“Algo está errado”, por Dr Júlio Carvalho

Em 1915, Cantagalo foi uma das primeiras cidades do estado do Rio de Janeiro a receber os benefícios da energia elétrica, através da Companhia Ibero-Americana, iniciativa de um espanhol de nome Antônio Castro.

Este cidadão era proprietário de um verdadeiro império econômico; além da Ibero Americana, era proprietário da Fazenda da Aldeia (600 alqueires), congelação de leite, que era exportado para o Rio de Janeiro e outras cidades, via E.F. Leopoldina; Fábrica de Tecidos Nossa Senhora da Piedade (fabricava sacos de algodão); Sociedade Anônima Empresa Antônio Castro (comprava toda produção da fábrica) e Banco de Cordeiro (estes três últimos em Cordeiro); além de escritórios, imóveis e uma bela residência, em sobrado, na rua Pe. Antônio Vieira, em Copacabana.

A primeira usina hidroelétrica foi construída, em Cantagalo, na localidade denominada Chave do Vaz, em virtude de uma parada que a Leopoldina Raillwai ali mantinha, na margem direita do Rio Negro. Como a usina a ser construída ficasse na margem esquerda, o governo estadual construiu uma ponte de concreto sobre o referido rio.

O material e máquinas para a usina eram conduzidos pela Leopoldina e desembarcados em um desvio existente na Chave do Vaz. Depois, levados em carretas puxadas por bois até o local da construção, distante 10 km da sede do nosso município. Nessa usina, durante muitos anos, existiram duas máquinas geradoras de energia.

 

Ponte sobre o canal da Usina Hidrelétrica Ilha dos Pombos, em foto tirada no dia 15/03/1928. Foto: Acervo Memória da Eletricidade.
Ponte sobre o canal da Usina Hidrelétrica Ilha dos Pombos, em foto tirada no dia 15/03/1928. Foto: Acervo Memória da Eletricidade.

 

A Ibero Americana fornecia energia elétrica de Cantagalo até São Fidélis e mantinha um escritório central em nossa cidade e representações em alguns municípios. Durante muitos anos, foi gerenciada pelo Sr. Manoel Martines Corbal, casado com a Sra. Elvira Castro Corbal, sobrinha do Sr. Antônio Castro.

A empresa tinha poucos veículos e vários funcionários. Lembro-me de alguns: Delvino Moura, Carlos Assis, José Monteiro, Aristides Teixeira, membros das famílias Guimarães e Ribeiro; além de outros que não me lembro depois de tantos anos.

O importante é que, embora a potência da usina não fosse enorme, a energia estava sempre presente e as cidades iluminadas. Quando ocorria alguma falha, o Sr. Corbal partia com sua equipe de trabalho em seu carro e o problema era solucionado de modo rápido.

Mais tarde, a Ibero Americana construiu uma segunda usina, abaixo de Euclidelândia, também no Rio Negro, aumentando a sua potência e se modernizando. Desse modo, Cantagalo, como primeiro núcleo habitacional da região, não só irradiou a civilização para grande parte do território fluminense, como irradiou luz e energia para mesma região, a partir de 1915.

Na década de 1960, quando o governador Roberto Silveira criou a estatal CERJ, a Ibero Americana foi incorporada, melhorando a situação com a interligação das hidroelétricas fluminenses.

Com o correr do tempo, entramos na época das privatizações, algumas até bem duvidosas quanto aos benefícios para a população. Tivemos a Chilectra, a Ampla e, agora, Enel.

