“Alberto Thomaz: uma vida para servir”, por Celso Frauches

Vista da sede da Fazenda Bom Sucesso, administrada por Alberto Augusto Thomaz, em Cordeiro, então 3º distrito de Cantagalo

Vista da sede da Fazenda Bom Sucesso, administrada por Alberto Augusto Thomaz, em Cordeiro, então 3º distrito de Cantagalo

Foto de capa: Vista da sede da Fazenda Bom Sucesso, administrada por Alberto Augusto Thomaz, em Cordeiro, então 3º distrito de Cantagalo

 

O seleiro Jacques Antoine Thomas, nascido em 1º de novembro de 1799, francófono, católico, solteiro, chegou ao Brasil, oriundo do cantão suíço de Fribourg, aos dezenove anos de idade. Era mais um imigrante suíço para a Colônia Nova Friburgo, como contratado por D. João VI com os governantes do citado cantão. Em 1820, ocupava a casa 15 e o lote 97. Em 1824, esses imóveis estavam totalmente abandonados.

Segundo o pesquisador, historiador e escritor Henrique Bon, em seu excelente livro Imigrantes – a saga do primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da independência (Nova Friburgo, RJ: Imagem Virtual, 2004), Jacques Antoine Thomas permanece na colônia Nova Friburgo, onde se casa, em 9 de julho de 1821, com Josette Gavillet. Ela era imigrante francófona, oriunda de Chavannes-les-Forts, Fribourg.

Da família Thomas, que veio a bordo do Urânia, faleceram, durante a viagem até a Colônia, Pierre, Claudine Consendey, Jean-Nicolas, Joseph, Marie e Marie Josephine. Sobreviveram Josette e Mariette.

Jacques Antoine Thomas e Josette Gavillet Thomas mudaram para Cantagalo, possivelmente, em 1824. Aqui constituíram família e tiveram seis filhos: Maria Izabel, Maria Luíza, Maria Joanna, José Augusto, Elisa Anna e Carolina. Jose Augusto Thomás nasceu em 12 de novembro de 1831. Casou-se com Anna Josephina, em Cantagalo. Alcançou a patente de capitão em 18 de outubro de 1894; em 1894 era juiz de paz.

Jose Augusto Thomás e Anna Josephina tiveram quatro filhos: Joaquim Augusto, Alberto Augusto, Izolina, e Amélia Augusto, casada com Arnaldo Dietrich.

Alberto Augusto Thomaz nasceu em 13 de março de 1867. Fez o curso primário em Nova Friburgo, no Colégio Alberto Meyer; os demais estudos básicos foram realizados no Colégio Alberto Brandão, no Rio de Janeiro. Entre outros educadores ilustres, teve como professor Lameira de Andrade. Pretendia cursar Medicina, mas uma cisão entre alunos e o professor de francês fez com que ele perdesse a formação necessária para ingresso nesse curso superior.

Desiludido, voltou para Cantagalo, a fim de morar com os pais, estabelecidos no famoso Hotel das Palmeiras, situada na antiga rua Direita, que fica à esquerda de quem entra na cidade, hoje, rua Chapot Prevost. Foi trabalhar na então vila de Cordeiro, em casa comercial de um imigrante português, um patrão à moda antiga, uma espécie de capataz de escravos.

Tendo adoecido em virtude do ambiente nocivo de trabalho, seu padrinho de batismo, João Albino Dias da Silva, levou-o para a fazenda Bom Sucesso, de sua propriedade, que ficava no distrito de Cordeiro. Alberto adorou a vida rural, a paz dos campos, o contato com a natureza, as noites estreladas, o canto dos pássaros. Tendo a confiança do proprietário, passou a administrar a fazenda.

 

Escola Municipal Alberto Augusto Thomaz
Escola Municipal Alberto Augusto Thomaz, em Cantagalo

 

Dom Pedro II, por intermédio da princesa Izabel, aboliu a escravatura em 13 de maio de 1888. Muitos proprietários hipotecaram as fazendas à Cia. Nova Era, para salvar os bens e solver os compromissos financeiros. Essa decisão trouxe o caos para os fazendeiros da região. João Albino Dias da Silva, desiludido, hipotecou a propriedade, mas abandonou-a, com dívidas, nas mãos do afilhado, Alberto Thomaz, nosso biografado, indo residir em Nova Friburgo.

