“Amigos para sempre – 1”, por Celso Frauches

Amigos. Quem são; quais são?

Há alguns anos li um dos volumes do diário de Jules Renard (1864/1910), escritor francês do século XIX. Era considerado um “moralista amargo”. Daí uma frase infeliz ou amarga: “Não há amigos, apenas há momentos de amizade”. À época, voltei o pensamento para os amigos de então. Não tive só “momentos de amizade” com os amigos que tinha e tenho. Não concordei com o autor francês.

Em seguida, li alguns escritos de Francis Bacon (1561 – 1626), filósofo, escritor e político inglês do século XVII. Guardei uma de suas frases inspiradoras: “A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas”. Eu sentia e sinto as alegrias e tristezas dos amigos. Chutei Renard para fora do campo de meus escritores preferidos e fiquei, feliz da vida, com Bacon. Não o toucinho. Sou vegetariano.

 

Jules Renard (1864/1910) e Francis Bacon (1561-1626)

 

Agora, ao escrever este artigo fiz um “retrospreto” – ou retrospecto – da minha vida e dos meus amigos. Ainda tenho mais de uma dezena deles, aos 86 anos de uma vida de paz, trabalho e felicidade. Houve alguns percalços, mas poucos… Um presente de Deus. Um dos meus amigos do coração o chama de o “BARBUDO LÁ DE CIMA”… Sim, Deus. Trata-se do professor Paulo Cardim, Reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, uma amizade de mais de 25 anos. Veem-me à lembrança outro amigo de décadas, dr. Mauro Fecury, político maranhense, que ergueu um grupo de instituições de ensino superior no seu Estado, em Belém (PA), e no Distrito Federal, no qual ele foi prefeito (hoje seria governador). Dois amigos eternos.

Parei para pensar e, em segundos, identifiquei quatro amigos, desde sempre.

Vou ao Douglas (Douglas Frauches Alves), meu primo e amigo desde o seu nascimento, no povoado de Porto Marinho, no distrito de São Sebastião do Paraíba, de onde veio ao mundo em 6 de dezembro de 1936. Filho do casal Alice Frauches e Moacyr Alves, ele farmacêutico; ela minha tia, irmã de meu pai, Henrique. Cheguei um pouco antes, em 27 de outubro do mesmo ano. Ele, como eu, foi batizado na Capela desse aconchegante povoado. Porto Marinho hoje, graças a liderança do professor João Bosco, tem o arroz anã como um diferencial competitivo, além de um acolhedor restaurante típico.

O Douglas viveu no Porto Marinho até 1941. Seus pais mudaram para o Rio de Janeiro. Foram morar no então pacato bairro da Abolição. Pouco depois da mudança seu pai abandonou o lar e tia Alice foi trabalhar, como costureira que era, numa fábrica de roupas. Pegou tuberculose, mas com todo sacrifício deu educação no lar e na escola ao seu filho único, como eu. Douglas formou-se em Direito na Universidade Gama Filho. Ali foi professor de Direito Constitucional e de Direito Administrativo, até sua aposentadoria.

 

Douglas, a mãe Alice e Celso Frauches, em Cantagalo. (Foto de 1963)
Douglas, a mãe Alice e Celso Frauches, em Cantagalo. (Foto de 1963)

 

Foi meu colega, por 35 anos, na Assembleia Legislativa no Estado do Rio de Janeiro, antes, na capital Niterói e, depois da fusão com o Estado da Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro. O Douglas ocupou os mais diversos cargos na Alerj, terminando como consultor jurídico, o mais elevado de sua brilhante carreira. Eu o considero o meu marqueteiro. Ocupei os cargos mais elevados na Assembleia graças aos elogios e influência dele junto à Comissão Executiva.

Fora da Alerj, ocupou o cargo de procurador-geral da Prefeitura de Nilópolis.

Em Cantagalo, na eleição de 1966, foi o único candidato a vereador pelo nascente Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Não o MDB de hoje, um punhado de aproveitadores, cujo lema é “hay gobierno estoy a favor”. Lembrando. Em 1966, o país curtia uma ditadura, com apenas dois partidos políticos permitidos pelo Regime Militar: a Arena, de direita, e o MDB, de esquerda (Para que mais de dois?). Em Cantagalo, o MDB teve apenas um candidato à Câmara Municipal, naquele ano, exatamente o primo e amigo Douglas. Teve mais de quatrocentos votos, mas não se elegeu porque o MDB não conseguiu alcançar, com um único candidato, o quociente eleitoral necessário. A Arena elegeu todos os vereadores.

Douglas deixou sua esposa, Suely, e seus filhos, Ighor, Douglas e Thathiana, com aquele vazio emocional arrasador.

 

Suely, esposa, e os filhos de Douglas Frauches: Thathiana, Ighor e Douglas, em recente evento.
Suely, esposa, e os filhos de Douglas Frauches: Thathiana, Ighor e Douglas, em recente evento.

 

Eu e o Douglas estivemos unidos até a sua viagem de ida, nos idos de 2014. Sem volta. Foi uma perda triste. Estava em Brasília e corri para Niterói, onde foi sepultado. Que dor ver o meu amigo, que era indomável, ágil, irrequieto, um pai de três filhos amorosos e lindos, estar estirado, na horizontal, em um negócio chamado caixão, branquelo, sem o sorriso de sempre nos seus lábios, agora fechados. Foi muito triste. O Douglas era sempre alegria, onde quer que estivesse. Partiu deixando uma legião de amigos e fãs. Mas não saiu da minha vida. Continua morando do lado direito do meu coração. Eternamente.

Outros amigos vão brotar nos próximos artigos.

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

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