Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Na semana passada escrevi sobre a grande escola e citei o mestre, todavia sinto ser necessário escrever algumas linhas sobre o mestre, a fim de que seu nome não desapareça na poeira do tempo, afinal um escritor brasileiro, certa vez, afirmou que um país é feito por homens e livros.
Sendo assim, resolvi escrever um pouco sobre a figura do senhor Walter Ferreira Tardin, homem que muito contribuiu para a construção do nosso município, pequena fração do grande Brasil.
Cantagalense do distrito de São Sebastião do Paraíba, onde nasceu do dia 02 de agosto de 1900, o senhor Walter Ferreira Tardin era o caldeamento de dois povos importantes para a história de nossa região: portugueses e suíços. Era o penúltimo membro de uma irmandade de oito filhos: seis homens e duas mulheres.
Quem o conheceu na maturidade e na velhice jamais poderia imaginar as dificuldades encontradas e vencidas nos primeiros anos de vida.
Aos cinco anos de idade, brincando com um irmão, sofreu um acidente perdendo a visão de um dos olhos. Aos oito anos fica órfão de mãe e o pai o leva para Campos, a fim de morar com a madrinha. Aos 12 anos perde o pai. Tantos acontecimentos trágicos no princípio da vida poderiam causar-lhe um abalo psicológico, capaz de inutilizá-lo por toda vida, mas o menino soube superá-los.
Tantos acontecimentos indesejáveis tornam a sua infância semelhante à do grande cantagalense Euclides da Cunha, que também soube superá-los.
Em Campos, já adolescente, é matriculado na Escola de Aprendizes Artífices de Campos, onde aprende as matérias básicas e a profissão de alfaiate, que mais tarde lhe seria muito útil, na confecção de capotas para os carros antigos, que eram recuperados em suas oficinas.
O início de sua vida adulta também foi pura dureza, trabalhava no armazém do seu irmão Antenor, sendo necessário cozinhar seus próprios alimentos. Depois, passou a trabalhar em uma padaria, onde levantava às quatro horas da madrugada e carregava sacos de farinha de trigo com 60 Kg.
Junto com seu irmão José, matriculou-se no Instituto Comercial de Campos, sendo diplomado em contabilidade em 1924, cabendo os dois primeiros lugares da turma aos dois irmãos cantagalenses.
A convite de seu irmão mais velho, Rodolfo Tardin, veio trabalhar em Cantagalo, como contador da firma A Erthal e Cia. Estabilizado, com emprego fixo, passou a namorar a jovem Euphrásia Erthal, com quem se casou em 06 de julho de 1926.
Procurado por um representante da Chevrolet, fundou a firma “Erthal & Tardin”, representando a General Motors em vasta área do estado do Rio de Janeiro, dizem que de Nova Friburgo a São Fidelis. Era o início do sucesso empresarial, em 1927.
Dois anos depois, vendeu sua parte para o sócio, fundando com seu irmão Rodolfo Tardin, a firma Walter Tardin & Cia, que existiu em Cantagalo durante meio século e que foi motivo do artigo anterior “A grande escola”.
Na década de 40, fundou a firma Cinevox do Brasil & Cia, tendo como sócios Walter Bom Leite e Levy Ferreira, com sede no Rio de Janeiro e filial em Cantagalo. Em 1947, criou na cidade do Rio de Janeiro, tendo como sócio o Dr. Alberto Sabbá, a empresa Mercantil Auto Elétrica Ltda.
Desejando mais progresso, criou a primeira linha de ônibus ligando Cantagalo a Nova Friburgo, na época em que as estradas eram de chão, com lama do verão e poeira no inverno. Lembro-me da pontualidade do ônibus, saia de Cantagalo no início da manhã, retornando por volta das 17h00. O veículo chegava sujo, mas no dia seguinte partia limpo. Seu piloto era o Pernambuco, sempre educado e sorridente.
Já com alguma idade, 64 anos, fundou em Cordeiro a empresa Waltar Ltda., representante da Volkswagen em nossa região.
Foi um dos fundadores do Banco Agrícola de Cantagalo, sendo por mais de dez anos o secretário da diretoria.
Apesar da intensa atividade empresarial, Walter Tardin ainda conseguia tempo para trabalho na esfera social de Cantagalo. Foi presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Cantagalo por mais de uma vez e da Sociedade Musical XV de Novembro, sendo que os instrumentos metálicos danificados eram recuperados na sua oficina mecânica graciosamente.
Era apolítico, não se filiando a agremiações partidárias, mas ocupou alguns cargos públicos sem remuneração: foi Suplente de Juiz de Direito de Cantagalo por duas vezes e Suplente de Delegado da 19ª Região Policial do RJ.
Orientado por sua esposa, Sra. Euphrásia Erthal Tardin, foi um católico praticante, sendo membro da Congregação Mariana da Paróquia do Santíssimo Sacramento de Cantagalo.
Mais importante que as empresas por ele criadas, foi a família que ele e a esposa formaram, constituída por oito filhos, quatro casais, criados dentro das normas de respeito e amor. A grande herança deixada para os filhos foi a honradez e o amor ao trabalho.
Walter Ferreira Tardin foi um criador de empresas e um semeador de empregos em Cantagalo e região. A municipalidade cantagalense tem uma dívida com ele, eternizar o seu nome em algum local público de Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.