 

A Usina Hidrelétrica de Ilha dos Pombos encontra-se implantada no curso principal do Rio Paraíba do Sul, na altura do km 180, medido a partir da foz, na divisa entre os municípios de Carmo - RJ e Além Paraíba - MG. Foto: Halley Pacheco de Oliveira / Wikipédia, em 12/12/2014
A Usina Hidrelétrica de Ilha dos Pombos encontra-se implantada no curso principal do Rio Paraíba do Sul, na altura do km 180, medido a partir da foz, na divisa entre os municípios de Carmo – RJ e Além Paraíba – MG. Foto: Halley Pacheco de Oliveira / Wikipédia, em 12/12/2014

 

A atual empresa, não sei se brasileira ou estrangeira, criou várias modificações no interior: vendeu seus imóveis em Cantagalo, entregando sua representação a um escritório na Rua Barão de Cantagalo. Este realizou o serviço por cerca de uns 40 dias. Agora, a representação é feita por outro escritório, na rua Getúlio Vargas, onde sou bem atendido. Nenhuma queixa.

O problema ocorre quando falta energia. Há cerca de cinco meses, faltou energia elétrica em minha propriedade rural; liguei para 0800 280 0120, cerca das 13h. A atendente, com sotaque nordestino, me atendeu bem e disse que a solução seria dentro de 4 horas. Deixei o telefone de contato.

No dia seguinte, as 10h, atendo o telefone e um cidadão se identifica como o funcionário da Enel que viera de Macaé para prestar o socorro por mim solicitado na véspera. Disse-me não conhecer a região e queria saber como chegar ao local. Depois de lhe explicar minuciosamente, chegou ao local e resolveu o problema, 21 horas depois do solicitado.

Em outro dia, caminhava pela rua Euclides da Cunha, e um carro da Enel estava parado com dois funcionários. Um deles me pede uma informação sobre um local, dou a informação e ele me diz que haviam vindo de Niterói para fazer um atendimento, mas não conheciam a região.

Em novembro, outra vez fico sem energia na zona rural, solicito socorro às 16h. Prazo de cerca de 4 horas. O socorro chega no dia seguinte, às 9h40. Depois de 17 horas e 40 minutos da solicitação.

No dia 3 de fevereiro, sexta-feira, por volta das 16h30, um curto-circuito causa um incêndio em um poste na rua Leontino Felipe Richa, no centro da cidade. Passa então um carro da Enel, um cidadão faz sinal para parar e ele informa que não era serviço deles. Quarenta minutos depois, chega o Corpo de Bombeiros e resolve o problema do fogo. Nessa altura um grosso cabo já havia caído sobre a calçada do Banco do Brasil e muitos fios queimados.

Parabéns para nossa Polícia Militar, pois um carro ocupado por dois sargentos, ao constatarem o fogo, estacionou junto ao Turismo Hotel e isolaram a região, até a chegada dos bombeiros.

 

Poste pegando fogo no centro de Cantagalo, no dia 3 de fevereiro
Poste pegando fogo no centro de Cantagalo, no dia 3 de fevereiro

 

Finalmente, no último domingo, dia 5, os fortes ventos danificaram o sistema elétrico, permanecendo vários pontos sem iluminação a partir das 17h. No dia seguinte, pela manhã, liguei para comunicar que a rua Rodolfo Albino estava sem luz do início ao número 128. Ao clicar o nº 2, falta de luz, uma gravação informou: “comunicamos que a Enel está tomando as providências para corrigir o problema”. E ponto final!

Às 18h, continuando a mesma situação, voltei a ligar o 0800. Dessa vez foi mais interessante, entrou uma gravação direta: “Comunicamos que em virtude das fortes chuvas várias localidades estão sem energia elétrica. A Enel está tomando todas as providências para resolver o problema”. Desligou e mais nada. Total desrespeito com os usuários! São donos do mundo!

A luz foi restabelecida na rua Rodolfo Albino às 21h. Permanecemos 28 horas e 30 minutos sem energia elétrica, em tempo de paz, sem nenhuma guerra. Será que está certo?

Até quando estas coisas continuarão acontecendo? Estou com saudade da Ibero Americana da minha juventude!

 

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

Ver anterior

Sessão de abertura da Assembleia Legislativa conta com representantes do Executivo e Judiciário

Ver próximo

GENTE DE EXPRESSÃO – Edição 1664

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Populares

error: Conteúdo protegido !!