Superthal e Caravana da Coca-Cola fazem noite mágica em Bom Jardim
Identificamos com facilidade os defeitos e as faltas ao nosso redor: “O outro sempre pode melhorar. Não faz, porque não quer. Escolhe, deliberadamente, não mudar o seu mindset.”
As fórmulas da perfeição, há tempos guardadas a sete chaves, já foram liberadas pelos coachs. Para acessá-las, basta um curso de final de semana, para qualquer área da sua vida: life coach, mental coach, coach jurídico, coach de relacionamento. Como se fôssemos robôs de uma linha de produção em massa, nos quais bastam pequenos ajustes para resolver o problema. O curioso é que, com tantas soluções para o sucesso, ainda estamos imersos em um lamaçal (aqui, uma breve metáfora para ilustrar um cenário sensacionalista contemporâneo).
O óbvio precisa ser exposto. Por detrás de cada pessoa, existe uma vida de complexos acontecimentos, desde a nossa infância, que ainda influenciam os nossos dias. Adultos lidando com questões de quando eram crianças. Cada indivíduo possui fatores (tais quais biológicos e sociais) – isso o distingue dos demais seres humanos. Toda pessoa sofre a pressão do ambiente em que está inserido.
Tendemos a julgar as pessoas pela nossa história, mas não pelo caminho percorrido por elas. A melhoria que desejamos é um processo complexo, muito além de alguns dias de imersão, com discursos eufóricos, sofismos, platitudes, técnicas de manipulação e uso hiperbólico da salvação e do medo.
É necessário olhar para a dificuldade de acesso de considerável parcela da população a questões básicas para o desenvolvimento integral do ser humano, que vai desde a alimentação decente, o acesso à cultura e a percepção e entendimento sobre si mesmo e o mundo no qual a pessoa está inserida. Como cobrar prosperidade de alguém que sente fome?
Diz o Bispo de Digne (Os Miseráveis, de Victor Hugo, ed. Nova Fronteira): “Àqueles que não sabem algo, ensinem o quanto puder; a sociedade é a culpada por não oferecer gratuitamente uma instrução: é responsável pela noite que produz. O pecado é cometido em uma alma que está cheia de sombras.”
E isso me fez lembrar a cena de uma pessoa com deficiência, em um dos eventos para os códigos da riqueza, em que ela acreditou voltar a andar, dada a ênfase na oratória do coach. Aos poucos, sem que conseguisse se apoiar em pé, o charlatanismo era transmitido ao vivo. Parafraseando o citado Bispo de Digne: nós, a sociedade, quando damos voz e palco para quem ludibria, sem ética e instrução, avalizamos uma noite fria e gélida na vida daqueles que não têm ainda discernimento e crítica.
Que sejamos responsáveis ao lidar com quaisquer aconselhamentos à vida do outro. Lá, existe um alguém sobre quem não sabemos tanto assim. Aliás, de perto, somos normais?