quais os indivíduos vivem sem se conhecerem.

Enquanto a sociedade atual não deixar de basear-se somente no lucro econômico, a escravidão sob uma forma ou outra (às vezes na simples forma de trabalhador assalariado), não desaparecerá da face do nosso planeta. Ficamos todos reféns do crime, do tráfico e do medo.

A escravidão dos nossos dias não é um comércio público e admitido por todos. A batalha da escravidão não estará inteiramente vencida enquanto existirem, como existem, traficantes de homens e mulheres, às vezes seres aparentemente livres.

*Plínio Teixeira de Araújo é servidor da Prefeitura de Cordeiro

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