Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Nos Estados Unidos, no estado da Virgínia, existe um gigantesco monumento com seis marines espetando o mastro da bandeira norte americano no solo da ilha Iwo Jima, simbolizando a vitória sobre os japoneses na pequena ilha do Pacífico, numa batalha duríssima que durou 36 dias para ser decidida, que custou milhares de vidas, sem falar nos feridos, em número muito maior.
Um curioso norte-americano resolveu fazer uma pesquisa, a partir da fotografia original, chegando à conclusão que aquela meia dúzia de pretensos heróis não participaram das lutas, permanecendo na parte posterior de uma barcaça com a função de conduzir e hastear a bandeira no ponto mais alto da ilha quando ocorresse a vitória.
Em 08/05/2000, o prefeito Wilder Sebastião de Paula, em justíssima homenagem aos cantagalenses que lutaram na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial, inaugurou um monumento na entrada da cidade, na praça Zilda Estorani Guzzo. Monumento simples, em granito, mostrando a dureza que nossos patrícios encontraram na Europa, frio intenso, terreno montanhoso e o inimigo bem armado, ocupando pontos estratégicos em terreno elevado.
Na pedra, inaugurada em 2000, não existe nome de nenhum combatente. Encontram-se os seguintes dizeres:
“…E eles lutaram contra as armas mais inimigas, contra as ciladas armadas, contra as posições privilegiadas dos inimigos, contra o poder de um grande império. E vocês estavam entre eles. Todos nossos ex-combatentes foram bravos. Todos são heróis.”
(Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves)
Aos pracinhas, as homenagens do governo e do povo de Cantagalo.
Todos que lutaram na Itália estavam homenageados anonimamente.
O único nome na pedra é o da saudosa e querida professora, considerada madrinha dos expedicionários cantagalenses, por seu apoio aos mesmos durante e após o grande conflito mundial, que ceifou milhões de vidas em todo mundo, destruindo famílias em todos os continentes.
No número 1.573 do Jornal da Região, leio a notícia de que a Prefeitura Municipal de Cantagalo, através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, no último dia 08, comemorando os 76 anos do término da guerra, havia colocado os nomes dos “15 bravos guerreiros que participaram da Vitória na Segunda Grande Guerra”.
Levado pela curiosidade e querendo prestar homenagem aos conterrâneos, no dia 18, compareci ao local, voltando de lá com um misto de tristeza, decepção e amargura no espírito. Chego na minha residência, procuro no meu arquivo e encontro a lista autêntica, conseguida junto a minha Profa. Maria de Lourdes. Minha decepção aumenta ao extremo.
Não são 15 nomes, como está na placa colocada, são 31 cantagalenses que atravessaram o Atlântico para lutar pela sobrevivência da democracia. Faltam 17 nomes dos verdadeiros heróis. Não estou cometendo erro de matemática!
Não nomearei todos os Esquecidos para não me alongar, mas darei cópia da lista autêntica à Prefeitura, se quiserem corrigir o grave e crasso erro cometido. Citarei apenas alguns casos dos ausentes.
01 – Arlindo Alcântara – Participou como membro dos grupos de socorro aos feridos. Era farmacêutico e, ao retornar da guerra, abriu uma farmácia em Cantagalo. Tinha boa experiência em primeiros socorros e ajudava meu pai, médico, em várias situações de acidentes e de partos. Depois, transferiu a farmácia para Niterói, sendo um ponto de referência para os cantagalenses lá residentes.
02 – José Raymundo – Afro-brasileiro educadíssimo, muito jovem era o ponta direita do Ferroviário F.C., quando foi convocado para a guerra. Ao retornar, casou-se com outra excelente cantagalense, Hilda da Silva. No Rio de Janeiro, trabalhava na loja da Kodak, no Campo de São Cristóvão, residindo no Parque Proletário, no mesmo bairro. Depois comprou um apartamento na rua Lins de Vasconcellos, onde residiu até o falecimento. Quando estudante de medicina, frequentei muito a casa desse casal maravilhoso!
03 – Odyr Joaquim Figueira – Era filho de José Joaquim Figueira e Roma Santelli Figueira, vizinhos de meus pais. Retornando da guerra, casou-se com Edna Pinkuzs. Trabalhando e morando no Rio de Janeiro.
A respeito desse cantagalense ocorreu um fato interessante: algum tempo depois do final da guerra, chegou uma carta da Itália no endereço dos pais. Dona Roma pensou logo: “será que o Didi arranjou algum filho na Itália?”.
Pressurosa, levou a carta para ser lida pelo Padre Crescêncio Lanciotti, que era italiano. Retornou da igreja feliz e sorridente, pois não era a notícia de um neto, mas o agradecimento de uma família italiana pelo apoio recebido do Odyr Figueira (Didi) durante a campanha da Itália. Era comum o entrosamento de brasileiros com italianos. Todos latinos!
04 – Antônio Simões Lacerda – Retornando do conflito mundial, casou-se com outra cantagalense, Therezinha Monteiro. Morava em Niterói, onde era proprietário de uma loja de peças para automóveis, no bairro São Lourenço. Era outro ponto de referência para os cantagalenses residentes na antiga capital do nosso estado.
05 – Miguel Marotti Cabral – Cantagalense nascido em Cordeiro, na época nosso 2º distrito, ferido e morto em combate. Seus restos mortais se encontram no Monumento aos Mortos da 2ª Guerra Mundial, no Rio de Janeiro.
Há muitos anos, por iniciativa do advogado cantagalense Dr. Ary Pinheiro de Andrade Figueira, que durante muitos anos manteve seu escritório na rua do Rosário, nº 107, 3º andar, com a colaboração financeira de muitos cantagalenses, foi construída um grande monumento em forma de pira, homenageando os expedicionários cantagalenses que lutaram na Itália.
Infelizmente, chegando a Cantagalo, o poder público não deu a menor importância ao monumento, que permaneceu por vários anos abandonado em um porão. Depois de muito esperar, a comissão organizadora resolveu inaugurá-lo em Cordeiro, na avenida Raul Veiga.
Na 2ª Guerra Mundial, perdemos 450 soldados, 13 oficiais, 08 pilotos e 1.801 brasileiros falecidos nos 34 navios mercantes torpedeados pelos submarinos nazistas antes e durante a guerra. Além dos 12.000 feridos em combate.
Outro cantagalense que merecia ter seu nome imortalizado no granito da cidade é Paulo Francisco Torres, que participou da FEB como major, terminando sua vida militar no mais elevado posto de marechal. Como político, foi governador do Acre e do estado do Rio de Janeiro, além de inúmeros cargos que ocupou e funções que exerceu durante sua vida pública, conforme narrado em artigo pelo saudoso amigo Dr. Edmo Rodrigues Lutterbach, em revista da Academia de Letras do Rio de Janeiro.
Perguntarão alguns: que semelhança existe entre o monumento norte americano aos marines e a placa de Cantagalo aos pracinhas? Respondo: os que possuem olhos e conhecem a história verão!
Finalmente, faço um apelo ao Senhor Prefeito de Cantagalo, meu querido sobrinho: mande retirar a placa injusta e incorreta, faça uma correta (minha relação está à disposição) e a recoloque, fazendo justiça aos que lutaram, aos que foram feridos gravemente, como Virgílio Augusto Gomes e ao que morreu, Miguel Marotti Cabral.
Façamos justiça!
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.