Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Depois que regressei, definitivamente, a Cantagalo, tenho passado, quase que diariamente, alguns momentos pelo jardim de Cantagalo, que tem o nome do Papa João XXIII, ato do prefeito Henrique Luiz Frauches.
Além de me sentar em bancos meus conhecidos da adolescência e juventude, passo alguns momentos ante os monumentos de personalidades que projetaram Cantagalo.
Um dos preferidos é o do maestro, compositor e jornalista Joaquim Naegele (1899/1986), nascido Joaquim Antônio Langsdorf Naegele, em 2 de junho de 1899, em Santa Rita do Rio Negro, hoje Euclidelândia. Fica na entrada da praça, em frente ao Cantagalo Turismo Hotel.
Suas composições, próprias para bandas de música, têm repercussão internacional. O dobrado Janjão, em homenagem a um cantagalense querido por todos, virou prefixo da BBC de Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. Mão de Luva, também sua composição, é prefixo do portal do Instituto Mão de Luva – www.maodeluva.net.br.
Desde criança estudou música. Foi aluno do famoso maestro Francisco Braga.
Na cidade do Rio de Janeiro, criou, em 1942, a Sociedade Musical Flor do Ritmo, no bairro da Piedade.
Personagens de relevância no cenário musical brasileiro iniciaram sua formação com o maestro Joaquim Naegele. Entre eles, destacam-se Bezerra da Silva, Elza Soares e Zeca Pagodinho.
Criou e dirigiu a Sociedade Musical Beneficente Campesina Friburguense, de Nova Friburgo (RJ), por vinte e cinco anos. Uma rival da Euterpe.
Era ligado a Cantagalo por laços de família, daí suas famosas composições, Janjão, Mão de Luva, Carlos Teixeira, Prefeito Wilder S. de Paula, José Naegele. Este um jornalista cantagalense de projeção nacional.
Exerceu o jornalismo em Miracema, no norte fluminense, e foi membro do Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. Em ambas funções saiu-se de forma brilhante.
A sua face político-ideológica é realçada em pesquisa de Daniel Daumas Borges, publicada sob o título Joaquim Naegele: a voz dos subalternos ressoando de uma banda de música em Nova Friburgo¹ (RJ), publicada na revista Debates (Rio de Janeiro: UNIRIO, n. 17, p.115-136, nov. 2016). Essa pesquisa é feita no bojo da dissertação de mestrado do autor, da Universidade do Rio de Janeiro (Unirio), mantida pelo governo federal na capital fluminense.
Borges levanta mais a face político-ideológica de Joaquim Naegele, como membro do Partido Comunista. Traça a trajetória da Nova Friburgo de fins do século XIX até a chegada de Naegele. Faz a narrativa da vida e atuação de Joaquim Naegele em Nova Friburgo, dos anos vinte até a repressão no Estado Novo.
Em suas considerações finais, Daniel Daumas Borges destaca a importância do maestro Joaquim Naegele para a Campesina Friburguense e, de maneira mais ampla, para a música de banda no Brasil, “como se atesta pelas recentes reedições de suas composições, feitas pela Funarte para distribuição às bandas do país, é inegável”.
O acervo musical e a batuta de Joaquim Naegele foram doados pela família ao maestro Affonso Gonçalves dos Reis, da Banda Musical do Colégio Salesiano Santa Rosa, de Niterói (RJ), que o acompanhou nos últimos tempos.
Joaquim Naegele foi um compositor, maestro, jornalista e ativista político em destaque entre as personalidades cantagalenses que contribuem para enriquecer nossa história.
Ando um pouco mais e me encontro diante de um melro de bronze, homenageado nos versos do poeta cantagalense Arthur Nunes da Silva. Mas esse é assunto para o próximo artigo.
Celso Frauches é professor, escritor, pesquisador, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor Especialista em Legislação
¹ Disponível em: <http://www.seer.unirio.br/index.php/revistadebates/article/view/6125>. Acesso em: 18 abr. 2021.
Extra:
Assista a Dobrado Mão de Luva, composição do maestro cantagalense Joaquim Naegele; execução Filarmônica de Jovens Músicos, de Cuité, PB.