“A Grande Viagem”, por Dr Júlio Carvalho

Pelé com a camisa do Santos. Foto: Gazeta do Povo.

 

Há 15 dias, escrevendo sobre a seleção brasileira de futebol, relatei a presença de um jovem de 17 anos que fora a grande revelação em 1958, na Suécia. Nesta semana, por força das circunstâncias, volto a escrever sobre o mesmo cidadão, agora como um idoso de 82 anos que viajou para a eternidade.

Depois de um mês de sofrimentos no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, Edson Arantes do Nascimento partiu para a sua última viagem rumo a eternidade.

Até hoje foi o maior ídolo do futebol mundial e creio que será dificilmente superado. Nos campos do mundo inteiro, ficou conhecido e amado, assinalando 1.283 gols de todas as formas possíveis, admirado e aplaudido até pelos adversários.

Nascido em Minas Gerais, terra que gerou figuras históricas como Tiradentes; artistas como Aleijadinho; políticos como JK, Tancredo Neves e tantos outros; escritores como Guimarães Rosa; das serras mineiras também teria que nascer o gênio do futebol. E Três Corações foi o município premiado para ser o berço natal de Pelé.

Há muitos anos, de férias em São Lourenço, fiz questão de pilotar o carro por vários quilômetros, para conhecer Três Corações, em companhia de Letícia e de Marcio, ainda menino bem pequeno. Valeu a pena! Na cidade, existe na praça pública um belo monumento de Pelé, provavelmente seu filho mais ilustre.

 

Pelé e Zico juntos pelo Flamengo em 1979. Foto: Reprodução
Pelé e Zico juntos pelo Flamengo em 1979. Foto: Reprodução

 

No Brasil, Pelé só jogou pelo Santos F.C., onde, aos 16 anos, já fazia parte do time principal. Em 1979, quando pesadas chuvas causaram enormes danos em Minas Gerais, houve um jogo beneficente, no Maracanã, entre Flamengo e Atlético Mineiro. Pelé fez questão de jogar pelo Flamengo ao lado de Zico e outros grandes do time rubro-negro. Durante a partida, ocorreu um pênalti contra o Atlético, Zico entregou a bola para Pelé cobrar a penalidade. Todavia, ele devolveu a pelota para que Zico fosse o batedor; pura elegância esportiva!

Em outra ocasião, Pelé aparece com o uniforme do CR Vasco da Gama. Foi quando formaram um combinado Vasco da Gama e Santos, para uma partida contra o Belenense de Portugal. No Brasil, foi sempre do Santos.

 

Pelé com a camisa do Vasco (Foto: reprodução/Memória Vascaína)
Pelé com a camisa do Vasco (Foto: reprodução/Memória Vascaína)

 

No final da carreira, jogou durante três anos no Cosmo de Nova York, tentando tornar popular o futebol nos Estados Unidos; mas, ao retornar para o Brasil, o futebol não avançou no país do norte das Américas.

Creio que Pelé foi o maior vencedor de campeonatos e torneios no Brasil, ou talvez no mundo; foram 10 campeonatos paulistas, 3 torneios Rio-São Paulo, 6 campeonatos brasileiros, 2 Libertadores, 2 Copas Intercontinentais, 3 copas do mundo (1958,62 e 70) e 1 Liga dos EUA.

Em quase todos campeonatos conquistados, Pelé aparecia, também, como o principal artilheiro: 11 vezes em campeonatos paulistas, 1 vez no Torneio Rio-São Paulo, 3 vezes no Brasileiro, 1 vez na Libertadores, 2 vezes na Copa Intercontinental e 1 vez na Copa América.

Durante sua atividade futebolística, Pelé foi um dos atletas mais premiados: em 1958, na Suécia, recebeu o prêmio de Melhor Jogador Jovem; em 1959, melhor jogador da Copa América; em 1970, no México, Melhor Jogador da Copa do Mundo; em 2014, Melhor do Mundo pela Fifa; sete vezes Bola de Ouro pela revista especializada France Football; em 2000, Melhor Jogador do Século XX (pela Fifa); Maior Atleta do Século XX (pelo Comitê Olímpico Internacional) e Prêmio Laureus pela carreira. Em um só ano, três prêmios importantíssimos. Foram 14 prêmios durante a carreira, sem contar os troféus recebidos por campeonatos conquistados e artilheiros de múltiplas competições. Todos os prêmios e medalhas que recebeu durante sua atividade esportiva ocupariam várias prateleiras de um museu.

