“Água do Toco: mistério e folclore”, por Celso Frauches

Após contemplar o melro de metal, logo atrás do busto do maestro Joaquim Naegele, segui adiante para, ao lado do Coreto, admirar o famoso “toco”, que jorra, ininterruptamente, dos campos de Cambucás. Uma placa – ÁGUA DO TOCO DO JARDIM – registra a homenagem da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Cantagalo, em 13 de junho de 2013, a todos os seresteiros e boêmios que, com suas vozes e violões, engrandeceram as madrugadas cantagalenses. A placa traz a veia poética de Nabih Mansur, personalidade sempre reverenciada em Cantagalo.

Em setembro de 1993, participei de um congresso nacional de educação, na cidade de Aracaju, capital de Sergipe, um pequeno estado nordestino, colado à Bahia. No primeiro dia, uma quinta-feira, foi oferecido pelos anfitriões um jantar em um dos clubes da cidade, à beira-mar. Cheguei na hora marcada. Não havia ninguém, além dos garçons e do grupo musical. Como sempre. Sentei-me a uma mesa e fiquei bebericando. Aos poucos, o salão foi sendo preenchido por outros participantes do evento. De repente, dois professores se sentaram na mesma mesa que eu. Fizemos as apresentações. Eu primeiro. E acentuei que, morando em Brasília, “ainda continuava cantagalense, natural da terra de Euclides da Cunha e da Rogéria”. Um dos professores falou: “Ah! A cidade do toco no jardim!”.

Praça dos Melros, em Cantagalo-RJ.
Praça dos Melros, em Cantagalo-RJ. Foto: Osmar Castro.

Não aguentei: “Puxa vida. Eu saio de Brasília, estou numa cidade que dista mais de dois mil quilômetros de Cantagalo e sou identificado como o homem que veio da cidade do toco”! Não me contive: “De onde Você é?”. “De Nova Friburgo, sou diretor da Faculdade de Odontologia”. Rimos a valer e saudamos Cantagalo e Nova Friburgo.

A fama do toco ultrapassou Cantagalo, a região serrana e chegou a Aracaju. Impressionante. Inspiração de muitas histórias, verdadeiras ou não, que se juntaram ao folclore de Cantagalo e região.

O pesquisador João Bosco e outros pesquisadores de Cantagalo devem conhecer a real história do toco e de sua água milagrosa, mas mantêm o mistério.

Pensei que Nabih Mansur tivesse encontrado a real história da água do Toco. Não. Em seus versos, imortalizados na placa ao lado do Toco, apenas o cantar do poeta e boêmio, figura querida de nossa Cantagalo, em ÁGUA DO TOCO DO JARDIM:

Água que rola no toco do jardim
Pode me molhar.
Água que nasce lá do alto do cambucá
Pode me molhar.
Tem lindas palmeiras
Que enfeitam seu jardim
Onde seus melros
Vem cantar suas canções pra mim.
Isto é Cantagalo
Desde o alvorecer.
Isto é Cantagalo
Até o anoitecer.
Cantagalo foi e sempre será assim
Com esses boêmios
Em mesas de botequim.

Celso Frauches
Celso Frauches

Quais são os mistérios desse “toco”, que todos que visitam Cantagalo querem tirar uma foto “fingindo” que estão bebendo água? Não consegui identificar. O mistério continua.

Mas, ao lado, deparei-me com o Coreto, patrimônio Cultural de Cantagalo. E me lembrei da banda XV de Novembro e dos banquinhos em volta, preferido pelos namorados. Que saudades!

Na próxima semana vou continuar a “viagem” pela Praça João XXIII, o pulmão de Cantagalo.

PS: O Instituto Mão de Luva já está funcionando na Rua César Freijanes, 36, térreo, ao lado do Fórum. Venha nos conhecer, conversar, contar histórias. “Recordar é viver”. Tenho muito a aprender com os meus conterrâneos, em especial os interessados que têm história para contar. A TV MÃO DE LUVA registrará, para a posteridade, os depoimentos de quem tiver boa memória ou documentos que contribuam para atualizar a história do nosso município.

Celso Frauches é professor, escritor, pesquisador, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor Especialista em Legislação

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