“Mães”, por Dr Júlio Carvalho

Diz o povo: “mãe é uma só”. Concordo plenamente quando se refere à mãe biológica, àquela que depois da fecundação acolhe com muito amor a vida gerada no íntimo do seu corpo, que durante quarenta semanas guarda na sua cavidade uterina uma nova vida, oferecendo-lhe oxigênio e substâncias nutritivas que permitirão o seu crescimento saudável até o momento do nascimento.

Depois, cuida daquele ser frágil, protegendo-o do frio, fazendo sua higiene e oferecendo-lhe o seu primeiro alimento, o leite materno, imitado pela indústria, mas jamais igualado.

AmamentaçãoA seguir, ensina o filho a pronunciar as primeiras palavras e a caminhar com passos inseguros rumo as batalhas da vida. Filho que, para ela, mesmo depois de adulto, necessita sempre de apoio e de muito amor.

Essa, a mãe biológica, é única, capaz de conseguir resistência para passar noites seguidas sem dormir, acompanhando um filho doente, como muitas vezes tive a oportunidade de testemunhar no exercício de minha profissão nos hospitais em que trabalhei. São supermulheres, são heroínas, acima de tudo são mães!

A essas mães biológicas, verdadeiras, autênticas, nossa admiração, nossa veneração, nosso respeito e nosso amor eterno durante toda vida. Depois que partem para a eternidade, ficam a lembrança dos bons momentos vividos e a saudade imorredoura!

Além das mães biológicas, única para cada ser humano, existem outras profissões e atitudes que transformam mulheres em outras mães que encontramos no transcurso de nossa vida. Eu, por exemplo, tive a felicidade de conhecer algumas, das quais me lembro com muita saudade, respeito, gratidão e amor.

Quando o leite materno ficou insuficiente para minha alimentação, uma senhora afro-brasileira passou a me amamentar. Indo do bairro do Triângulo à rua Chapot Prevost, três vezes ao dia. Essa senhora formou, com seu esposo, um ferroviário, uma enorme e belíssima família: era um exemplo de amor à religião, ao trabalho e à família e faleceu com mais de noventa anos bem vividos. Seu nome era Da. Olívia Vicente, conhecida sempre em Cantagalo como Da. Olívia do Souza.

Creio que o desejo que sinto pelo trabalho e pela vida, apesar dos meus 86 anos, dela recebi através do seu leite.

Até hoje, todas as vezes que penetro no cemitério de nossa cidade, rendo-lhe uma homenagem e observo seu retrato sorrindo para a vida eterna.

Como meu irmão mais novo nasceu 21 meses depois de mim, fui cuidado, até os sete anos de idade, por uma jovem afro-brasileira, pessoa maravilhosamente educada e carinhosa, que jamais elevou a voz ou teve um ato de ameaça ou brutalidade para comigo. Um dia, a família resolveu se mudar para o Rio de Janeiro e ela partiu. Gostava tanto de crianças que conseguiu um trabalho no Hospital Jesus, onde terminou como auxiliar de enfermagem. Era uma autêntica mãe. Seu nome era Etelvina Moura, conhecida por todos como Telva.

Creio que por tudo que essas duas pessoas fizeram por mim, nos primeiros anos de minha vida, é que tanto admiro e sou grato aos afro-brasileiros, construtores da riqueza nacional.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

Chegado o momento de fazer o curso superior, parti para o Rio de Janeiro, indo morar na casa de minha madrinha de batismo, onde permaneci por oito anos. Fui tratado como um filho, nada me faltando. No dia da minha despedida, fui agradecer-lhe a hospitalidade e tudo que recebi naquele lar. Para surpresa, ela com olhar brilhante e voz embargada, disse-me “nós é que sentiremos muito a sua falta, por tudo que você fez aqui como estudante de medicina”.

Foi minha terceira mãe adotiva. Seu nome era Maria Rita Pinheiro de Andrade Figueira, santa criatura que conheci em minha vida!

Além dessas quatro mulheres acima citadas, como Católico, Apostólico, Romano, não posso deixar de citar a mais importante mulher que existe na face da terra, pois foi mãe do Salvador da humanidade. Um dia em Jerusalém, antes de entregar Seu Espírito ao Pai, Jesus disse à mãe: “Mulher, eis ai o teu filho!”. Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” (Jo.19,26). A partir daquele instante, Maria Santíssima passou a ser mãe de toda a humanidade, sendo minha quinta mãe. E seu reino um dia será vitorioso!

No próximo domingo, dia 09, estarei com o meu pensamento e orações voltados para elas e também para aquela que é a mãe de meus filhos no mundo em que habitamos. Que o dia seja abundante de paz, alegria e muito amor.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

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