“A Grande Semana”, por Dr Júlio Carvalho

No calendário litúrgico da Igreja Católica, a Semana Santa constitui a grande semana, em que são lembrados os últimos momentos vividos de Jesus Cristo como homem e Deus em Jerusalém.

No início, logo depois da morte e ressurreição de Jesus, seus seguidores comemoravam apenas o domingo de Páscoa, festa tradicional dos judeus recordando a libertação da escravidão no Egito. Para o cristão, era a ressurreição de Jesus. Com o correr do tempo, outras passagens sobre a vida de Jesus foram acrescentadas, acabando por ocupar toda semana.

A Páscoa é uma festa móvel, ocorrendo no 1º domingo após a primeira lua cheia do equinócio da primavera no hemisfério norte (do outono no hemisfério sul). Oficialmente, foi instituída como festa religiosa a partir de 325 d.C., após o Concílio de Nicéia, organizado pelo Papa Silvestre I.

A Semana Santa é iniciada com o Domingo de Ramos, em que se comemora a entrada de Jesus em Jerusalém, montado em um pequeno jumento, aclamado pelo povo, que balançava ramos de oliveiras e de palmeiras. Isso ocorria como havia profetizado Zacarias: “Exulta de alegria, filha de Sião, solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém, eis que vem a ti o teu rei, justo e vitorioso; ele é simples e vem montado num jumento, no filho de uma jumenta”. (Zc 9,9)

Na segunda-feira, é dia de reflexão, Jesus tem seus pés lavados por um caríssimo bálsamo, de 300 denários, por Maria, irmã de Lázaro e de Marta, que a seguir enxuga os pés do Mestre com seus cabelos. Judas critica o ato dizendo que o perfume deveria ser vendido e o dinheiro dado aos pobres; todavia, consta que, sendo o tesoureiro do grupo, ele queria se apossar daquele valor. (Jo 12, 1-11).

Na terça-feira, é o dia em que é narrada a traição de Judas Iscariotes; aquele que, levado pela ambição, vende o Mestre por trinta moedas de prata. Até hoje, 2023 anos depois, alguns na humanidade continuam traindo os companheiros. O episódio da traição de Jesus é muito bem narrado pelo apóstolo João (Jo 13, 21-30).

Na quarta-feira, durante a ceia, Jesus declara: “Um de vós há de me trair”. Todos, aflitos, começam a perguntar: “Sou eu Senhor?”. Jesus responde: “Aquele que pôs a mão no prato comigo, esse me trairá”.

Com mais detalhes, este episódio é narrado por Mateus, o publicano convertido (Mt 26, 14-25).

A quinta-feira é o grande dia da Semana Santa, Jesus dá um exemplo de humildade e de prestação de serviço ao lavar os pés de seus apóstolos, ao mesmo tempo, em que institui a Eucaristia, centro sagrado e de convergência do catolicismo no mundo inteiro; e também o sacerdócio. Despede-se dos amigos e companheiros de três anos de caminhadas pela Palestina e segue rumo ao sacrifício supremo. (Jo 13.1-15).

Na sexta-feira, a Igreja Católica relembra o maior homicídio ocorrido na humanidade, quando o Filho de Deus foi executado em uma cruz no alto do Gólgota, depois de um julgamento sumário e de flagelação pelos soldados romanos, além de múltiplas humilhações sofridas. É um dia de grande luto para a humanidade. Na minha infância e juventude, os veículos não buzinavam, as rádios só tocavam músicas clássicas, os trens da Leopoldina não apitavam nem o agente da estação batia o sino liberando o trem, só acenava a bandeira verde. Havia um total respeito. Hoje…

No Sábado Santo, também havia respeito, mas o Judas era terrivelmente malhado. Era feito um grande boneco de pano, quase do tamanho de um homem, já amanhecia amarrado no poste existente no centro da praça da igreja, a rapaziada armada de paus aguardava o momento da malhação. Colocado fogo no judas, o pau comia firme. Alguns erravam o judas e acertavam a cabeça de outro malhador, causando-lhe ferimentos no couro cabeludo; mas tudo era festa e comemoração. O importante era executar o traidor de Jesus. Bons tempos!

À noite, na igreja, ocorre a Vigília Pascal. Com as luzes apagadas, é aceso o Círio Pascal. A partir dele, são acesas as velas dos fiéis, representando Cristo ressuscitado. É a Luz do Mundo! Ocorre o batizado dos catecúmenos e outras cerimônias. Ao celebrante anunciar que Cristo ressuscitou, as luzes são acesas, os sinos repicam, as músicas alegres são entoadas: Cristo venceu a morte! (Mt 28.1-10).

O Domingo de Páscoa é o grande dia da Igreja, Cristo ressurgiu dos mortos e reaparece àqueles que o acompanharam na sua missão salvadora. Renasce a esperança e a alegria no coração e no espírito dos que acreditam. São Paulo escreveu: “Nossa fé não teria valor se Jesus não tivesse ressuscitado” (I Co 15.13).

Cristo não está presente apenas na Eucaristia, ele também clama por atenção nos pacientes que permanecem em seus leitos hospitalares, nos pedintes de rua, nos famintos de todo mundo, nos injustiçados socialmente, nos que pedem justiça. Santo Agostinho disse: “Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em Ti”.

Nos quarenta e três anos em que foi vigário da Paróquia do Santíssimo Sacramento, o Cônego Crescêncio Lanciotti conseguiu fazer da Semana Santa a grande festa da fraternidade. Escrevendo e convidando aos cantagalenses ausentes a passarem a Páscoa em Cantagalo, ele conseguia reunir, como uma grande família, quase uma centena de pessoas ausentes de nossa terra. Ele foi o grande símbolo do cristianismo em grande região do Estado do Rio de Janeiro!

A todos os leitores uma feliz, alegre, saudável e Santa Páscoa!

 

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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