Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Diversos deputados de diferentes matizes ideológicos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) condenaram os casos de racismo contra o jogador da seleção brasileira Vinícius Júnior ocorridos na Espanha. Durante a sessão plenária desta terça-feira (23/05), o presidente da Alerj, deputado Rodrigo Bacellar (PL), concedeu um minuto de silêncio em solidariedade ao jogador. Os parlamentares também apresentaram projeto de lei para combater o racismo no futebol, bem como homenagens o craque do time Real Madrid com a Medalha Tiradentes, maior honraria concedida pela Casa.
Autor do pedido de silêncio em apoio ao atleta brasileiro, o deputado Vitor Júnior (PDT) deu a dimensão da gravidade da situação. “Um garoto de 22 anos, nascido em São Gonçalo, sofreu uma agressão brutal de racismo. Esse ataque que ele sofreu foi tão grande que esta Casa não pode deixar de se manifestar”, disse o parlamentar. Ele, inclusive, solicitou que todos os deputados assinem uma moção de apoio ao jogador.
Natural da mesma cidade de Vinícius Jr, o deputado são-gonçalense Professor Josemar (PSol) destacou que deu entrada no Projeto de Lei 1.112/23, que institui a Política Estadual Vini Jr. de Combate ao Racismo nos Estádios e Arenas Esportivas do Rio. “O racismo precisa ser superado. Apresentei esta proposta para combater estas práticas aqui no Brasil. É necessário fazer o debate com o intuito de avançarmos contra estes atos, inclusive com um protocolo de ação dentro das torcidas”, disse o parlamentar, que é presidente da Comissão da Alerj de Combate às Discriminações.
Medalha Tiradentes
A deputada Verônica Lima (PT), presidente da Comissão de Cultura do Parlamento Fluminense, também protocolizou o Projeto de Resolução 148/23, que concede a Medalha Tiradentes, principal comenda da Alerj, ao jogador brasileiro. “O futebol para o povo brasileiro significa a possibilidade de ascensão social e econômica de muitos jovens e adolescentes que se inspiram nos atletas de alta performance, como o Vini Jr. Então, quando atacam esses atletas também estão atacando milhares de meninos e meninas que têm no futebol e na figura desses atletas uma referência positiva. Ainda estão atacando a cultura brasileira, o jeito brasileiro e uma das maneiras de gerar riqueza em nosso país, pois o futebol movimenta muito nossa economia”, lamentou.
Um dos decanos da Alerj, o deputado Luiz Paulo (PSD) lembrou que o atacante brasileiro não sofreu apenas um caso de racismo e que esses episódios não são isolados. “Foram nove casos sucessivos ao longo de um ano e meio, que ocorreram nos mais diversos estádios da Espanha, sendo que nenhuma providência foi tomada pela La Liga (Primeira Divisão de Futebol Espanhol). Vini Jr. tem demonstrado que sabe resistir com grandiosidade. O Brasil já se posicionou oficialmente e foram muitos apoios ao jogador, achei simbólico o Cristo Redentor ficar sem iluminação, com demonstração do repúdio ao racismo. O futebol, que envolve paixões de milhões, hoje está mergulhado em um mar de lama”, afirmou o parlamentar.
Diversos outros deputados também se pronunciaram em plenário. “Só atiram pedra em árvore que dá fruto. Esse brasileiro está fazendo um excepcional trabalho representando o nosso país e mostrando um excelente futebol. Que ele utilize isso como combustível para que cada vez mais dê o exemplo de serenidade e tranquilidade. Espero que os racistas, aqueles que estavam fazendo aquela vergonha, vejam o Vini se tornar o melhor jogador do mundo”, concluiu Marcelo Dino (União).
Entenda o caso de racismo
Durante o jogo entre o Real Madrid e Valência, ocorrido no último domingo (21/05), no Estádio Mestalla, a torcida valenciana gritou insultos como “macaco” direcionados ao jogador do Real Madrid. A partida foi interrompida e até o locutor do estádio teve que pedir para que torcedores parassem de insultar o atacante para que a partida pudesse ser reiniciada.
Já nos minutos finais do jogo, o goleiro do Valência, Mamardashvili, partiu para cima de Vini Jr, iniciando uma confusão generalizada. Vinícius sofreu uma espécie de ‘mata-leão’ do jogador Hugo Duro, foi empurrado e, ao reagir, acabou sendo expulso após análise do VAR. Nada aconteceu com os jogadores do Valência.
Entre outros casos de racismo envolvendo o atleta brasileiro na Espanha, um de maior destaque ocorreu em janeiro deste ano, quando torcedores do Atlético de Madrid penduraram em uma ponte da capital espanhola um boneco com a camisa do Vinícius Júnior e uma faixa escrita “Madri odeia o Real”.
RELEMBRE – Origem
A origem de Vinícius Júnior é toda atribuída a São Gonçalo, segundo município mais populoso do Rio, na Região Metropolitana do estado. Foi a 175 quilômetros dali, no entanto, que Vinícius passou seu primeiro mês de vida, na pequena cidade de Macuco, na Região Serrana, onde também viveu vários momentos da infância e da adolescência. Tudo na casa da tia-avó Sônia Nascimento, que acompanhou de perto o crescimento do jovem craque do Real Madrid.
“Esse lugar tem história para contar. Ele jogava tanta bola que me incomodava. Eu falava para a Maninha (apelido da mãe, Fernanda Cristina): ‘Esse menino vai ficar maluco de tanto chutar a bola na parede. Tem que parar um pouco’. Ele já tinha aquele negócio de ser jogador mesmo. Sempre foi muito dedicado ao futebol e nunca quis desistir”, lembra Sônia.
Parto complicado
O perfil de Vinícius era incompatível com a pompa de alguém que vale 45 milhões de euros – cerca de R$ 200 milhões. Sossegado, preferia ficar em casa na companhia de pais, irmãos, tios e primos. Aliás, só mesmo no mundo do futebol que o jogador de 18 anos é conhecido como Vinícius Júnior. “A família toda chama de Juninho. Eu não consigo falar Vinícius Júnior. É o Juninho”, conta a tia-avó.
Criada em Macuco, como toda sua família, a mãe do Juninho já morava em São Gonçalo, mas viajou 175 km para estar perto da tia nos momentos finais da gestação de seu segundo filho. O parto de Vinícius aconteceu em São Sebastião do Alto, porque Macuco, município emancipado só em 1995, não possui uma maternidade, e realiza convênios com hospitais de cidades vizinhas. Em se tratando de interior, o médico, independentemente da especialidade, precisa se virar.
Foi o caso de Demétrius Coube, ortopedista que estava de plantão em São Sebastião, em 9 de julho de 2000. Fernanda Cristina deu entrada no hospital já no chamado período expulsivo. O parto foi normal, mas teve complicações. “Ele nasceu com dificuldade respiratória. Precisou ficar na incubadora por seis horas”, revela o médico, que lembra vividamente do episódio de 18 anos atrás.
(Matéria publicada no JORNAL DO BRASIL, escrita pelo jornalista Guilherme Bianchini, em 15 de agosto de 2018)