Projeto de lei que valoriza a defesa agropecuária no Rio é aprovado
Júlio Carvalho 
No último fim de semana, resolvi examinar uma pasta em que guardo a correspondência recebida durante o ano de 1989, quando estreava como vereador na Câmara Municipal de Cantagalo.
Nela, encontrei diversas cartas de amigos, alguns residentes na nossa cidade e outros em pontos distantes do território nacional; uns permanecem vivos, enquanto outros se encontram na eternidade, como o médico e amigo, o saudoso Dr. José Maria dos Santos Faria, que jamais abandonou sua querida vila de Boa Sorte, apesar de alguns convites para exercer a medicina em outros locais. Homem de ótimos conhecimentos na arte e ciência de Hipócrates e excelente cultura geral. Carta manuscrita com belíssima caligrafia e frases que demonstram o domínio da língua portuguesa.
Havia, também, cartas dos parentes Alcy e Lucy Bon (São Lourenço – MG), Dr. Geralda Arruda Figueredo (Niterói), Celso da Costa Frauches, residente em Brasília, oferecendo graciosamente seus trabalhos em defesa dos interesses do Hospital de Cantagalo na capital federal; além de várias outras cartas de amigos diversos.
Entre todos os documentos, três me trouxeram saudade; o primeiro é um ofício em papel timbrado, com o brasão da Academia Cantagalense de Letras, fundada em 11 de agosto de 1989, com o seguinte teor:
Cantagalo, 28 de setembro de 1989.
Dr. Júlio Marcos de Souza Carvalho.
Levamos ao conhecimento de Vossa Senhoria, que foi fundada, nesta cidade, a Academia Cantagalense de Letras, cuja inauguração ocorrerá no dia 7 de outubro próximo, às vinte horas, tendo por Patrono da Cadeira nº 24, o inolvidável filho deste torrão, Dr. Joaquim de Souza Carvalho Junior.
Na oportunidade, iteramos a Vossa Senhoria protestos de admiração e respeito.
Assinam o ofício:
Edmo Rodrigues Lutterbach – Presidente
Maria Lúcia Farah Noronha – Vice-presidente
Maria Déa Gerk V. Gomes – Secretária
Fany Pinheiro T. Abrahim – Tesoureira
Eny Chevrand Baptista – Bibliotecária.
Infelizmente, hoje, os dois primeiros signatários são falecidos, empobrecendo a cultura cantagalense acentuadamente.
Junto ao ofício, em outra folha timbrada, o brasão e a sua minuciosa descrição, feita pela querida e saudosa mestra de várias gerações de cantagalenses, Profa. Amélia Tomás, como segue abaixo:
“A Academia Cantagalense de Letras escolheu o seu brasão, obra do escultor Honório Peçanha, que liga ao amor da terra-mãe sua arte inconfundível, que o torna digno da admiração nos meios culturais do país.
O brasão tem um sugestivo desenho, que fala bem alto às almas da terra de Euclides da Cunha e apresenta o seguinte: um escudo esquartelado em prata, em cuja cimeira se leem os dizeres: “Tudo por Cantagalo”. Sobre a legenda, voltado para o nascente, um galo, que pertence ao brasão da cidade e a cujo canto deve ela o seu nome. Ladeiam-no folhas de acanto que descem, emoldurando o escudo e lembram, na sua forma clássica, a cultura e o amor das artes.
No primeiro quartel, em chefe, à direita, as palmeiras senhorais e centenárias, que fazem o encanto da nossa terra, erguem-se, na ânsia suprema de galgar o céu, e, no quartel esquerdo em chefe, três melros esguios recordam os suaves cantores das alvoradas e vésperas do jardim de Cantagalo.
No cantão direito extremo, ostenta o escudo a mão enluvada, em sable, aberta, que fala do fundador de Cantagalo Mão de Luva, o primeiro garimpeiro que explorou ouro nas terras fluminenses e cuja lenda tecida de bravura e de infeliz amor romântico, põe sobre a origem de Cantagalo uma auréola de beleza e de sonho. No quartel esquerdo externo, duas mãos em prata se estreitam, no aperto de mão amiga, significando a hospitalidade tradicional do povo dessa terra, o afeto, o carinho, a bondade e o amor que se abrigam no coração cantagalense, falando do laço de coesão indestrutível, da tradição muito antiga de formarem os cantagalenses uma só família, no amparo e na defesa de sua terra natal”.
Amélia Tomás.
Em outro envelope menor, o convite para a inauguração da Academia Cantagalense de Letras, às 20 horas, do dia 7 de outubro de 1989, no salão do FAC, rua Euclides da Cunha, 105, Cantagalo – RJ. A Patrona da Academia era AMÉLIA THOMAZ.
O Presidente da Academia, Dr. Edmo Rodrigues Lutterbach, profundo conhecedor da história de Cantagalo, teve o cuidado de colocar patronos, nas cinquenta cadeiras da Academia cantagalenses, que, com o trabalho e a cultura, construíram a história de Cantagalo.
No dia da inauguração, foram empossados coletivamente os 22 membros fundadores, terminando a solenidade com um coquetel oferecido pelo prefeito de Cantagalo, naquela época, o Sr. Geraldo Pires Guimarães.
Creio que a última solenidade da Academia Cantagalense de Letras ocorreu no salão nobre do Fórum de Cantagalo, no dia em que foi empossada a cantagalense Profa. Carmem Marques Freire da Silva, já falecida, que ocupou a cadeira 32, cujo Patrono é seu avô materno Dr. Júlio Veríssimo da Silva Santos.
Infelizmente, por fatores diversos, as atividades da Academia não prosperaram, embora Cantagalo tenha sido o primeiro município de uma vastíssima região do estado do Rio de Janeiro, hoje ocupada por treze municípios fluminenses, de onde a cultura, a política e a economia se irradiaram.
Dos 22 membros fundadores, alguns permanecem vivos, embora 34 anos mais velhos. Seria uma ótima oportunidade de renascimento da Academia Cantagalense de Letras o dia da inauguração do Centro Cultural Amélia Thomaz, imortal Patrona da Academia Cantagalense de Letras. Fica lançada a ideia!
