Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
A fé é tema de debates antigos. Digamos debates, para sermos comedidos. Ela já foi alvo de grandes discussões, atritos, guerras.
Bartolomeu de las Casas, frade dominicano espanhol, que acompanhou o doloroso processo de colonização, passou a ser um grande defensor dos direitos dos indígenas, após presenciar as mais diversas atrocidades cometidas por espanhóis em detrimento de povos originários. No início, ele entendia como correto levar a fé a outras regiões. Com o passar do tempo, percebeu que essa ideia foi degenerada.
Se Deus não existe, tudo é permitido? – pergunta feita por Ivan, em Os Irmãos Karamázov. Será a crença na punição, após a morte, que impõe determinados comportamentos em vida? Seja como for, esse tema é algo individual.
A fé não pode ser refutada, mas baseada em uma crença pessoal. Não é preciso ver para crer. Existem aqueles que dizem ter visto; por isso, creem.
Há os que acreditam em cartas psicografadas. No campo das provas, no direito, essa postura é criticável, porque as questões no âmbito processual necessitam de critérios racionais, controláveis e de possível contraposição. No campo da vida, muda-se o tom. E sabe o que me intriga? Por que a existência parece mais doce para os homens de fé?
Dizem os que têm que entender o mundo como mero acaso, a vida finita, torna obstáculos mais difíceis de serem superados. Mais curioso: defendem ainda que não significa uma fé fervorosa, imbuída por rituais rígidos e medo de um caminho pecaminoso. “Se nos quisesse perfeitos, nos fizesse perfeitos”, disse Carla Madeira sobre o Supremo Divino.
Como ousam exigir do homem a perfeição, se as dificuldades são inerentes ao nosso ser? Seria negar a própria natureza da criação: perfectíveis, sim. O ponto aqui é para ir além: a sensação, no âmago, de não se estar sozinho, na angústia da existência. Existe fiel que reza tímido, bem baixinho, como um sussurro. Existe o fiel em voz alta, assíduo dos locais religiosos, rígidos em horários, feriados, calendário, confissões e folhetos nos cultos. Compram a literatura, são tementes à palavra, casam-se entre os que são afins em crença, divulgam as bases ideológicas e dormem aos domingos aliviados pela salvação.
Além disso, existe gente que crê no Deus de Spinoza: “Para de ir a estes templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nas praias. Aí é onde eu vivo e expresso o meu amor por ti.”
Alguns, ainda, recomendam desatrelar a fé da ideia de opressão. Um Deus que permita a felicidade. Os prazeres do corpo. A esperança. O erro como aprendizado, em vez de penitência. Ser em demasia humano.
E eu? Que preciso confessar ao leitor? Advogada, deixo as provas para o Direito e, no meu dia a dia, procuro de outra forma as evidências. Sobre Deus, carrego uma espécie de Vade Mecum (Vai Comigo em tradução). O pensamento é de Santo Agostinho: “Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava fora”.
Quando as pessoas que amo (ou os meus leitores) me questionam sobre como enfrentar tempestades diárias, gosto de dizer que os que encontram sentido na vida (o amor ao próximo) têm uma espécie de guarda-chuva invisível, porque sabem que logo à frente o sol virá a todos que deixaram uma gota de bons sentimentos. Se isso é ter fé, bem… a chuva cessará. É nosso direito acreditar.
Um Comentário
Querida amanda, q cada texto q vc publica, mais percebo o quanto sensível se tornou as necessidades humanas. Parabéns ! Tem um raciocínio impressionantemente além do seu tempo!!