“Almek: uma história de vida”, por Celso Frauches

Voltamos a Boa Sorte no último dia 6, agora para conhecer a família Gualberto/Couto.

Tudo começou com o patriarca, Gelber Rodrigues do Couto, nascido em Itaocara, em 26 de junho de 1943, tendo ao lado a esposa, Therezinha Gualberto do Couto, também de Itaocara, nascida em 22 de junho de 1942. Dessa união, nasceram três filhos: Alandark, Sadraks, em Itaocara, e Mezak, de Boa Sorte. A eles, juntou-se Dulce, aos seis meses de idade, quando os pais morreram e ela foi adotada por Gelber e Therezinha. O patriarca Gelber faleceu em agosto de 2007.

Quem nos atendeu foi o Mezak, que cuida do Museu Hemyr Gil Caetano, além da Almek Center e da empresa dele, com sede em Itaocara, relativa à venda de casas pré-fabricadas. Fomos visitar o Museu, novamente, agora guiados pela Bia (Beatriz), ao lado do curador desse espaço cultural, único no município de Cantagalo.

Ali encontramos uma síntese ilustrada da família. Quem nos conta essa história de vida é o próprio Mezak.

Almek: uma história de vidaDesde criança, Gelber falava que, quando entrava em uma venda ou armazém, ficava encantado com os odores que sentia no ambiente. Era uma atração irresistível. E sonhava um dia ter uma venda daquele tipo.

Já adulto, saindo de Itaocara para a vila Boa Sorte, parou em Chave do Pires, em uma venda. O dono do estabelecimento, idoso, chorou as mágoas com ele. Disse que estava velho e cansado e que os filhos não tinham interesse em continuar no ramo de negócio da família. Perguntou a Gelber se ele não gostaria de assumir o armazém. Foi pensar e, após a anuência da esposa, Therezinha, fechou o negócio. Uns três anos depois, indo à vila de Boa Sorte, com o objetivo de expandir os negócios, aconteceu evento similar com os donos do armazém local, Mauri e Jamil. De novo aceitou o desafio e assumiu o armazém. Tudo isso no final da década de 60. A filosofia do comerciante Gelber era de que nenhum freguês, termo mais usado à época, podia sair da loja insatisfeito por não encontrar o que almejava. Às vezes, vindo de longe… Não podia voltar com as “mãos abanando”. O armazém passou a ter um estoque bastante diversificado, de alça de caixão, ratoeira e utensílios aos alimentos.

Na fase de transição, com os filhos adultos, Alandark e Mezak criaram uma firma de material de construção, nos fundos do armazém, por volta de 1996. Tempos depois, com os pais já idosos, Alandark e Mezak lhes fizeram uma proposta. Assumiriam o armazém, dando aos pais proventos de aposentadoria. Com isso, Gelber e Terezinha voltaram para a roça, agora para desfrutarem a paz dos campos. No lugar do armazém, Alandark e Mezak construíram a loja da Almek, uma junção aleatória de parte desses dois nomes – ALandarK e MEzaK. Inicialmente, três andares, mais tarde o quarto andar.

A Almek Center atua nas áreas de construção, reformas e decoração, em uma moderna área de dois mil metros quadrados. O espaço reúne marcas famosas, com itens exclusivos, materiais de primeira linha e um atendimento que encanta o cliente, por nós constatado in loco.

Pensaram, ao criarem o quarto andar, em um espaço dedicado a algo novo, sem necessariamente qualquer ligação evidente com o comércio. Fizeram um concurso entre os funcionários. A melhor sugestão seria premiada com um aparelho de DVD, um desejo de consumo da época. Venceu o concurso uma simples jovem, que atuava nos serviços gerais, Nívea Aguiar, tempos depois promovida a gerente, cargo que ocupa até hoje. Ela sugeriu que, nesse espaço, deveria ter uma parede com a história da família de Gelber e Therezinha.

 

Parede do Museu em que é contada a história da Família Gualberto/Couto, ilustrada com fotos.
Parede do Museu em que é contada a história da Família Gualberto/Couto, ilustrada com fotos.

 

Alandark e Mezak tiveram a ideia de que, além dessa informação, ilustrada com fotos, haveria outros documentos. Assim, criaram o Museu Hemyr Gil Caetano, em homenagem a uma personalidade local. Ele tinha sido um dedicado farmacêutico do distrito de Boa Sorte. Mezak disse que ele e as demais crianças da vila fugiam de “seu” Mirim, apelido do farmacêutico “como o diabo da cruz”, por causa das injeções. No Museu, esses instrumentos “de tortura” estãos preservados. Naqueles tempos, as agulhas eram mais grossas e o artefato e a agulha eram os mesmos para todos. Não havia aparelho e agulha descartáveis.

Conhecendo uma filha de escravos da Fazenda de Areias, Sebastiana, com os seus cem anos de vida, Mezak procurou saber das estórias desse período, o que ccontribuiu em muito para a riqueza de detalhes da época, uma das seções do Museu. Outros documentos, fotos e equipamentos, como um piano, foram garimpados na região do distrito de Boa Sorte.

Estrada da Fazenda Santa Rita e ruínas da senzala
Estrada da Fazenda Santa Rita e ruínas da senzala

Conhecendo melhor as riquezas naturais e as fazendas localizadas em Boa Sorte, Mezak teve a ideia, com o irmão Alandark, de promover o evento turístico-cultural “Caminhos do Imperador”.

Na Fazenda de Areias, hospedava-se o Imperador do Brasil, Isabel – a Redentora – e outros membros da realeza ou da elite luso-brasileira. Lá existe uma jabuticabeira, plantada pela princesa Isabel, e que, dizem, dá frutos até hoje. Em um pedaço de rocha que tinha a forma de um chapéu gigante, onde o Imperador esqueceu o seu chapéu, após uma sesta: ela tornou-se a Pedra do Chapéu, como ficou batizada. Mezak conhecia uma comunidade quilombola, constituída por descendentes dos escravos africanos, a Vila Areinhas, e a Fazenda Santa Rita, com ruínas de senzalas, em que se abrigaram mais de 300 escravos. Juntando esses elementos, a Almek criou os “Caminhos do Imperador”, um evento turístico de sucesso, interrompido nos anos de 2020 e 2021 por causa da pandemia provocada pelo vírus chinês. Neste 2022, Mezak anuncia a volta do “Caminhos do Imperador”, a partir do próximo mês de maio, com o primeiro grupo, de Nova Friburgo, já fechado. E o evento vai prosseguir. Quem se interessar basta entrar no https://www.almek.com.br/ e preencher o formulário com os dados solicitados.

Angela, minha esposa, conta como foi a sua experiência nos “Caminhos do Imperador”, em 2016. É ela que nos conta essa vivência turística:

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

Os turistas se encantavam na comunidade quilombola da Vila Areinhas, onde lhes era servido um almoço típico da vida das fazendas antigas, onde os escravos eram destaque e cozinhavam no fogão a lenha: que delícia o angu, a canjiquinha, a costelinha de porco, a couve… E na Fazenda Santa Rita, que era administrada pelo Dr. Fernando Queiroz, havia um farto café colonial, cheio de delícias e na qual podíamos ver as ruínas de senzalas, onde viviam os escravos. E na curva do peão… nossa! Ouvíamos uma estória de arrepiar. Essas são muitas das aventuras vividas naqueles Caminhos do Imperador”.

Estamos em 2022, tempos de garimparmos memórias e construirmos história, com ênfase para o trabalho do Instituto Mão de Luva e de pioneiros, como os irmãos Alandark e Mezak, uma relíquia de Boa Sorte.

Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

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