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Volto a andar um pouco pelo jardim de Cantagalo e, logo depois do busto do maestro cantagalense Joaquim Naegele, vejo diante de mim um melro de metal, homenageado nos versos do poeta cantagalense Arthur Nunes da Silva:
“Minha terra tem palmeiras
Em cujos seios macios
Manhãs e tardes inteiras
Cantam melros luzidios.”
As palmeiras continuam, charmosas, destacando-se do arvoredo da Praça João XXIII.
Os melros foram expulsos pela chamada civilização urbana. Jamais voltarão, luzidios, a cantar nas manhãs e tardes inteiras. Todavia, os melros têm cantos que se acomodam, gentis, em nossa memória afetiva. Transportam-nos para os tempos em que cantavam, luzidios, nos jardins da Praça. E paramos, enlevados, nos versos do poeta.
Esses versos, ao lado de muitos outros, do poema Minha Terra, foram transformados no Hino de Cantagalo, oficializado pela Prefeitura. Advogado, professor de Direito e membro da Academia Fluminense de Letras, Arthur Nunes não se esqueceu de louvar as belas patrícias (grafia original):
“As minhas bellas patrícias
Afinam, lindas, faceiras,
No gemer das cachoeiras
As suas vozes subtis.”
Mas os melros não estão somente no Hino de Cantagalo. Na trova Sol de Ocaso, os versos continuam cantando esse poético pássaro preto:
“O dulçor que enleva tanto,
que todo meu verso encerra,
é inspirado no canto
dos melros de minha terra.”
Em Canto do Cisne, uma das suas muitas trovas, Arthur Nunes retorna ao canto dos melros:
“Ouço uma orquestra vibrando
Numa harmonia sem fim,
São melros que estão cantando
Nas palmeiras do jardim.”
Arthur Nunes da Silva nasceu em Cantagalo (RJ), em 9 de março de 1874. Faleceu em 18 de novembro de 1964, o ano da famosa “redentora”, ou movimento militar, ou ditatura militar, ou regime militar. Cada leitor adota a alcunha que desejar. Publicou quinze livros de poesias, quatro romances, duas peças de teatro e quatro livros sobre o Direito, sua área profissional, como fundador e professor da “Faculdade de Direito de Nictheroy”, que, mais tarde, passou a integrar a Universidade Federal Fluminense (UFF).
A professora e poeta Amélia Thomaz, em seu livro “Gente da Casa de Mão de Luva”, editado em 1978, pela Tipocan, revela que o próprio Arthur Nunes erigiu às suas expensas o monumento aos melros, inaugurado no mesmo dia da herma de Euclides da Cunha, na Praça João XXIII. Segundo ela, “esse monumento foi destruído por mãos vandálicas, hoje substituído por outro de metal, sem a leveza do primitivo”.
Ao contemplar o melro de metal, logo atrás do busto do maestro Joaquim Naegele, vejo, mais distante, ao lado do Coreto, o famoso “toco”, que jorra ininterruptamente, tendo ao lado uma placa. Quais são os mistérios desse “toco”, que todos que visitam Cantagalo querem tirar uma foto, “fingindo” que estão bebendo a água. Eu descobri um pouco dessa história em um evento educacional, em Aracaju (SE), em 1993. Mas esse é assunto para o próximo artigo.
Celso Frauches é professor, escritor, pesquisador, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor Especialista em Legislação