Em 1945, tinha eu dez anos, quando ouvi falar que o C. R. Flamengo havia sido tricampeão carioca de futebol (1942, 43 e 44). Meu pai assinava o “O JORNAL” (órgão líder dos Diários Associados), cadeia de jornais e rádios, propriedade de Assis Chateaubriand. Dias depois, vi uma fotografia em preto e branco do tricampeão carioca: Luiz Borracha, Nilton e Norival; Biguá, Bria e Jayme; Adilson, Zizinho, Pirilo, Perácio e Vevé. Ainda havia Quirino e Tião, que jogaram algumas vezes.
Estava escolhido meu clube para o resto da vida no planeta Terra; não foi simpatia, foi muito mais, foi amor, paixão e emoções vividas até hoje. Depois foram mais cinco tricampeonatos no Rio de Janeiro, três Libertadores e um mundial de clubes no Japão, em 1981: sem falar em uma infinidade de Taças Guanabara e troféus espalhados por esse mundo afora.
Em outras modalidades de esportes, o mesmo sucesso: no basquete carioca, certa vez, o absurdo de ser deca campeão, enquanto no remo, as vitórias se sucediam anualmente.
No último dia 19, mais uma conquista, depois de um empate com o Corinthians, no Maracanã, vitória nos pênaltis, o último cobrado pelo Rodinei, tão criticado por muitos torcedores, mas verdadeira locomotiva, pela sua saúde e força física. Era mais uma taça da Copa do Brasil: nem sei quantas já foram ganhas, creio que quatro.
Dez dias depois, no sábado, 29, outra disputa, dessa vez contra o Athlético Paranaense, em Guayaquil, Equador, na costa do Pacífico da América do Sul, temperatura elevadíssima. Difícil vitória por 1×0, gol de Gabigol, o artilheiro das decisões. Mais uma conquista, desta vez, terceira Libertadores.
Em dez dias, duas conquistas importantíssimas e múltiplas emoções vividas: Copa do Brasil e Libertadores; mas não havia terminado, mais adrenalina seria liberada no dia 30, segundo turno das eleições para Presidente da República.
Vinte e oito dias de péssimas campanhas, nenhum projeto nacional, nenhum programa de governo, apenas ofensas mútuas, baixo nível, jamais visto, nem nas eleições municipais.
Às 17h30, aparecem os primeiros resultados da totalização dos votos. O presidente, candidato à reeleição, se mantém a frente. Às 18h44, é superado pelo candidato oposicionista, que se mantém à frente até o final.
Às 19h08, a Datafolha aponta Lula eleito Presidente do Brasil. Lembro-me da semelhança com o grande líder negro da África do Sul, Mandela, que após ser preso e tuberculoso, é libertado e se torna o maior líder de seu país, lutando contra o terrível preconceito racial e a favor da justiça social.
Às 19h57, o TSE proclama Lula Presidente do Brasil; 50,83% contra 49,17%. Recordei a frase no nosso extraordinário conterrâneo Euclides da Cunha: “O nordestino é, antes de tudo, um forte”. Lula era o escolhido do povo brasileiro pela terceira vez.
No segundo turno dois fatos inéditos ocorreram:
1º — Na história do Brasil, um cidadão ocupará a Presidência da República pela terceira vez.
2º — O atual presidente é o primeiro a não se reeleger para o cargo.
Declarada a vitória de Lula, as praças públicas foram ocupadas pelo povo, comemorando alegremente a vitória do líder trabalhista. Era a volta da alegria!
O novo Presidente terá a árdua missão de pacificar o Brasil; não podemos ser divididos em direita e esquerda; acima de tudo somos um país de dimensões continentais e acentuadas desigualdades sociais que necessitam ser corrigidas com urgência. Afinal, fomos a Terra de Santa Cruz, antes de ser Brasil!