“Passeio pela Praça João XXIII”, por Celso Frauches

Vou pelo jardim tão amado
A juventude logo aflora
Ah, o perfume do passado
Insiste, não vai embora!

Que vejo eu neste passeio tão histórico, tão nostálgico, tão pessoal?

Em frente ao Toco, com o seu filete de água, vejo o Coreto e o busto em metal do professor Manoel Vieira Batista, patrono da minha turma de conclusão do curso científico, no Colégio Euclides da Cunha, em 1954.

O Coreto foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico – Inepac – como patrimônio histórico, em 1985, por sua importância cultural para Cantagalo.

Recorro ao Inepac para conhecer melhor a obra arquitetônica: “Construção romântica, de planta octogonal, possui o embasamento, o guarda-corpo, a escada e os pilares moldados em concreto, imitando formas vegetais. Nos oito lados do embasamento, foram apostos oito animais aquáticos, estilizados em cimento, dos quais jorra água para o pequeno lago que cerca o Coreto”.

Este coreto foi palco de muitas histórias e acontecimentos.

O Coreto foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico - Inepac – como patrimônio histórico, em 1985
O Coreto foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico – Inepac – como patrimônio histórico, em 1985

A construção, criada em 1920, tem estilo romântico. Tão romântico que reunia em seu entorno, nos bancos da praça, os namorados, em tempos sem televisão. No Coreto, a Sociedade Musical XV de Novembro dava show com os seus dobrados: Janjão, Mão de Luva, José Naegele, Rio Quatrocentão e muitos outros. Era palco também de solenidades religiosas, políticas, culturais. O Coreto de Cantagalo marcou a minha adolescência e juventude, em todos os sentidos. Como deve ter sido o berço de muitos amores, nascidos ou terminados. Aqueles bancos devem guardar o segredo de muitos romances. Início, meio e… casamento ou início, meio e fim. Guardaram alegrias, sorrisos, lágrimas. Ali só conheci felicidade. Boas e inolvidáveis emoções.

Ao lado, encontro o busto do professor Manoel Vieira Batista (1888/1975). Criador e diretor do Colégio Euclides da Cunha, nos anos 40, que funcionava no Palacete do Gavião. Meu pai, Henrique Luiz Frauches, fez ali o seu curso primário ‒ anos iniciais do ensino fundamental, aos quinze anos de idade. Muito mais tarde, foi aluno do professor Batista no Ginasial e no Curso Técnico em Contabilidade, no renovado Colégio Euclides da Cunha, que funcionava onde hoje é a agência do Banco do Brasil, ao lado do Cantagalo Turismo Hotel.
O professor Batista era natural de Bom Jardim, casado com Guiomar Cecília Combat. Tiveram seis filhos.

Era um multiprofessor. Dominava diversas disciplinas: Português, Francês, Matemática, História, Ciências, Latim, Sociologia, Contabilidade. Começou em Bom Jardim, depois Cordeiro e, finalmente, Cantagalo, onde passou a residir. Lecionou no Ginásio e, depois, no Colégio Euclides da Cunha e na Escola Normal de Cantagalo.

Celso Frauches
Celso Frauches

Guardo boas recordações do professor Batista, na década de 50, quando concluí o ginasial e, depois, o curso Científico. Na minha turma, no ginasial, havia alguns brincalhões, como em todas as turmas. O professor Batista detestava futebol. Quando a aula estava um pouco monótona, provocavam-no com observações ou perguntas deste tipo: “Professor, o senhor leu que o Didi, do Fluminense, passou a ganhar milhões de cruzeiros” (a moeda da época, símbolo Cr$)? O professor Batista ficava uma fera, comparando os salários dos professores com os dos craques de futebol da época. Se o professor estivesse vivo, ele ficaria com mais raiva dos salários dos craques de hoje, em Libra, Dólar ou Euro.

Todavia, o mais incrível na vida desse educador de raiz, era a sua generosidade ao ensinar, a paciência que tinha com os que apresentavam mais dificuldades na classe. É um professor inesquecível, de uma época que não volta mais.

Mas a Praça João XXIII tem muito mais para se ver, sentir e meditar. As suas palmeiras, árvores da Mata Atlântica, flores, os bancos. O Coreto não é mais o centro de lazer e diversão. Algumas crianças andam em volta dele, para curtir os peixes coloridos. E só. Que saudades das retretas da Sociedade Musical XV de Novembro. Todos ficavam em torno do coreto ou nos bancos em sua volta e em volta do busto de João XXIII, naquele espaço que outrora foi conhecido como Senadinho.

E por falar no Papa João XXIII, tenho algumas notas guardadas sobre ele. Mas isso será assunto da próxima edição, sem sair de nosso romântico jardim:

Nos bancos deste jardim
Ah, meu Deus, quanta história…
Amores, sonhos sem fim
Relíquias de nossa memória!

Ah! Os versos, inéditos, são da poeta cantagalense Angela Araújo de Souza.

Celso Frauches é professor, escritor, pesquisador, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor Especialista em Legislação

Ver anterior

Campanha Vacinação Solidária arrecada alimentos em Cordeiro

Ver próximo

Fiperj recebe duas mil matrizes de tilápias provenientes do Paraná

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Populares

error: Conteúdo protegido !!