“Euclides: um tesouro cantagalense”, por Celso Frauches

Continuo o meu passeio pela Praça João XXIII, o Jardim dos Melros ou o Jardim de Cantagalo, tendo na memória versos da poeta Amélia Thomaz, minha professora de língua e de literatura portuguesa, que recebi de presente da querida amiga Eny Chevrand Baptista:

Este grande amor que encerra
Todo bem que hoje propalo
Está vivo nesta terra
É o Jardim de Cantagalo

Paro diante da herma de Euclides da Cunha, erguida no Jardim de Cantagalo, em 1919, pelas generosas mãos do escultor Antonio Pitanga. Segundo a poeta Amélia Thomaz, em anotações registradas nos “arquivos implacáveis” da amiga Eny Baptista, o Dr. Sady Costa Vieira, jornalista atuante na cidade do Rio de Janeiro, autor do Hino de Cantagalo, e o Dr. Arthur Nunes da Silva ‒ escritor, jurista e poeta ‒ foram incansáveis no apoio e estímulo para que essa homenagem fosse concretizada.

Celso Frauches
Celso Frauches

Na Grécia antiga, as hermas eram usadas como símbolo de proteção em encruzilhadas, assim como para estabelecer limites territoriais de propriedades. Em algumas cidades, as hermas eram erguidas à frente das residências, a fim de “atrair a boa sorte”.

A herma de Euclides da Cunha assinala a sua importância na literatura e no jornalismo mundial e estabelece limites literários de um estilo ímpar do escritor, cantagalense de “boa cepa”. Com a aura de genialidade pode, ainda, “atrair a boa sorte” para a sua terra natal.

A herma de Euclides tem o mesmo destaque da do patrono da Praça ‒ Papa João XXIII. É imponente, altaneira, como é a obra desse cantagalense reverenciado, celebrado em São José do Rio Pardo (SP). A Casa de Euclides da Cunha, um anexo do Colégio Maria Zulmira Torres, foi “esquecida” pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. Está abandonada. E guarda uma relíquia. Infelizmente, os políticos, em geral, detestam a cultura e a educação. Um povo educado e senhor da sua cultura jamais será escravo, neste século 21.

Volto para Cantagalo, depois de sessenta anos, e encontro jovens, professores, pesquisadores envolvidos com Euclides e sua obra. Nos meus tempos de Cantagalo, a professora e poeta Amélia Thomaz era quem liderava esse movimento, com a sua altivez, lucidez e competência. Seus alunos tinham que ler Os Sertões. E Euclides estava na sua poesia e prosa, continuamente. É dela a letra do Hino a Euclides da Cunha, com música do compositor cantagalense, Joaquim Antonio Naegele.

Busto Euclides da Cunha - CantagaloTrago, para finalizar, os versos do hino, numa dupla homenagem: Euclides da Cunha e Amélia Thomaz:

À guarda de teu nome que fulgura
Como o sol tropical, num grande exemplo.
Teu gênio brilha na literatura
Numa obra majestosa como um templo.
Teus livros imortais são a mensagem
Da serra ao mar, do vale ao alcantil.
E a outros povos distantes leva a imagem
Da alma desconhecida do Brasil.
Chegaste sem alarde, mas teu nome
Ganhou da pátria o amor a aureolar-te.
‒ É um tesouro que o tempo não consome,
É o legado imortal de uma obra de Arte!

A herma é uma homenagem simbólica, muito significativa. O estudo da obra e do homem, porém, vai muito além do simbolismo.

Celso Frauches é professor, escritor, pesquisador, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor Especialista em Legislação

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