Alberto aceitou o desafio, continuou a administrar a fazenda Bom Sucesso com a liberdade e a responsabilidade que lhe foram confiadas pelo padrinho. Dirigia os empregados libertos e outros que vieram trabalhar na propriedade, atraídos pela firme posição de Thomaz, que já havia conquistado a admiração de escravos e libertos.

O café era a principal fonte de renda, assim como a cana-de-açúcar, que alimentava o engenho para a fabricação de rapadura, álcool e cachaça. Quitou, em pouco tempo, todas as dívidas contraídas pelo padrinho. A fazenda ficou livre de qualquer ônus, fato que trouxe o respeito e a admiração de seus companheiros de luta e da classe política dominante no agora município de São Pedro de Cantagalo, criado em decreto de 9 de março de 1814.

Na primeira eleição municipal, é eleito vereador e, em seguida, presidente da Câmara Municipal e, na qualidade de Intendente, passou a administrar o município. Em 10 de março de 1814, transformou-se no primeiro prefeito de São Pedro de Cantagalo. Nessa qualidade, era um verdadeiro servidor público. Servia à população. Não dela se servia. Era um conciliador. Para ele não havia inimigos, mas somente adversários políticos. Um exemplo pouco seguido pelos políticos do século 21.

Consagrado como gestor público e da livre iniciativa, participou da vereança em diversas legislaturas, merecendo o voto dos habitantes que conheciam o seu caráter e o seu perfil de administrador.

Quando assumiu a Prefeitura, o recém-criado município estava sufocado em dívidas. Como distrito de Novas Minas de Cantagalo, pertencente a Santo Antônio de Sá, era administrado por pessoas que serviam ao referido município, sem ligação histórica ou profissional com as terras descobertas e exploradas pelo garimpeiro Manuel Henriques, o Mão de Luva, até 1786. Promoveu melhoramentos na cidade e nos distritos com os recursos que conseguiu economizar. Deixou o erário municipal com superavit.

Com apoio da classe política cantagalense, foi candidato único ao cargo de primeiro prefeito de São Pedro de Cantagalo. Era a consagração de um homem que nasceu para servir. Caráter rijo, independente, não se submetia a injunções políticas do tipo atual – “toma lá dá cá”. Alma nobre, que se elevava natural e completamente.

Ao ser consagrado pelo eleitorado como o primeiro prefeito do município de São Pedro de Cantagalo, destaco o seguinte trecho em seu discurso:

Quisestes que o seu primeiro Prefeito fosse tirado entre os homens do trabalho e mal escolhestes, porque este, em que recaiu a vossa escolha, já um pouco cansado de tantas lutas, não poderá certamente corresponder a todas as vossas aspirações. Ficai certos, no entanto, que no cargo de honra do qual me acho investido, serei um fiel cumpridor de meus deveres, tendo diante de mim a lei”.

Renunciou ao cargo pouco tempo depois da posse, em virtude de alguns de seus correligionários desejarem degradar as leis. O “toma lá dá cá” é antigo; idem a corrupção.

 

Anúncio da Caixa Rural de Cantagalo, fundada por Alberto Augusto Thomaz
Anúncio da Caixa Rural de Cantagalo, fundada por Alberto Augusto Thomaz

 

Alberto Thomaz foi um dos fundadores das Caixas Rurais, entidade que abrangia muitos municípios. Pensou em transformar a Caixa em Banco de Cantagalo, fato consumado após o seu falecimento, em 3 de agosto de 1931, no início da Era Vargas, quando Acácio Ferreira Dias era o prefeito do município de Cantagalo.

Alberto Augusto Thomaz casou-se, em 1891, com Olga Herdy Brito, filha de Luiz Gonçalves de Brito e de Catharina van Icn Herdy Brito, de origem alemã, professora de artes. O casal teve oito filhos: Amélia Olga – a poeta, escritora e professora Amélia Tomás −, Hermínia, Alberto Augusto, Abelardo Augusto, José Augusto, Carlos Alberto.

Em Cantagalo, a única homenagem que recebeu foi ser o patrono de uma escola municipal. Pouquíssimo para um ser humano que dedicou a sua vida a servir sem procurar qualquer reconhecimento.

Fontes: BON, Henrique : com a colaboração de Márcia Salomone. Imigrantes – A saga do primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da independência. Nova Friburgo, RJ: Imagem Virtual, 2004, 2ª ed. rev. e ampl.; TOMÁS, Amélia. Gente da Casa de Mão de Luva. Cantagalo, RJ: Tipocan, 1978.

 

Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

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Um Comentário

  • Adorei a pesquisa ! Parabéns !

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