“A vida em pedaços”, por Celso Frauches

O poeta popular Zeca Pagodinho tem uns versos, em um dos seus mais populares sucessos musicais, que se coadunam com a minha vida, quando ele diz:

“Deixa a vida me levar (vida leva eu!)
Sou feliz e agradeço
Por tudo que Deus me deu.”

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

Os planos que fiz para a minha vida na idade adulta jamais se realizaram exatamente como planejado. A Faculdade de Direito ficou apenas nos sonhos. Iniciei dois cursos superiores na Universidade Federal Fluminense (UFF) ‒ Geografia e Comunicação Social/Jornalismo ‒ e acabei por trancar a matrícula e a eles jamais voltar. Geografia pela curiosidade das grutas de Cantagalo, graças ao amigo Sebastião Carvalho e seus companheiros de pesquisas na área da espeleologia. Jornalismo por escrever ser o fazer mais fácil para mim e por, de fato, ser um jornalista, com artigos, reportagens, colunas em diversos jornais de Niterói, nas décadas de 50/60.

Faço aqui parênteses, pois acabo de me lembrar dos versos da professora e poeta cantagalense, Andréa Teresinha Ramos Reis, em homenagem a mim, pela Secretaria de Cultura de Cantagalo, por iniciativa de seu titular, Gildomar Bard da Silveira. Em um poema baseado no meu livro HENRIQUE FRAUCHES & CANTAGALO ‒ DUAS HISTÓRIAS QUE SE CRUZAM, Andréa escreveu:

“Nas costas do pai
O menino via melancias
E assim do alto
Celso traçou seus dias.”

A poeta Andréa tinha razão. Eu tracei os meus dias em várias oportunidades. Mas Deus, o criador de tudo e de todos, tinha os seus planos para mim e a minha trajetória foi sendo escrita pela Vida. Aos catorze anos, fui balconista na farmácia do Mário Bon e Nelson de Paula, aos dezessete, escrevente da Delegacia de Polícia de Cantagalo, aos dezoito na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

ALERJ
ALERJ

Na Alerj, exerci vários cargos de confiança, nos trinta e dois anos de atividades como funcionário público. Àquela época, o expediente regular da Alerj era das 13 às 18h, exceto nos dias de sessão extraordinária. Por isso, eu sempre tive outras atividades, no período noturno: secretário do Colégio Cenecista Lara Vilela, dirigido pelo deputado Luiz Braz; revisor do jornal diário Gazeta do Povo (das 22 às 4h); redator e noticiarista do jornal falado O Estado do Rio em Marcha, pela Rádio Mundial, dirigido pelo amigo e jornalista Wilson Kleber; redator e revisor de vários jornais periódicos de Niterói; colunista de alguns diários, com maior dedicação às notícias e fatos de Cantagalo; editei uma revista ‒ Cidade de Cantagalo ‒ dedicada à história de Cantagalo e ao centenário da cidade, em 1957; fui secretário da Prefeitura de Cantagalo, entre 1963 e 1966, colocado à disposição pela Alerj; secretário executivo, durante catorze anos, da Associação Fluminense de Educação (AFE), de Duque de Caxias (RJ), mantenedora da Universidade Grande Rio Prof. José de Souza Herdy ‒ Unigranrio (o Prof. Herdy era natural de Cantagalo, nascido em Santa Rita do Rio Negro, mais tarde Euclidelândia) ; consultor da Universidade Iguaçu (Unig), de Nova Iguaçu (RJ).

Prefeitura Municipal de Cantagalo
Prefeitura Municipal de Cantagalo

Quando a profissão de Técnico de Administração foi regulamentada pela Lei nº 4.769, de 1965, houve a permissão para que os profissionais que comprovassem cinco anos, ou mais, de atividades próprias ao campo profissional de Técnico de Administração, recebessem o respectivo diploma do Conselho Federal de Técnico de Administração. Posteriormente, pela Lei nº 7.321, de 1985, essa profissão passou a ser denominada como Administrador, subordinada à supervisão do Conselho Federal de Administração (CFA). Eu já tinha dez anos no exercício dessas funções, na Alerj. Requeri e obtive o diploma respectivo, que equivale ao título de graduação em Administração, exclusivamente para o exercício da profissão.

Fui, entre 1971 e 1974, colocado pela Alerj à disposição do Ministério da Educação, quando ocupei o cargo de secretário geral do Conselho Federal de Educação (CFE).

Em 1987, aposentei-me na Alerj. Em 1988, mudei-me para Brasília. Nessa cidade, onde residi por 33 anos, exerci, durante esse período, as funções de consultor em planejamento, gestão, avaliação e legislação da educação superior. Publiquei vários livros, em diversas áreas, impressos ou no formato e-book.

Celso Frauches, seus filhos e netos
Celso Frauches, seus filhos e netos

Em Cantagalo, entre 1963/1966, fui secretário do Ginásio Cenecista e professor, para a quarta série do curso ginasial, de Organização Social e Política Brasileira (OSPB). Guardo com muito carinho palavras cheias de elogios da aluna Elena Maria Torres Machado, em homenagem a mim, prestada pela 4ª série ginasial, em 27/10/1964.

Casei, em 1965, com Lêla, tivemos três filhos muito queridos — Leilany, Janina e Ariel —, plantei árvores, criei instituições de educação superior e até escrevi livros, coisas que não estavam nos meus planos de existência.

Em 2020, dei uma guinada de 360º na minha vida. Juntei meus trapos e voltei à minha terra natal —Cantagalo. Casei com um amor eterno, Angela, criei mais um instituto voltado para garimpar memórias e construir história, o Instituto Mão de Luva, em plena atividade.

Não planejei nada disso. E estou aqui, começando nova jornada.

Cantinho da poeta Amélia Thomaz
Saudade

Saudade é a areia moída,
Que devagar, grão em grão,
Cai da ampulheta da vida
E pousa no coração.
(Extraído do livro Alaúde. Cantagalo, RJ: s/Ed., 1954, p. 19).

Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

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