 

Em 1958, Pelé participou de sua primeira Copa do Mundo com apenas 17 anos. Foto: Acervo/Gazeta Press
Em 1958, Pelé participou de sua primeira Copa do Mundo com apenas 17 anos. Foto: Acervo/Gazeta Press

 

Em 02/10/1974, em jogo contra a Ponte Preta, Pelé se despediu do Santos FC. Todavia, no ano seguinte, assinou um contrato milionário com o Cosmos de Nova York, procurando difundir o futebol nos Estados Unidos. Lá permaneceu por três anos, assinalando 65 gols pelo clube norte-americano.

Aos 38 anos, Pelé encerra suas atividades esportivas. Todavia, ele ainda aparece em outros ramos da atividade humana: no cinema, aos 22 anos, participou de O Rei Pelé; em 1981, em um filme de Hollywood, Fuga para a Vitória, participando do festival de Cannes.

No Brasil, esteve presente no filme Os Trapalhões e o Rei do Futebol, assistido por cerca de 3,6 milhões de pessoas; além de documentários: “Isto é Pelé” e “Pelé Eterno”. Em novelas, Pelé também esteve presente, poucas vezes. Foi compositor de duas músicas e gravou um disco com Elis Regina.

A incomensurável grandeza de Pelé extrapolou as fronteiras nacionais, chegando a todos os países do planeta Terra, numa época em que a mídia era muito inferior a atual.

Fora do futebol, Pelé foi também figura de destaque. Em 1955, no governo de Fernando Henrique, foi Ministro de Esportes, criando a Lei Pelé, que acabava com o passe do jogador como propriedade do clube, passando o atleta a ser proprietário dos seus direitos econômicos.

 

Em 1999, Pelé foi eleito pela Fifa como o melhor jogador do século XX. Foto: Acervo/Gazeta Press
Em 1999, Pelé foi eleito pela Fifa como o melhor jogador do século XX. Foto: Acervo/Gazeta Press

 

Pelé recebeu, ainda, outras honrarias: a Fifa o designou Embaixador Mundial do Futebol; o Comitê Olímpico Internacional o elegeu Atleta do Século XX; em 1977, a ONU o designou Cidadão do Mundo; em 1993, a Unesco o considerou Embaixador da Boa Vontade. A grande revista Time o colocou na lista das 100 maiores personalidades do século XX. Em 1997, recebeu das mãos da rainha Elizabeth II, da Inglaterra, a condecoração de Cavaleiro da Coroa Britânica. Pelé levou o nome do Brasil a todos os continentes do mundo, foi o grande embaixador do Brasil!

Autoridades de vários países se manifestaram pesarosas no falecimento de Pelé, o mesmo acontecendo com clubes importantes e atletas famosos, como Messi, Cristiano Ronaldo, Mbappé e outros.

Vindo para o seu velório, o presidente da Fifa, o italiano Gianni Infantino, declarou que o trabalho de Pelé para o futebol internacional foi tão grande que em cada país deveria ser construído um estádio com o nome de Pelé.

 

Em 1970, Pelé fez história novamente ao conquistar o tricampeonato mundial com a Seleção Brasileira. Foto: Aldo Liverani/Icon Sport
Em 1970, Pelé fez história novamente ao conquistar o tricampeonato mundial com a Seleção Brasileira. Foto: Aldo Liverani/Icon Sport

 

Por falar nisso, em Maceió, existe o estádio Rei Pelé; inaugurado com um jogo entre o meu querido Flamenguinho AC e uma seleção local. Na época, o presidente do nosso clube era o Dr. Osmar de Souza Vieira e o Diretor Técnico Afonso Celso Bath, enquanto o clube cantagalense havia sido vice-campeão fluminense de futebol amador, representando o município de Cantagalo. No estádio Rei Pelé, existe uma placa alusiva ao encontro. O clube cantagalense viajou a Maceió em ônibus cedido pelo governo fluminense.

Certa vez, há muitos anos, li um relatório médico sobre a seleção brasileira em que dois atletas eram considerados possuidores de físico perfeito para a prática do futebol: Nilton Santos e Pelé. Foram dois expoentes das nossas seleções!

Ao completar 80 anos, em uma entrevista, Pelé declarou que um dia Edson Arantes do Nascimento morreria e seria sepultado, mas que Pelé seria eterno. Concordo plenamente, Edson já está sepultado em Santos, mas Pelé será eterno por tudo que realizou pelo esporte e pelo Brasil!

 

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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