“A primeira vez de Paris”, por Amanda de Moraes

Rebeca Andrade é reverenciada nas Olimpiadas 2024 após medalha de ouro no solo

Rebeca Andrade é reverenciada nas Olimpiadas 2024 após medalha de ouro no solo

Quem diria que, em pleno ano de 2024, atletas mulheres poderiam estar em jogos olímpicos, exercendo suas profissões no esporte? Em 1896, em Atenas, somente homens podiam participar das Olimpíadas. Nas palavras de Pierre de Coubertin, conhecido como fundador dos Jogos Olímpicos Modernos, as competições eram a exaltação solene e periódica do esporte masculino, com o aplauso das mulheres como recompensa.

Já em 1900, com os ventos da boa-nova, mulheres foram admitidas nos jogos parisienses, representando em torno de 2% dos atletas. Esse número, apesar de ser marco histórico, revelou os inúmeros muros de contenção: nos espaços públicos, na religião, no mercado de trabalho, nas artes. Durante todo século 20, a luta prosseguiu a passos firmes, no esporte e fora dele.

Após 124 anos, Paris volta à cena olímpica e aos holofotes. Não pelo simbolismo da Torre Eiffel ou atletas nadando no rio Sena, mas pela paridade de gênero: pela primeira vez, mulheres representam 50% dos participantes. Hoje, elas podem mostrar a Coubertin que não irão contribuir somente com aplausos, independentemente das circunstâncias.

Foram as mulheres que fizeram o Brasil chorar de emoção. Neste momento, são 10 medalhas por participação feminina, incluindo o time misto de judô. Os nossos ouros, até agora, foram conquistados por duas grandes mulheres – Bia Souza e Rebeca Andrade.

Há conquistas, mas há mais desafios. A esgrimista egípcia Nada Hafez, de 26 anos, competiu grávida de sete meses. Flávia Maria de Lima, brasileira, no atletismo, expôs em suas redes sociais uma dura realidade, compartilhada por tantas outras mães: acusação de abandono parental por seu ex-marido, devido à sua dedicação à carreira esportiva. Reflita comigo: algum jogador de futebol já foi acusado de tal infâmia, enquanto se concentrava para uma partida olímpica?

Além disso, houve também atualização de diretrizes sobre a transmissão dos eventos, com orientação para que evitem imagens que consagrem o estereótipo de sexualização da mulher, garantindo cobertura igualitária. O olhar sobre o corpo da mulher ainda diz muito sobre nós, como sociedade.

A liberdade que as mulheres hoje experimentam – mesmo ainda em construção – é fruto de muitas lutas históricas. Para essa parcela da população que foi afastada da participação ativa na sociedade, ser destaque mundial nas competições é motivo de grande celebração. Um pódio, com três mulheres negras ovacionadas no ginásio parisiense lotado e uma brasileira consagrada com a medalha de ouro, é a cena de que valeu a pena a caminhada em nome da igualdade, da potência feminina e do reconhecimento de que mulheres são donas de si e de seu próprio destino.

 

Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes
Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes

Ver anterior

Inea e Ministério Público formalizam termo de compromisso para radares na Região Serrana

Ver próximo

Friburgo Sporting é campeão da Copa Friburgo Sub-15

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Populares

error: Conteúdo protegido !!