Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Granada, tierra soñada por mi
mi cantar se vuelve gitano
cuando es para ti
mi cantar hecho de fantasia
mi cantar, flor de melancolia
que you te vengo a dar.¹
Melancolia da terra natal: Cantagalo, distante, no interior fluminense. Era, talvez, o sentimento de Américo Castro, um cantagalense que brilhou na Espanha, de Granada para o mundo culto. A sua visita a Cantagalo, em 1946, deve ter amenizado a saudade da terrinha serrana.
No último dia 3 de dezembro, a Câmara Municipal de Cantagalo promoveu a 4ª Conferência da Cidade, uma criação do ex-vereador, professor, pesquisador e historiador João Bosco, um legítimo cantagalense, que honra a nossa terra. A 4ª Conferência contou com a iniciativa e participação do vereador Matheus Lucas de Arruda Câmara e do professor e pesquisador Wesley da Silva Gonçalves diretor do Centro de Memória, Pesquisa e Documentação do CEDERJ/Cantagalo. A solenidade foi presidida pelo vereador Ciro Fernandes Pinto. O palestrante, Pablo Gonzalez Velasco, é professor e pesquisador da Universidad de Salamanca— USAL (https://www.usal.es/), Espanha. É a mais antiga universidade espanhola e a quarta fundada na Europa, posterior somente às universidades de Bolonha (Itália), Oxford (Inglaterra) e Paris (França).
“Saudades de Cantagalo: nuevos datos sobre la desconocida biografía brasileña de Américo Castro”² foi o título da conferência de Pablo Gonzalvez Velasco. A investigação realizada pelo pesquisador tem por base o trabalho do cantagalense Edmo Rodrigues Lutterbach, além de publicações em periódicos brasileiros e do livro Um señor que lhegó del Brasil, de Salvador Bernabéu.
Américo Castro é pouco conhecido em Cantagalo. Algumas pessoas, como João Bosco e outros pesquisadores, conhecem a história desse cantagalense que brilhou na Europa e na América do Norte.
Ele nasceu em Cantagalo, em 4 de maio de 1885, filho de Carmen Quezada Gálvez e de Antonio de Castro Pérez, espanhóis radicados em Cantagalo, oriundos de Granada. Foi batizado na Igreja do Santíssimo Sacramento, em 14 de junho do mesmo ano. Américo nasceu em uma casa situada na Rua Mão Luva, mais tarde Getúlio Vargas e av. Barão de Cantagalo. Segundo pesquisa de Edmo Lutterbach, o pai de Américo era “importante negociante” na cidade de Cantagalo, dono do Bazar Hespanhol, localizado na mesma rua Mão de Luva, número 22.
Américo Castro tinha Cantagalo em um recanto muito especial em sua vida. A sua visita à nossa terra, em 1946, é registrada fartamente por periódicos brasileiros da época. Aqui foi recebido por seu amigo, Edmo Lutterbach. Vale a pena resgatar esse curto período da história emocional de nosso conterrâneo. Vou investir um tempo nesse objetivo.
Segundo o conferencista, Américo viajou com seus pais para Granada com quatro anos de idade.
Pablo Velasco realizou detalhada pesquisa sobre o cantagalense Américo Castro. Usou fontes diversas, brasileiras e espanholas. Registra em sua dissertação de mestrado que Américo Castro foi embaixador da Espanha na Alemanha, membro da Associación Unión Iberoamericana e da criação da Escuela de Madrid, historiador da cultura e literatura, filólogo, antropólogo, professor da Universidade de Princeton (New Jersey, EUA) e estudioso da obra de Cervantes. Discípulo de Ramón Menéndez Pidal, criador da escola filológica espanhola; grande reabilitador do património andaluz (hispano-muçulmano e hispano-judeu) e da identidade granadina; reconhecido mundialmente pelas mais conceituadas universidades da Europa, Estados Unidos e América Latina.
Castro teve, entre seus amigos, Federico de Onís Sanchez — professor, filólogo e historiador hispanista, pertencente ao Novecentismo ou Geração de 1914. Gilberto Freyre — sociólogo, historiador e ensaísta — era um de seus amigos brasileiros. Julián Marías Aguilera, filósofo espanhol, considerado o principal discípulo de José Ortega y Gasset; diretor do “Semanário de Estudos de Humanidades”, membro da Real Academia Espanhola, da Real Academia de Belas-Artes e doutor honoris causa em Teologia pela Universidade Pontifícia de Salamanca. E arremata Pablo Velasco: “um ibérico universal”. Eu diria, como Edmo Lutterbach: “um cantagalense universal”. Com muita honra para a nossa terra.
Creio que Cantagalo deve a Américo Castro uma homenagem à altura de Euclides da Cunha. Os professores, pesquisadores e historiadores cantagalenses e fluminenses devem um tributo a Américo Castro. Edmo Lutterbach iniciou uma pesquisa sobre esse personagem ímpar em sua área de atuação, a partir de Cantagalo, Granada e alcançando os mais importantes círculos de filosofia e pesquisa do planeta. Mas há muito mais para ser pesquisado.
Cantinho da poeta Amélia Thomaz
Retrato de minha mãe
Numa visão peregrina
Pareceu-me ver um dia
A imagem da Mãe Divina
Na tua fotografia.
(Extraído do livro Alaúde (Cantagalo, RJ: Ed. Autor, 1954, p. 15))
¹ Agustin Lara, autor da letra e música de Granada.
² Disponível em: https://www.revistas.usp.br/reb/article/download/176526/163994/442235.
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.